Com a queda do Muro de Berlim, e antevendo o fim da União Soviética, a esquerda latina percebeu que precisava atualizar o discurso ou não iria adiante defendendo um sistema que – o mundo acabava de conferir – falia nações inteiras e levava a população ao caos. Assim sendo, em julho de 1990, atendendo a um convite do PT, reuniu-se em São Paulo com 48 partidos e organizações para traçar um plano de ação regional. No ano seguinte, já sob o nome de “Foro de São Paulo”, faria um novo encontro na Cidade do México, desta vez com 68 organizações e partidos de 22 países.
As primeiras ressalvas pintaram ainda nos anos 1990, e se focavam na participação de grupos criticados por ações terroristas, como as FARC e o MST. Mas a submissão de soberanias nacionais aos interesses de uma organização continental, com interferências por vezes explícitas em disputas eleitorais, sempre soou problema maior. O que alimentou teorias e mais teorias conspiratórias que nunca foram devidamente refutadas.
Com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, e a eleição de Mauricio Macri no ano anterior, o grupo perdeu seus maiores trunfos. Mas, ao que tudo indica, segue longe do fim. Em 2017, possui representantes no comando de ao menos dez nações latinas:
- Bolívia – Evo Morales
- Chile – Michelle Bachelet
- Cuba – Raúl Castro
- Dominica – Roosevelt Skerrit
- República Dominicana – Danilo Medina
- Equador – Rafael Correa
- El Salvador – Salvador Sánchez Cerén
- Nicarágua – Daniel Ortega
- Uruguai – Tabaré Vázquez
- Venezuela – Nicolás Maduro
Mesmo na oposição, os membros brasileiros contemplam a maior coleção de partidos em um único país. A saber:
- Partido dos Trabalhadores
- Partido Comunista do Brasil
- Partido Democrático Trabalhista
- Partido Comunista Brasileiro
- Partido Socialista Brasileiro
- Partido Popular Socialista
- Partido Pátria Livre
Dono da iniciativa, o PT jamais escondeu as colaborações com o grupo, ainda que alguns defensores insistam que tudo não passa de alucinação dos teóricos da conspiração. Entre 2009 e 2017, por exemplo, o perfil oficial da sigla citou o encontro em ao menos 51 oportunidades. Na mais recente participação, a presidente Gleisi Hoffmann deixou claro alguns posicionamentos: insistiu que Lula foi condenado sem provas; chamou de golpe o impeachment de Dilma; declarou apoio ao ditador Nicolás Maduro; defendeu que a crise econômica internacional de 2008 ainda não acabou; reclamou do bloqueio econômico de Donald Trump a Cuba e comemorou o centenário da Revolução Russa de 1917, além de homenager Che Guevara nos parágrafos finais.
O mais importante, contudo: não escondeu a atuação em bloco do Foro, em especial no Brasil e na Argentina.
“Apesar do revés eleitoral que sofremos na Argentina e o golpe parlamentar no Brasil, os principais partidos membros do Foro de São Paulo estão retomando a ofensiva política diante dos atuais governantes da direita nestes dois países com a perspectiva de voltar a governa-los no curto prazo. (…) Tenho certeza que as discussões realizadas neste 23º Encontro pelos partidos membros do Foro de São Paulo contribuirão para a implementação de uma política de desenvolvimento para a América Latina e Caribe. (…) Para isto, chegamos a um grande acordo que se traduziu na concretização de uma ampla plataforma programática e de ação: o ‘Consenso de Nossa América'”.
Como coerência não é o forte, chegou a pregar também a “não ingerência externa“. Mas basta observar as ações dos envolvidos para ter certeza do trecho em que falava a verdade.
Fonte: Implicante