Por Ricardo Noblat
Com um intervalo de poucas horas entre uma ocasião e outra, Lula, ontem, falou bem e falou mal de Dilma.
Falou bem no discurso que fez para sindicalistas e militantes do PT no Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Falou mal no mesmo lugar ao se reunir um pouco antes com um grupo pequeno de seguidores mais ou menos fiéis.
Foi um deles, autorizado pelo próprio Lula, quem saiu dizendo que ele falara mal de Dilma.
Ingrato, esse Lula!
Falar mal de Dilma logo agora que ela cedeu aos seus apelos e nomeou para o Ministério da Educação e para a Secretaria de Comunicação nomes indicados por ele...
Lula envelheceu. E junto com ele seu discurso e seus truques. Aparentemente, ele não se dá conta disso.
Um truque: defendeu a Petrobras, que está sendo atacada por seus inimigos, inimigos do Brasil.
Ora, foi ele que nomeou diretores da empresa que passaram a roubar tão logo assumiram seus cargos. Nos 12 anos de governos do PT, a Petrobras foi dilapidada e perdeu valor de mercado.
Outro truque: Lula se disse “indignado” com a corrupção. Mas se alguém pensou que ele aproveitaria o momento para admitir erros, quebrou a cara.
Corruptos são os outros. Corruptos são “bandidos que passaram a virar heróis” por terem negociado a delação premiada.
O ataque aos “corruptos” mascara a defesa que ele faz dos seus companheiros suspeitos de envolvimento com a roubalheira na Petrobras.
Lula defendeu a reputação de José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras nomeado por ele. Foi cínico para variar:
- Se tem um brasileiro indignado, este sou eu. Quero saber se alguém vai ter coragem de dizer que esse moço esteve envolvido com corrupção. Mas ele conquistou o direito de andar de cabeça erguida – disse, referindo-se a Gabrielli. "Já o bandido pega 40 anos de prisão, vai fazer delação premiada e vira herói. Diz 'ouvi falar', 'eu acho que...' e nem precisa de juiz, a imprensa já condenou."
Mais um truque: creditou em sua própria conta, e também na de Dilma, o esforço de investigação da Polícia Federal, capaz de ir fundo no combate à corrupção.
Ora, a Polícia Federal é um órgão do Estado. Assim como o Ministério Público. Não obedece às ordens do presidente da República. Atua com independência.
Lula sabe disso. Mas não resiste à tentação de manipular os fatos. É de sua natureza.