O papa Francisco é comunista? Comentei nesta quinta o presente absurdo que ele ganhou – e aceitou – do cocaleiro Evo Morales. Muitos apontaram para a cara de constrangimento do papa, que ainda disse “não está bem isso”, como capturado em vídeo:
Ok, concedamos o benefício da dúvida ao papa nesse episódio bizarro, ainda que seja óbvio que o papa tinha, sim, alternativas, como recusar o presente, excomungar o comunista, ou demitir o responsável pelo cerimonial que não averiguou antes o que seria dado como presente, como de praxe. Aqueles que nutriam o benefício da dúvida, porém, acordaram com ressaca após o novo discurso do papa, o mais politizado e… comunista de todos. Papa Francisco assumiu de vez o tom anticapitalista, chamando o capitalismo de “ditadura sutil” e clamando por uma mudança de “estruturas”:
“Reconhecemos que este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza?”, perguntou o papa a algumas centenas de representantes de movimentos sociais de vários países, entre os quais o MST, sem-teto, indígenas e quilombolas brasileiros,durante o 2º Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia).
“Se é assim, insisto, digamos sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. E tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são Francisco”, completou o papa no encontro, realizado no auditório da Expocruz (feira agropecuária de Santa Cruz).
Ora, ora, e pensar que ontem mesmo escrevi sobre os palpiteiros aqui! Não pretendo ensinar o papa a rezar a missa em latim, mas ele agora quer nos ensinar sobre capitalismo? Deveria ficar quieto no seu canto, falando de temas religiosos com sua “infalibilidade papal” ex cathedra, e não se meter a pregar sobre o que não entende. Então o capitalismo é inimigo da natureza e dos pobres? Por isso os países socialistas poluem tão mais e possuem tanta pobreza a mais? Menos, papa Francisco, muito menos…
A verdade é que há, na Igreja Católica, uma ambiguidade constante em relação ao capitalismo, ao lucro, ao livre mercado. Encontra-se bases de defesa desse sistema nas escrituras sagradas e nas encíclicas papais, mas também é possível encontrar seu oposto. Papa Francisco, um jesuíta, mostra-se tão esquerdista quanto o papa Paulo VI, antecessor de João Paulo II, que escreveu, na Encíclica Populorum Progressio, uma verdadeira defesa do socialismo.
Em uma das passagens, o papa diz que é lamentável que o sistema da sociedade tenha sido construído considerando o lucro como um motivo chave para o progresso econômico, a competição como a lei suprema da economia, e a propriedade privada dos meios de produção como um direito absoluto que não tem limites e não corresponde à “obrigação social”. Em outras palavras, o papa lamentou que o capitalismo de livre mercado predominasse em relação ao socialismo. Os interesses coletivos, sabe-se lá quem os define, estariam acima do direito de propriedade privada, o que torna indivíduos sacrificáveis pelo “bem comum”.
O papa ignora que, no livre mercado, o lucro é fruto do bom atendimento da demanda dos consumidores, ou seja, é o indicador de que os indivíduos, por meio de trocas voluntárias, estão satisfeitos. Todos sabem o que aconteceu nos países que tentaram abolir o lucro, a competição e o direito de propriedade privada. O resultado foi a miséria, a escravidão e o terror. São conseqüências inexoráveis do socialismo colocado em prática.
Em outro trecho, o papa afirma que Deus pretendia que a terra e tudo que ela contém fosse para o uso de todo ser humano. “Logo”, ele continua, “enquanto todos os homens seguirem a justiça e a caridade, os bens criados deveriam abundar para eles numa base razoável”. E ainda conclui que “todos os outros direitos, incluindo aqueles da propriedade e do livre comércio, devem estar subordinados a este princípio”. O papa, entretanto, não define o conceito de “razoável”, que é totalmente arbitrário. Ou seja, enquanto todos não tiverem acesso aos bens produzidos de uma forma “razoável”, podemos invadir, pilhar e roubar.
A declaração é inequívoca: “O bem comum exige por vezes a expropriação, se certos domínios formam obstáculos à prosperidade coletiva”. Fora isso, devemos questionar: bens produzidos por quem? O minério de ferro encontra-se na natureza, mas dele até um automóvel existe um processo complexo que foi descoberto e realizado por indivíduos. Um fogão, uma geladeira, um avião, uma casa, nada disso cai do céu, nada disso nasce em árvores. Tudo é fruto do uso de mentes criativas e do esforço de indivíduos. Se todos terão direito a esses bens produzidos, significa que alguém terá o dever de produzi-los. Logo, podemos escravizar indivíduos, em nome da máxima socialista aqui implícita: “de cada um pela capacidade, a cada um pela necessidade”.
Como podemos ver, o viés socialista não é novidade no papismo. É lamentável, porém, verificarmos que justo numa época de avanço do socialismo, especialmente na América Latina católica, a Igreja tenha um papa simpático a tal agenda vermelha. E nos Estados Unidos temos uma liderança fraca, covarde, pusilânime, e também vermelha. Se nos tempos da Guerra Fria os Estados Unidos nos deram um Reagan e a Igreja um João Paulo II, hoje temos um Obama e um papa Francisco, o que é de arrepiar qualquer amante da liberdade.
“Reagan, Thatcher e João Paulo II foram o trio que destruiu o comunismo soviético e o seu Império do Mal”, escreveu o historiador Paul Johnson. E agora temos de nos contentar com Obama e Francisco, a dupla cuja maior “conquista” foi recolocar a ditadura comunista cubana em evidência e obter vantagens para os irmãos assassinos Fidel e Raúl Castro! Assim desanima…
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