O Ipea, que gozava de boa reputação, vem perdendo cada dia mais credibilidade justamente pela infiltração partidária e ideológica do PT
Abrir uma empresa e investir em produtividade para competir no livre mercado não é das coisas mais sensatas em um país como o Brasil. Além de toda barreira criada pelo governo, da absurda burocracia, dos impostos escorchantes, da mão de obra pouco qualificada e das leis trabalhistas obsoletas, o empresário ainda terá de enfrentar a competição desleal dos “amigos do rei”, aqueles que conseguem privilégios e subsídios estatais.
Se, ainda assim, obtiver sucesso, enfrentará a hostilidade de uma elite “intelectual” imbuída dos velhos conceitos marxistas. Será acusado de “explorador”, de “ganancioso”, ainda que seja o responsável por parte do progresso nacional e da criação de riqueza e empregos. Será visto como o vilão em um ambiente cuja mentalidade condena o mérito e o sucesso individuais.
Por outro lado, há poucos “investimentos” mais rentáveis do que a bajulação em um sistema desses. O puxa-saquismo costuma render bons frutos por aqui. Pergunte aos artistas que mamam nas tetas estatais. Pergunte aos “jornalistas” da mídia chapa-branca com propagandas estatais polpudas em seus blogs sujos. Pergunte aos “intelectuais” que elogiam o governo e defendem o indefensável, e depois acabam agraciados com cargos públicos.
O leitor sabia que o novo presidente do Ipea é um antropólogo, não um economista? E que, ainda por cima, divide o país em três classes: ralé, batalhadores e ricos? Isso mesmo. Jessé Souza é seu nome, e seus escritos estão repletos de ataques ao liberalismo e de enaltecimento do Estado. Ele acha que no Brasil há um culto do mercado. Em que país o antropólogo vive?
Para piorar, Jessé acredita que não há elo algum entre excesso de Estado e corrupção. Ao contrário: para ele, foi a desregulamentação que produziu mais corrupção. Vai ver por isso é a Vale privatizada, não a Petrobras estatal, que está no centro dos escândalos de roubalheira no Brasil, não é mesmo?
O Ipea, outrora uma entidade que gozava de boa reputação, vem perdendo cada dia mais credibilidade justamente pela infiltração partidária e ideológica do PT. O ex-presidente Marcio Pochmann, não custa lembrar, saiu do Ipea direto para ser candidato pelo partido. A escolha é sempre ideológica, nunca técnica.
Aqui o leitor poderá oferecer como contraponto a escolha de Renato Janine para o Ministério da Educação, no lugar de Cid Gomes, uma indicação claramente política. Recomendo cautela. Sim, é verdade que Janine tem perfil aparentemente mais técnico, sendo professor de Filosofia da USP. Mas sua trajetória não deixa dúvidas: elogiar o governo era seu passatempo preferido.
Janine sempre dava um jeito de relativizar os escândalos do governo petista. No último artigo escrito antes de virar ministro, o especialista em ética trata o PT como simplesmente a “bola da vez”, o Outro, o inimigo da hora que precisa ser destruído para que tudo fique bem. Janine tenta misturar o PT numa geleia geral para que todos sejam igualmente culpados.
Esse tipo de verborragia desperta suspiros em psicanalistas, sociólogas e antropólogas de esquerda. Tudo que querem, no fundo, é uma boa desculpa para suavizar a culpa do PT, e assim preservar de alguma forma a “pureza” da esquerda, ainda que seja nivelando todos por baixo, na sujeira. “Isso mesmo, Janine!”, brada uma petista desesperada para condenar toda a “corrupção”, em abstrato, e com isso proteger seu voto miserável na eleição passada.
Quem é cúmplice desse governo, quem digitou 13 na urna, anseia por um alívio da culpa, por uma mensagem que diga que todos são iguais. É a nova grande arma do PT: do “nunca antes na história deste país” para o “sempre antes na história deste país”. O melhor elogio para um petista hoje é repetir que todos são podres, que a corrupção é uma “velha senhora”, que não devemos olhar apenas para um lado. Um traficante não faria uma defesa melhor de sua conduta
Um professor de Ética que defende o governo do PT: eis algo tão esdrúxulo que só vemos no Brasil. E acaba recebendo como recompensa o Ministério da Educação, justo no momento de impor um projeto de centralização dos currículos. Como se um dos principais males do nosso país não fosse justamente a doutrinação ideológica do nosso sistema de ensino, cujo “patrono” é o marxista Paulo Freire.
O termo ralé, usado por Jessé, parece bastante ofensivo. Mas o que o Brasil que produz não aguenta mais é a ralé vermelha, esse bando de “intelectuais” que, em simbiose com o governo populista de esquerda, fala em nome dos pobres enquanto só aumenta a pobreza, seu ganha-pão.
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
Nenhum comentário:
Postar um comentário