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sábado, março 21, 2015

Reinaldo Azevedo: Dilma chama um movimento que pratica crimes de “democrático” e trata como criminosos os que saem às ruas para cobrar decência





A presidente Dilma Rousseff foi nesta sexta a um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, para participar da abertura da colheita de arroz ecológico. E ouviu uma aulinha de política do professor João Pedro Stédile.

O professor João Pedro Stédile é aquele que prometeu pôr seu “exército” a serviço da preservação do mandato de Dilma. O professor João Pedro Stédile é aquele que, há poucos dias, saudou um ato de terrorismo praticado por seus soldados mulheres, que invadiram um laboratório de pesquisas e destruíram mudas de eucalipto transgênico. O professor João Pedro Stédile é aquele que promove, com alguma frequência, bloqueio de estradas e que lidera, do gabinete, a indústria de invasão de propriedades rurais.

Se alguém ainda não entendeu, escrevo de outro modo, por meio de indagações. Se Dilma pode ir a um evento de um grupo cujos membros cometem crimes em penca — e o fazem de modo que não possam ser responsabilizados por isso —, com que outras forças criminosas também poderia se encontrar para demonstrar que gosta do diálogo? Se trabalhadores ditos “sem terra” têm licença para depredar laboratórios, que tipo de crimes seriam tolerados de trabalhadores com terra, presidente?

É, senhoras e senhores! Dilma não foi ao evento apenas para prestigiar o MST. Teve de ouvir um pito de Stédile, que cobrou humildade dos ministros. Mais do que isso: reivindicou que Joaquim Levy vá discutir as medidas fiscais com o MST. Acusou ainda o ajuste em curso de prejudicar programas sociais. Falou por 19 minutos. Dilma discursou por 33. Defendeu as medidas na área econômica, afirmou que não pode governar com os olhos de um “movimento social” e negou que os mais pobres estejam sendo prejudicados. A presidente, em suma, se justificava diante de Sua Excelência João Pedro Stédile.

Retrato, até aqui, como diria a poeta Cecília Meireles, “o patético momento” de Dilma. A coisa iria piorar muito, caminhando para o grotesco. Em entrevista depois da solenidade, afirmou a presidente:
“Acho absolutamente democrática a crítica dele. Agora, entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica, tem uma pequena distância”.

A presidente já tinha percorrido uma boa parte da trilha do erro. Poderia ter parado por aí. Mas, quando se é Dilma, sempre se dá mais um passo depois de chegar ao limite. Resolveu atacar a oposição, aqueles que seriam partidários do “quanto pior, melhor”. Mandou bala: “Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior, melhor. São os chamados pescadores de águas turvas. O que querem não me interessa. O fato é que apostam contra o Brasil. Você não pode apostar contra o seu país”.

Dilma tem, agora, a obrigação de dizer quem aposta no quanto pior, melhor. Dilma tem agora a obrigação de dizer quem aposta contra o Brasil. Dilma tem agora a obrigação de dizer quem é o pescador de águas turvas.

Eu vou dizer por que o governo está perdido. Se a presidente tivesse ido à Avenida Paulista no domingo — ou a qualquer outra das mais de 200 cidades onde houve protesto —, não teria conseguido discursar. Nesta sexta, no assentamento do MST, ela foi aplaudida. Nas ruas, estavam pessoas comuns, que trabalham, que arrecadam impostos, que não praticam crimes, que não recorrem à violência. No assentamento do MST, os invasores contumazes de propriedade alheia e defensores de atos terroristas contra laboratórios de pesquisa. Não obstante, Dilma associa os que protestam ao “quanto pior, melhor” e deixa claro que não se interessa por aquilo que querem. Mas chama Stédile e sua turma de democratas.

Em larga medida, e ainda voltarei a este ponto em outros textos, Dilma lembra certo presidente chamado João Goulart: é fraca, atrapalhada, mal cercada e permite que o baguncismo se infiltre no governo. Felizmente, é outro o espírito do tempo, sem a crispação ideológica daqueles dias. E outra também é a consciência das Forças Armadas. Não querem ser governo e, por determinação constitucional, são garantidoras últimas da legalidade e na normalidade constitucional. Mais: ainda que os companheiros tenham tentado, não conseguiram quebrar as pernas das instituições.

O Brasil seguirá na trilha democrática, qualquer que seja o desfecho da gestão Dilma. Não porque eles queiram. Mas porque nós queremos.

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