Convocados por meio de redes sociais e aplicativos de celular, os protestos simultâneos ao pronunciamento da presidente Dilma Rousseff (PT) no domingo à noite deixaram em segundo plano o discurso feito no Dia da Mulher.
O buzinaço e o panelaço registrados em pelo menos 12 capitais não eclodiram como reação ao que Dilma dizia no rádio e na TV. Tornando-se audíveis tão logo se formou a rede nacional, traduziam o quanto existe de exasperação com uma presidente que, vitoriosa nas urnas em outubro, nem bem deu início ao segundo mandato.
Não foi por coincidência que as manifestações se fizeram notar sobretudo em regiões nas quais a petista obteve menos sufrágios. De certa maneira, é a polarização acerba do período eleitoral que se estende para além da votação, quando, ao menos em tese, a radicalização típica da campanha perde muito de seu sentido.
Nas atuais circunstâncias, o prolongamento da exaltação ainda encerra um paradoxo. O ajuste nas contas públicas, principal iniciativa da presidente neste novo governo, era mais associado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), adversário da petista no segundo turno. Mais que isso, trata-se de medida crucial para a saúde da economia.
O remédio ora ministrado, mesmo que nas doses corretas, terá sabor amargo para a maioria; seu uso representa, além disso, uma traição para quem acreditou nas fantasias publicitárias da petista.
Enfrentando sérias dificuldades no Congresso, Dilma e sua equipe decerto sentiram necessidade de dar uma satisfação à população em geral, mas em especial a seus eleitores que, por enquanto, se mantêm distantes dos protestos.
O pronunciamento de domingo tinha precisamente o intuito de defender o ajuste: "Como o mundo mudou, o Brasil mudou e as circunstâncias mudaram, tivemos, também, de mudar a forma de enfrentar os problemas", disse Dilma.
Seria demais esperar que a presidente reconhecesse o quanto o descalabro econômico se deve a sua própria gestão. Ainda assim, e mesmo que tenham sido extravagantes ou falsas as explicações para a crise, a petista se permitiu níveis razoáveis de sinceridade.
Dirigindo-se ao espectador, afirmou: "Você tem todo o direito de se irritar e de se preocupar". Adiante, admitiu que as iniciativas em curso devem significar "alguns sacrifícios temporários para todos".
Dilma Rousseff finalizou sua intervenção em rede nacional pedindo apoio da população e do Congresso. É sintomático que, enquanto a presidente falava em união, uma parte da população respondia com vaias. O apito da panela de pressão indica que, para algumas camadas da sociedade, a insatisfação já beira o insuportável.
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