Por Merval Pereira
Em busca de apoio político, a presidente Dilma deu mais um passo em falso ontem ao ir ao encontro do líder do MST José Pedro Stédile, aquele cujo exército Lula ameaçou convocar caso a situação política o exija.
Diante do incômodo que a expressão causou entre os cidadãos comuns, e, sobretudo, entre os militares, que fizeram chegar ao ministro da Defesa Jacques Wagner o desconforto com a alegada metáfora, fora de hora por belicosa e por colocar-se em contraponto ao Exército brasileiro, a presidente Dilma não poderia ter lugar mais polêmico para ir do que o assentamento Lanceiros Negros, em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, sua terra.
E ainda por cima ouviu de Stédile, mais que conselhos, orientações de como deve governar. É bem verdade que a chamou de “quase uma santa”, e prometeu defendê-la dos “golpistas” que falam em impeachment. Mas para tal deu sua receita: disse que nenhum ministro deve “se sentir superior ao povo”, e recomendou que eles sejam “mais humildes” para ouvir “o povo, as nossas organizações, para saber onde tem problema”.
“Por que o seu (Joaquim) Levy não vem discutir conosco? Não é só cortar e cortar”. Stédile chegou a propor a Dilma que chame o povo “para baixar a taxa de juros”. Também criticou a “classe média reacionária” que foi às ruas no dia 15 de março para protestar contra o governo, e anunciou uma manifestação do MST no dia 7 de abril para defender o governo.
Aproveitou para conclamar a presidente da República para sair do Palácio do Planalto e ir também para as ruas. Como da outra vez, dias antes de uma manifestação que já está sendo convocada contra o governo Dilma para o dia 12 de abril. Se havia dúvidas sobre a viabilidade dessa manifestação entre os que a organizam pelas redes sociais, a marcha do MST deve indicar que ela se torna necessária.
Dilma, em entrevista depois dos atos do MST, defendeu o direito de Stédile dizer o que acha, e preferiu criticar os que se manifestaram contra ela nas ruas do país. “Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior, melhor. São os chamados pescadores de águas turvas. O que querem não me interessa. O fato é que apostam contra o Brasil. Você não pode apostar contra o seu país”.
Esse naturalmente é mais um equívoco de Dilma, em busca de apoio fora do jogo político tradicional, mesmo que tenha afirmado que não concorda com tudo o que Stédile disse. Essa é mais uma característica dessa crise: a presidente da República é minoritária dentro de seu campo político.
Ela depende do PMDB, do PT, do ex-presidente Lula, e até mesmo do MST, se levarmos em conta que foi atrás dele num momento especialmente delicado da vida nacional, quando as ruas passaram a ser o palco da ação política a favor e contra seu governo e o PT.
A manifestação dos chamados “movimentos sociais” – MST, CUT, UNE - na sexta-feira que antecedeu o grande protesto que colocou mais de 2 milhões de pessoas nas ruas do país contra o governo Dilma, revelou uma fragilização desses movimentos que frustrou o objetivo de demonstrar força contra a “elite de mierda”, como Stédile se referiu à oposição em comício recente na Venezuela em favor de Maduro.
Nada disso impedirá, e ao contrário aumentará a pressão, para uma reforma ministerial desejada, por razões distintas, por todas as forças que fazem parte do grupo político que a sustenta. Dilma terá que resistir entrincheirada no Palácio do Planalto onde acolhe um grupo de apoiadores minoritários entre as diversas facções do PT.
A reforma que a esquerda petista quer não é a mesma do PMDB, e o que o MST quer não combina com o que o governo pretende para o agronegócio brasileiro. Neste momento, o arroubo de negar uma reforma ministerial mais ampla é mais uma tentativa de firmar sua liderança, e deixar de ser vista como um fantoche do Lula.
Mas é uma tentativa que tem pouca chance de vingar, pois ela não tem força política para esse tipo de arroubo. Corre o risco de queimar a língua mais cedo do que se pensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário