É de causar estranhamento a maneira como a saída da presidente da Petrobras, Graça Foster, foi anunciada, nesta quarta-feira. A notícia foi dada após um ofício da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pedindo esclarecimento sobre as notícias que vazaram sobre a troca de comando na estatal. Até aí, tudo bem. Mas, até o fim da manhã, a equipe de comunicação da empresa parecia para lá de confusa sobre como tratar pedidos de esclarecimento dos jornalistas. Assessores da estatal transferiam sucessivamente as ligações sem responder às perguntas e pediam que a solicitação de informações fosse por emails, que ficaram sem resposta.
O comunicado da Petrobras sobre o assunto não só foi tímido, como só começou a ser distribuído nos diferentes meios de comunicação da empresa por volta do meio-dia. Com apenas uma frase, a mesma enviada à CVM: “A Petrobras informa que seu Conselho de Administração se reunirá na próxima sexta-feira, dia 06.02.2015, para eleger nova Diretoria face à renúncia da Presidente e de cinco Diretores”, diz a nota.
Um assessor palaciano dizia achar esquisito o fato de não haver um plano para divulgação simultânea da informação pela empresa e pela Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto. Afinal, prosseguiu, isso só seria compreensível se a notícia fosse extra-oficial. Mas se a Petrobras confirmou formalmente ao mercado, não haveria motivo para o governo não tocar no assunto. Outro assessor dizia estranhar o fato de o comunicado não listar os nomes dos diretores que deixarão o comando da empresa junto com Graça.
Com saída de Graça, governo vê Dilma mais exposta às denúncias da Lava Jato
Afora que foi formalizada a saída de Graça Foster do comando da Petrobras, o governo vê a necessidade de proteger a presidente Dilma Rousseff de uma exposição maior às denúncias da Operação Lava Jato. Embora a saída de Graça tenha sido defendida durante meses por integrantes do governo e mesmo pelo ex-presidente Lula, interlocutores da presidente concordavam que sua permanência servia como uma espécie de “escudo”, impedindo que a responsabilidade pelas ingerências na empresa recaíssem sobre Dilma. Ou seja, a troca de direção atende à demanda do mercado e ajuda a conter a deterioração das ações da estatal, mas deixa Dilma mais vulnerável do ponto de vista político.
Dilma desde o início foi contra a substituição de Graça, num gesto entendido por alguns de seus ministros como um reconhecimento da “lealdade” de Graça. Mas um argumento que sempre pesou a favor da permanência da executiva no comando da estatal era o de que ela já havia “apanhado o que tinha que apanhar” e que o melhor era deixar que as pancadas continuassem recaindo sobre ela. Se assim fosse, o desgaste político seria menor para o governo como um todo e, principalmente, para Dilma.
A receita só valeria até certo ponto, já que havia pressão crescente no mercado pela substituição da executiva. Na avaliação de um ministro, a substituição de Graça pode até ter demorado do ponto de vista da confiança do mercado, mas foi feita na hora certa no que diz respeito à exposição de Dilma diante da crise. A executiva sai no momento em que deixa de conseguir filtrar ao menos parte do efeito político negativo provocado pela corrupção na estatal.
Diante do novo cenário, uma preocupação do governo é manter o PT sob controle e ter o partido empenhado no apoio à presidente. O Planalto já vem agindo para conter a insatisfação dentro da legenda, por meio, em parte, da indicação de seus integrantes para postos estratégicos. Se o plano der certo, o partido pode usar sua próxima reunião do diretório nacional para aprovar resoluções de apoio ao governo e à reação do Planalto à crise na Petrobras. O encontro está marcado para ocorrer na próxima sexta-feira, em Belo Horizonte.
Fonte: Poder Online
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