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quinta-feira, dezembro 18, 2014

GUILHERME FIUZA: O Brasil tem quatro anos para virar a Argentina



Por GUILHERME FIUZA na REVISTA ÉPOCA


Uma grande empreiteira pagou R$ 886 mil a uma empresa de José Dirceu e obteve, em seguida, um contrato com a Petrobras no valor de R$ 4,7 bilhões, para realização de serviços na Refinaria Abreu e Lima. Para quem não lembra, essa é a famosa obra que multiplicou seu valor original pelo menos três vezes e passou dos R$ 40 bilhões. A reportagem de ÉPOCA que mostra a triangulação camuflada sob uma "consultoria" de Dirceu ajuda a entender por que essa refinaria ficou 200% mais cara que ela mesma. Há um outro sócio fundamental dessa transação: o eleitor de Dilma Rousseff.

Essa triangulação, descoberta pela Polícia Federal na blitz conhecida como "Dia do Juízo Final", se deu entre 2010 e 2011. Exatamente quando Dilma ascendia à Presidência. E Dirceu já era réu no processo do mensalão. As cartas já estavam na mesa, e os anos seguintes apenas as revelaram: Dirceu condenado, e o petrolão descoberto. Quando foi às urnas em outubro passado, o eleitor brasileiro já sabia de tudo: que cardeais petistas haviam plantado uma diretoria na Petrobras para roubar a empresa em benefício da sustentação de seu projeto de poder. Exatamente a mesma tecnologia do mensalão, também tramado de dentro do Palácio do Planalto. Quem votou pela reeleição de Dilma, mesmo que alegue esquerdismo, progressismo, coitadismo ou cinismo, é sócio político do esquema.

A pergunta é: o que será do Brasil nos próximos quatro anos? Algumas vozes respeitáveis têm oferecido um ombro amigo ao governo popular - não para que ele chore suas lágrimas de crocodilo, mas para que não caia de podre. É a tese de que o impeachment é pior para o país do que carregar por quatro anos um governo na UTI. Tudo bem. Só falta combinar com os russos. O segundo mandato de Dilma Rousseff nascerá desmoralizado no país e no exterior. Nesse cenário, como investir no Brasil? Como respeitar as instituições? Como concordar e se submeter às regras do jogo, se o juiz se vendeu na cara de todo mundo?

O mais ortodoxo dos contribuintes, aquele que jamais cogitou sonegar impostos, está revoltado com cada centavo que paga ao Fisco. Caiu a máscara social do PT - e agora todos já sabem que a trilionária arrecadação da União está a serviço de uma indústria de privatização da política. Daí os níveis de investimentos irrisórios, a estagnação da infraestrutura, o desperdício de uma década de bons ventos econômicos sem avançar um milímetro nos sistemas de saúde e educação - enquanto o sistema de corrupção cresceu admiravelmente (o mensalão é troco diante do petrolão), e o bom pagador de impostos não tem mais dúvidas: estão me fazendo de otário.

Traduzindo: o contrato republicano foi rasgado. Se o brasileiro não fosse essa doçura, o primeiro governista que falasse na volta da CPMF seria crucificado em praça pública. Por meio de um dublê de bobo da corte e ministro da Fazenda, o governo assegurou que estava tudo bem com as contas públicas - até avisar, passada a eleição, que daria o golpe na Lei de Responsabilidade Fiscal. A tropa companheira marchou sobre o Congresso e incinerou, ao vivo, o principal compromisso com a saúde financeira nacional. E isso aí: torramos o dinheiro do contribuinte e mudaremos a meta na marra, para legalizar o rombo.

O projeto parasitário do PT está empobrecendo democraticamente ricos e pobres. E sempre indesejável a metáfora do câncer, mas não há descrição mais precisa dessa autópsia: um projeto de poder que plantou células degenerativas a cada movimento no organismo estatal. Como será o embate do respeitável Joaquim Levy com toda a teia de artifícios montada para gerar a famosa contabilidade criativa? Haja quimioterapia.

Seria até esperançoso imaginar que, agora, haverá 100% de esforço e sacrifício em prol do tratamento rigoroso. Só que não... O ponto a que chegou o plano petista não tem volta. A única chance de Dilma, Lula & Cia. é ajeitar as aparências e dobrar a aposta. Do contrário, a mitologia acaba e, aí sim, todos eles pagarão muito caro pelo que fizeram ao Brasil.

Ou o país leva às últimas consequências a investigação do petrolão - se for séria, ela levará a uma inevitável faxina no Palácio - ou pode ir fazendo as malas para a Argentina.

MERVAL PEREIRA: Petrolāo repete mensalão



Por Merval Pereira em O GLOBO - 18/12

A estratégia de reagir a uma crise com a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte para a reforma política ou de um plebiscito, e até mesmo a frase "não deixar pedra sobre pedra" na apuração de um escândalo, muito usada pela presidente Dilma na campanha deste ano, fazem parte de um roteiro previamente organizado a partir do escândalo do mensalão por Bernardo Kucinski, escritor premiado e jornalista tarimbado, que teve papel central no primeiro governo Lula criando uma correspondência diária com o presidente por meio da análise do noticiário dos jornais que enviava logo pela manhã, por volta das 8h.

Lula, que confessou que não lia jornais para não ficar com azia, lia aquelas cartas, que ele chamava de "ácidas", e também criticava. Certa vez, na campanha de 1989, Lula disse que Kucinski era tão ácido que, se passasse uma toalha no seu suor e depois espremesse, dava para tirar vinagre.

Mas a confiança no autor, apesar de alguns mal-entendidos, transformou as cartas em instrumento importante de ação presidencial, mesmo que, com a eleição de Lula em 2003, elas tenham passado a se chamar Cartas Críticas, com cuidados para, na definição do autor, "alertar o presidente, sim, aborrecer o presidente, não". Mas sem abdicar de sua função crítica.

Pois quando estourou a crise do mensalão, em 2005, foi de Kucinski que partiram as sugestões de levar ao debate público questões como a reforma política. Escreveu ele em 9 de junho de 2005: "Há uma convicção crescente entre juristas e analistas políticos de que a raiz do problema da corrupção política está no sistema político. Nesse sentido, outra iniciativa ousada do governo seria a de propor uma reforma política já. Talvez isso ajude a levar o problema para um plano superior e genérico".

Em outra ocasião, diante do fato de que a crise do mensalão crescia, ele sugere a Lula: "Só resta ao presidente aprofundar a linha de conduta de 'não deixar pedra sobre pedra' no combate à corrupção e, se preciso, 'cortar na própria carne' ".

De outra feita, ele diz que "em caso extremo, o governo poderia encampar a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte (...), a razão seria a perda de legitimidade do atual Congresso por causa do mensalão".

Essas cartas estão agora selecionadas em um livro, "Cartas a Lula", em que, divididas por temas, aparecem abordando os principais episódios do primeiro governo, desde o Fome Zero e o Bolsa Família até a transposição do Rio São Francisco, que Kucinski considera um projeto mal aproveitado pelo governo, que não organizou sua narrativa para que tivesse condições de mostrar sua importância para a região.

As cartas fizeram análises de macroeconomia e do cenário internacional, que eram muito utilizadas por Lula em suas viagens. E analisavam detidamente as reações dos principais jornais e revistas em relação a decisões do governo, buscando explicações para comentários de alguns jornalistas ou editoriais. Não há em nenhum momento, nas cartas selecionadas no livro, juízos de valor sobre este ou aquele comentário deste ou daquele jornalista, como se Kucinski estivesse preocupado também em não alimentar o antagonismo entre a chamada mídia e o governo.

Em muitos casos, como no da expulsão do correspondente do "New York Times" no Brasil, Larry Rohter, que fez uma grande reportagem acusando Lula de ser um alcoólatra, Kucinski procura as razões da reportagem muito menos no seu autor do que na política do próprio jornal, que considera representante do establishment americano. É disso que se trata, escreveu Kucinski; Lula tornou-se alvo do Império, e isso deveria deixá-lo orgulhoso. Kucinski se utiliza até mesmo do filósofo americano Noam Chomsky para basear sua opinião de que a reportagem do "New York Times" representava o reconhecimento do governo dos Estados Unidos de que Lula era um líder que precisava ser combatido.

Pelas reações do próprio Lula na ocasião e da presidente Dilma durante a crise de 2013, quando as manifestações populares surpreenderam o governo, e até mesmo na recente campanha presidencial, os conselhos de Kucinski continuam sendo seguidos no Palácio do Planalto, eventualmente adaptados às novas circunstâncias pelo marqueteiro João Santana, também ele originalmente jornalista.

Felipe Moura Brasil: Inspirado em texto deste blog, Bolsonaro protocola PDL contra ‘censura na internet escudada na falácia do crime de ódio’





Recebi na quarta-feira (17) a seguinte mensagem do deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PP-RJ) em referência ao meu post “Software do governo contra crimes de ódio na internet é arma de propaganda e censura“:

“Prezado Felipe, inspirado nesta sua matéria protocolei hoje o Projeto de Decreto Legislativo 1662/2014, que visa sustar os efeitos da Portaria Interministerial de 2 de novembro de 2014 que instituiu a censura na internet escudada na falácia do CRIME DE ÓDIO.

Vejo sim. Bom saber. A oposição, de fato, tem de impedir esse abuso cínico de um governo que – ele próprio – paga militantes virtuais para atacar seus adversários na internet. Na campanha eleitoral, eram pelo menos 2 mil MAVs atuantes, recebendo 2 mil reais cada um. Pelo menos mil continuam em ação e não há motivo algum para crer que eles entrarão no radar do software.

Investigar crime é função da polícia. A função do governo é não cometê-lo, o que tem sido bem difícil para o de Dilma Rousseff, como mostram o Petrolão, a LDO e companhia.

Falei com Bolsonaro para confirmar sua mensagem. O deputado me disse:

“Eu entendo que os agentes do governo vão começar a fazer uma caça na internet. Botam uma palavra-chave como ‘Maria do Rosário’ e vão atrás de quem interessar a eles pegarem.”

Como até o anúncio do lançamento jé embutia a associação de um crime de ódio a seu nome, Bolsonaro não tem dúvidas de que será um dos alvos favoritos do PT.

“Eu só tenho espaço na mídia por causa da internet. Sem a internet, eu estou ferrado”, disse ele, embora mencionando o espaço que conseguiu hoje na Folha para o seu artigo “O grito dos canalhas“, publicado dois dias após o presidente do PT, Rui Falcão (“logo quem!”), o “esculachar” no artigo “O silêncio que leva à barbárie“.

A comparação entre os dois textos é mais uma prova do quão absurdo é igualar Bolsonaro a um petista. Ignorando solenemente a injúria inicial de Rosário, o mesmo Falcão que espalha MAVs pelas redes e preside um partido envolvido nos maiores escândalos de corrupção da história do país afirma que:

- “A sociedade brasileira não pode se calar diante da disseminação do ódio”;
- o deputado “incitou ao estupro”;
- “trata-se de defender o crime e a barbárie”;
- “disparou covardemente ameaças e ofensas contra a deputada”;
- “atacou a honra da presidenta da República”;
- “achincalhou direitos humanos universais mais uma vez”;
- “pediu o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso”;
- “discrimina, induz e incita a discriminação étnica, racial e de gênero”;
- “ameaça veladamente a deputada, incorre em crime e atenta diretamente contra a humanidade”;
- “A gravidade do episódio caracteriza uma situação de perseguição, discriminação odiosa”;
- “É preciso responsabilizar Bolsonaro criminalmente”.

Falcão diz tudo isso, obviamente, com a mesma afetação de bom-mocismo e indignação que ensina aos MAVs, ou seja: aquela que aponta “Olha isso! Olha isso! Que absurdo!”, sem analisar o contexto, o conteúdo efetivo das palavras e por que elas merecem cada uma das acusações disparadas contra seu autor.

De quebra, ainda atribui a “chaga social” dos “mais de 50 mil estupros” registrados no país, “número estarrecedor, mas subestimado, segundo as autoridades”, a “posturas intolerantes, machistas e criminosas de trogloditas”, e não ao seu partido que está há 12 anos no poder literalmente elevando as taxas nacionais de criminalidade, enquanto Bolsonaro luta por penas mais severas para bandidos e estupradores, bem como pela redução da maioridade penal. Mas a culpa é do PT, ele coloca em quem quiser. O ódio é do PT, ele caça quem quiser.

Já demonstrei numerosas vezes neste blog que crimes de estupro nada têm a ver com frases ditas pelos adversários do partido, mas o leitor pode ver a matéria da VEJA.com “Por dentro da mente de um estuprador” se quiser um resumo sobre os diversos perfis desses criminosos que “desprezam a condição humana das vítimas, são capazes de recorrer à violência extrema e sempre voltam a atacar – sem remorsos”. Destaque para o trecho: “estupradores, depois de algum tempo presos, voltam para as ruas e cometem outros abusos. A saída não está, portanto, em práticas ou políticas de tratamento, mas na eficácia das investigações, nas estatísticas criminais e na segurança pública – todas deficientes na maior parte do país.” Pois é.

E o que fez Bolsonaro em seu artigo?

Contextualizou o episódio com Rosário, alegou que o chamam de homofóbico e racista por ser contra o “kit gay” e as cotas, mostrou que o caso “Preta Gil” foi arquivado porque o CQC informou não possuir mais a fita “bruta” do programa, e apontou os verdadeiros motivos pelos quais o PT se incomoda com ele, como a revelação dos crimes de ícones esquerdistas como Carlos Lamarca e dos grupos terroristas de Dilma Rousseff, além de um projeto de nova (ou melhor: verdadeira) Comissão da Verdade para apurar os crimes da esquerda na época da luta armada. Pode-se discordar de determinadas opiniões do deputado, e não resta dúvida de que suas reações intempestivas revelam uma falta de domínio do idioma que dá margem a distorções e ilações, como ele próprio admite, mas não se pode negar que Bolsonaro se atém muito mais aos fatos que Falcão, Rosário, Jandira Feghali e companhia.

Ele ainda falou ao blog sobre o projeto do deputado Carlos Zarattini, do PT de São Paulo, para abrir as urnas a estrangeiros que vivem no Brasil, sendo ou não naturalizados, conforme exposto no meu artigo “Como o PT quer garantir o poder com a Unasul, fachada do Foro de São Paulo, por meio de mais ‘exércitos’ e ‘eleitores’“. Bolsonaro fez uma analogia com as tentativas do presidente Obama de atrair o eleitorado hispânico, inclusive com o fim do embargo americano à ilha dos irmãos Castro, e declarou:

“Eu sou contra esse projeto. Em estados como o Acre, daqui a pouco são os haitianos que vão decidir as eleições. E ainda querem distribuir não sei quantos Bolsa-Família aos estrangeiros em São Paulo. Daqui a pouco São Paulo também vai ter esses xis por cento de eleitores nas mãos do PT.”

É isso aí. Será que o software do governo já detectou este post?

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