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terça-feira, setembro 09, 2014

FLAVIO QUINTELA: Plebiscito Constituinte, mais uma tentativa de golpe!



ESCRITO POR FLAVIO QUINTELA

O movimento está colhendo apoio nas ruas e é encabeçado por organizações de esquerda e extrema-esquerda, entre as quais o PT, o PCdoB, a CUT e dezenas de sindicatos.


Começou na segunda-feira uma ação coordenada em todo o Brasil por um movimento que se intitula Plebiscito Constituinte. Com uma roupagem patriótica, uma comunicação feita nas cores da bandeira brasileira e um apelo à juventude que foi às ruas em junho de 2013, esse movimento tenta viabilizar algo que há muito vem sendo considerado pelo atual governo e por todo o PT como uma peça-chave para a supressão do Estado Democrático de Direito: uma Constituinte para modificar o sistema político brasileiro. Essa aberração foi sugerida pela primeira vez pela própria presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento de 24 de junho de 2013.

A ideia vai ao encontro das práticas bolivarianas usadas com sucesso para destruir as democracias vizinhas, como a da Venezuela. A substituição da democracia representativa pela chamada “democracia direta” tem sido a forma mais eficiente de corroer o jogo democrático usando suas próprias regras. Ao contrário do que diz o dito popular, a voz do povo não é a voz de Deus, e nunca foi. Legislar por meio de plebiscitos é algo inviável, principalmente em um país com as dimensões do Brasil. A massa popular é muito mais manipulável que algumas centenas de parlamentares, e a legitimidade de uma consulta popular só é, na aparência, maior que a de uma decisão votada no Legislativo. Ou seja, para a maioria da população, participar de um plebiscito soa como a coisa mais democrática possível, uma vez que essa mesma maioria não consegue enxergar que sua opinião está sendo moldada e manipulada pelo grupo que ocupa o poder – e, com ele, a maior máquina de propaganda já vista na história brasileira.

Mas voltemos ao tal movimento, que está neste momento colhendo apoio nas ruas. É encabeçado por organizações de esquerda e extrema-esquerda, entre as quais o PT, o PCdoB, a CUT e dezenas de sindicatos. O objetivo final do movimento é forçar a convocação de uma Constituinte exclusiva para modificar os artigos constitucionais que regem o sistema político brasileiro. Hoje, a única maneira de se fazer isso é através de uma emenda constitucional, que por sua vez requer maioria absoluta nas votações das duas casas do Legislativo. Numa Constituinte, só é preciso conseguir maioria simples. Esse fato, mais o clima de pressão popular que tal Constituinte geraria no país, permitiria que o grupo capitaneado pelo PT aprovasse medidas como o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada, além de possíveis aberrações como o fim da limitação de dois mandatos consecutivos, a inclusão na Constituição de mecanismos de participação popular, nos moldes do Decreto 8.243, e outras monstruosidades antidemocráticas.

A experiência nos diz que é sempre prudente desconfiar de quem quer mudar as regras do jogo. Depois de 12 anos, pela primeira vez a chance de o candidato petista perder é maior que a de ganhar. A população está deixando claro, diariamente, nas ruas, nas redes sociais, nas pesquisas, que não quer mais esse partido tomando conta do país. E é justamente diante dessa revolta, dessa insatisfação, que está sendo proposta uma solução de ruptura, algo projetado e planejado para ser a tábua de salvação de um grupo político que está afundando. Esse plebiscito tem cheiro de golpe. E de golpe estamos cheios.



Flavio Quintela, escritor e tradutor de obras sobre política e filosofia, é autor de Mentiram (e muito) para mim.

BLOG DO CORONEL: Delação não rima com ilação


O delator em busca de um prêmio, que no limite máximo é a liberdade plena, não brinca em serviço. As regras são claras: as denúncias deverão vir acompanhadas de provas documentais, testemunhais ou de informações que possam levar a cúmplices e a outros criminosos. 

O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, pelo que foi apreendido pela PF, possui todas as informações organizadas. Uma verdadeira contabilidade de bilhões não contabilizados. Planilhas, número de contas bancárias, até mesmo recibos ou comprovantes de depósitos. Certamente também está oferecendo informações sobre os "laranjas" que representavam os corruptos beneficiados pelo Mensalão da Petrobras, para que a PF chegue aos verdadeiros culpados.

O prêmio pela delação não é automático. É ao final que o juiz, de posse de todas as informações, analisa o grau de colaboração oferecida pelo réu para só então avaliar a redução ou eliminação da pena a que originalmente o delator estaria sujeito. Desta forma, não existe enrolação ou ilação, como gosta de dizer o PT e a Dilma para desqualificar quem os acusa. Depois de iniciado o processo, não há mais porque fazer chantagem, pois só a verdade passível de comprovação será considerada pelo magistrado.

Da forma como houve o vazamento para a revista Veja, ele não deve ter saído da PF ou do MP. Provavelmente saiu do próprio Paulo Roberto Costa, por meio da sua advogada ou familiares, para que o assunto fique em evidência, valorizando a delação. Assim sendo, é natural que o vazamento continue, cada vez com provas mais robustas, para que não exista chance de que o governo petista e o STF aparelhado venham a arquivar o caso. Não será surpresa alguma se na próxima edição da Veja tenhamos provas documentais contra as mais altas figuras do governo do PT. As mais altas mesmo! Vamos aguardar, porque delação não rima com ilação. Mas pode mudar eleição.

LUCIANO AYAN: Talento e cinismo em escala épica: Gilberto Carvalho diz que culpa do Petrolão é do “financiamento privado de campanha”





Isso é que é esperteza! Como eu já disse anteriormente, os líderes petistas dissimulam além de qualquer padrão conhecido pelo eleitor brasileiro. É verdadeiramente uma elite de embusteiros: um “ativo” de logros que nenhum outro partido possui.

Diante de mais um caso grotesco de corrupção, qualquer pessoa normal ficaria envergonhada, de cabeça baixa. Com Gilberto Carvalho, ocorre exatamente o contrário: ele tenta usar o caso para obter o maior ganho possível para o PT. O truque agora é dizer que “o governo é incapaz de combater a corrupção”. Seria de se perguntar: “Por que o governo não consegue parar de realizar atos de corrupção?”. Até por que todos os beneficiários foram da base aliada do governo. Em síntese, o truque da “incapacidade” não cola.

Se fosse assim, um estuprador deveria ser considerado “incapaz” de se controlar, portanto a culpa seria de suas vítimas por não usarem cinto de castidade. Pensando bem, é melhor não dar ideia…

Claro que a desculpa é repugnante. A maior afronta, porém, vem abaixo, conforme matéria da Veja:


Enquanto houver financiamento empresarial de campanha e as campanhas tornarem-se o momento de muita gente ganhar dinheiro e de se mobilizarem muitos recursos, eu quero dizer: não há quem controle a corrupção enquanto houver esse sistema eleitoral. Isso é com todos os partidos. Não há, infelizmente, nenhuma exceção.

Para começo de conversa, é mentira que “isso é com todos os partidos”. Ao contrário: não há um partido que consiga aglutinar tantos escândalos de corrupção quanto o PT. Simplesmente eles já podem contatar o Guinness.

Tanto é verdade que o PT não pode ser superado em termos de corrupção que até a própria desculpa de Gilberto é mais uma forma de garantir ao governo o privilégio de usar o estado em benefício próprio, o que é a essência da corrupção.

Quando ele fala em “proibição de financiamento empresarial de campanha”, nada mais nada menos pede que todos os demais partidos políticos fiquem à míngua no que diz respeito às verbas privadas de empresas. Todavia, o governo continua controlando as estatais, ou seja, consegue obter muito mais verba para obtenção de apoio político. Decididamente estamos diante de uma raposa querendo tomar conta do galinheiro.

A caradura de Gilberto fica ainda mais evidente ao notarmos que a Petrobrás nem sequer entra na lista dos financiadores de campanha, até por ser proibida por lei de fazê-lo. Logo, não faz o menor sentido colocar a culpa em “financiamento empresarial de campanha” para justificar as atrocidades cometidas contra a Petrobrás e o povo brasileiro.

Como já disse, isso ultrapassa todos os limites conhecidos de cinismo. E quando eu falo de elite psicopática, é exatamente a isto que me refiro: quando comparamos partidos e projetos totalitários de poder, há um outro partido com um time capaz de dissimular na mesma medida em que o PT? É só olhar o discurso de Gilberto Carvalho e buscar similares em outros partidos. E temos que lembrar que além dele temos Tarso Genro, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo, José Dirceu e Luis Inácio Lula da Silva.

É muito talento concentrado em um partido só para a prática de fraudes intelectuais em larga escala. Chego a dizer que este é o maior motivo para os tirarmos do poder.

MARCO ANTONIO VILLA: O silêncio de Lula



Ao escolher candidatos sem consulta à direção partidária, ele transformou o PT em instrumento de vontade pessoal


Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.

Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.

Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.

No Partido dos Trabalhadores — e que para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para os petistas. Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas.

Lula humilhou diversas lideranças históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma consulta à direção partidária, os chamados “postes”, transformou o partido em instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.

Os “postes” foram um fracasso administrativo. Como não lembrar Fernando Haddad, o “prefeito suvinil”, aquele que descobriu uma nova forma de solucionar os graves problemas de mobilidade urbana: basta pintar o asfalto que tudo estará magicamente resolvido. Sem talento, disposição para o trabalho e conhecimento da função, o prefeito já é um dos piores da história da cidade, rivalizando em impopularidade com o finado Celso Pitta.

Mas o símbolo maior do fracasso dos “postes” é a presidente Dilma Rousseff. Seu quadriênio presidencial está entre os piores da nossa história. Não deixou marca positiva em nenhum setor. Paralisou o país. Desmoralizou ainda mais a gestão pública com ministros indicados por partidos da base congressual — e aceitos por ela —, muitos deles acusados de graves irregularidades. Não conseguiu dar viabilidade a nenhum programa governamental e desacelerou o crescimento econômico por absoluta incompetência gerencial.

Lula poderia ter reconhecido o erro da indicação de Dilma e lançado à sucessão um novo quadro petista. Mas quem? Qual líder partidário de destacou nos últimos 12 anos? Qual ministro fez uma administração que pudesse servir de referência? Sem Dilma só havia uma opção: ele próprio. Contudo, impedir a presidente de ser novamente candidata seria admitir que a “sua” escolha tinha sido equivocada. E o oráculo de São Bernardo do Campo não erra.

A pobreza política brasileira deu um protagonismo a Lula que ele nunca mereceu. Importantes líderes políticos optaram pela subserviência ou discreta colaboração com ele, sem ter a coragem de enfrentá-lo. Seus aliados receberam generosas compensações. Seus opositores, a maioria deles, buscaram algum tipo de composição, evitando a todo custo o enfrentamento. Desta forma, foram diluindo as contradições e destruindo o mundo da política.

Na campanha presidencial de 2010, com todos os seus equívocos, 44% dos eleitores sufragaram, no segundo turno, o candidato oposicionista. Havia possibilidade de vencer mas a opção foi pela zona de conforto, trocando o Palácio do Planalto pelo controle de alguns governos estaduais.

Se em 2010 Lula teve um papel central na eleição de Dilma, agora o que assistimos é uma discreta participação, silenciosa, evitando exposição pública, contato com os jornalistas e — principalmente — associar sua figura à da presidente. Espertamente identificou a possibilidade de uma derrota e não deseja ser responsabilizado. Mais ainda: em caso de fracasso, a culpa deve ser atribuída a Dilma e, especialmente, à sua equipe econômica.

Lula já começa a preparar o novo figurino: o do criador que, apesar de todos os esforços, não conseguiu orientar devidamente a criatura, resistente aos seus conselhos. A derrota de Lula será atribuída a Dilma, que, obedientemente, aceitará a fúria do seu criador. Afinal, se não fosse ele, que papel ela teria na política brasileira?

O PT caminha para a derrota. Mais ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo. E no futuro os historiadores vão ter muito trabalho para explicar um fato sem paralelo na nossa história: como o Brasil se submeteu durante tantos anos à vontade pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva.

Marco Antonio Villa é historiador

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