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quarta-feira, setembro 03, 2014

ARNALDO JABOR: O bicho vai pegar em quem?


Por Arnaldo Jabor

O Brasil se move por acaso. Os rumos da História, se é que tem rumos, tendem a se enrolar em si mesmos e só fatos, traumas inesperados disparam a mutação. Que quer dizer essa frase? Que não são apenas as “relações de produção” que explicam nossa marcha, mas os detalhes, as ínfimas causas, as bobagens casuais e tragédias intempestivas fazem o Brasil andar.

Getúlio deu um tiro no peito e adiou a ditadura por dez anos. Jânio tomou um porre e pediu o boné, um micróbio entrou na barriga do Tancredo e mudou nossa vida, encarando o Sarney por cinco anos, o Collor foi eleito por sua pinta de galã renovador e acabou “impichado” por suas maracutaias. Roberto Jefferson mostrou sua carteirinha de corrupto, se denunciou junto com os mensaleiros e mudou a paisagem política. E agora Marina Silva pode ser presidente, em vez da Presidenta.

Com a população mal-informada em sua maioria (não falo dos miseráveis e analfabetos, mas de gente de terno e gravata) sobre as complexas questões da política e da economia, a emoção e a catarse movem o país.
Agora, estamos na expectativa; somos o país do eterno suspense: Marina vai ser eleita ou não? Será que o efeito “tragédia” vai se evaporar? A grande mudança seria, claro, a social-democracia apta a desfazer as boquinhas e os pavorosos erros com que o PT nos brindou. Aécio, se eleito, pode trazer a agenda correta. Mas, se Marina ganhar, teremos um outro tipo de mudança, uma virada para um “novo” desconhecido, uma virada psicológica e cultural inesperada. Não adianta analisar Marina com os instrumentos de análise costumeiros.

Agora em vez dos óbvios vexames do PT, estamos diante do mistério Marina.
Marina é “sonhática” ou não? Marina é populista? Marina é de esquerda ou não? Nada. No entanto, amigo leitor, Marina pode ser o olho de um furacão que, claro, jamais conseguirá renovar a velha política sólida; mas ela pode criar um “caos” na vida politica. Talvez até um “caos progressista” pelo avesso. Que é isso que quero dizer? Marina pode vir a bagunçar mais a bagunça existente, mas poderá ser uma “bagunça crítica”, que pode trazer uma espécie de “destruição criadora” nesta zorra instalada.

Para falar em termos de “contradições negativas” que eles tanto amam, o caos que Lula, Dilma e o PT criaram na vida nacional pode ter sido o gatilho para uma revisão em busca de um modelo melhor. Se Marina vencer, será sabotada continuamente pelos vagabundos que se instalaram no Estado, será confrontada pelas barreiras fisiologistas dos parlamentares, talvez quebre a cara tentando. Mas, mesmo que fracasse, teremos um “caos mais moderno”, tirando do poder a velha cartilha regressista dos nossos bolivarianos. Mesmo que ela se perca na selva dos meliantes da política, não será mais irracional que os atuais governantes. O súbito surgimento inconcebível dessa moça da floresta e suas abstratas declarações são uma prova encarnada do delírio político do país. Com a queda do avião, houve uma grande reviravolta trágica que resultou em uma comédia de erros. Ninguém sabe o que vai nos acontecer.

Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada se move, porque a maior realização deste governo foi justamente a desmontagem da Razão. Se bem que nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no país não é um “desvio” da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas almas. O caudilhismo sindicalista de Lula serviu para entendermos melhor nossa deformação. 

Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos como “democracia, respeito à lei, ética”, viraram insuficientes raciocínios contra um cinismo impune. Lula com seu carisma de operário sofredor nos decepcionou, revelando-se um narcisista egoísta e despreparado, enquanto o melhor governo que tivemos, do FHC, ficou no imaginário da população como um fracasso, movido pela campanha de difamação sistemática e pela babaquice dos tucanos que não se defenderam. Os petistas têm mania da ideologia da contramão. Fizeram tudo ao contrário do óbvio, movidos por uma ridícula utopia revolucionária, quando na realidade só fizeram avacalhar o país.

Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades fecundas como um adubo sagrado, belas como nossas matas, cachoeiras e flores. Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da terra, tudo como plano de aceleração do crescimento. Fizeram tudo para a reestatização da economia, incharam a máquina pública, invadiram as agências reguladoras, a Lei de Responsabilidade Fiscal, em busca de um getulismo tardio, com desprezo pelas reformas, horror pela administração e amor aos mecanismos de “controle” da sociedade, esta “massa atrasada” que somos nós. A esquerda psicótica continua fixada na ideia de “unidade”, de “centro”, ignorando a intrincada sociedade com bilhões de desejos e contradições. Acham que a complexidade é um complô contra eles, acham a circularidade inevitável da vida uma armação do neoliberalismo internacional.

Os petistas têm uma visão de mundo deturpada por conceitos acusatórios: luta de classes, vitimização, culpados e inocentes, traidores e traídos. Petistas só pensam no passado como vítimas ou no futuro como salvadores e heróis. O presente é ignorado, pois eles não têm reflexão crítica para entendê-lo. Reparem que Dilma na TV só fala do que “vai fazer”, se for eleita. Por que não fez antes, nos 12 anos da incompetência corrosiva? A solução é mentir: números falsos, contabilidade falsa. Antigamente, se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as patranhas são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira. É isso aí, amigos, o bicho vai pegar. Em quem?

ORLANDO TAMBOSI: PT já tem vergonha de si próprio. Para enganar o eleitor, esconde os símbolos.


Vergonha das bandeiras vermelhas, vergonha da estrelinha comunista, vergonha do número 13, que se transformou em símbolo da corrupção no Brasil. Sim, nenhuma dessas marcas que identificaram o petismo apareceu na carreata promovida por Lula e Dilma no berço da seita, São Bernardo do Campo. O fato é que agora os petistas querem enganar o eleitor escondendo sua identidade:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou a principal adversária do PT à Presidência, Marina Silva (PSB), ao afirmar não existir "duas escolhas nem uma e meia" nestas eleições, em ato político realizado ontem em São Bernardo do Campo (SP).

Ao lado da candidata à reeleição Dilma Roussef (PT), Lula omitiu o nome da ex-senadora, mas fez clara menção à presidenciável do PSB. "Se quisermos o bem desse país, (...), que continue sendo produtivo, gerador de emprego, gerador de riqueza e não um país subordinado ao sistema financeiro, nós não temos duas escolhas nem uma e meia. Só temos como escolha votar na presidente Dilma para a reeleição".

Lula reiterou crítica à mídia e disse que a imprensa não quer "que o PT continue governando este país". "Parece que eles não gostam que o pobre melhore de vida, que tenha ascensão social". O ex-presidente enfatizou que suas gestões e a de Dilma geraram 11 milhões de empregos com carteira, "enquanto a Europa (...) mandou embora 62 milhões de trabalhadores".

Ao lado de Lula, em palanque improvisado na praça da matriz, a presidente também desferiu ataque à candidata do PSB, dizendo que seus adversários na disputa presidencial querem arrochar o salário dos trabalhadores e deverão aumentar o desemprego no país. Dilma afirmou que está em jogo o "projeto de desenvolvimento do Brasil" e que os governos do PT "nunca ficaram do lado dos mais ricos".

"O que nos distingue dos nossos adversários, tanto da Marina quanto dos demais, é que colocamos no centro das nossas preocupações as pessoas", disse Dilma. "Eles preferem medidas de arrocho salarial e que vão levar necessariamente ao desemprego", afirmou a plateia de sindicalistas, petistas e cabos eleitorais pagos.

Em seguida, a presidente disse que seu governo é contrário a "aumentar o preço da gasolina" e "aumentar impostos". "Lutaremos com unhas e dentes para impedir que façam do desemprego e da diminuição dos salários arma para combater a crise [econômica internacional]", disse.

Antes do evento, Dilma também criticou as propostas econômicas defendidas por Marina. Em entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a presidente disse que sua adversária quer reduzir "a política industrial a pó" e sinalizou que a presidenciável do PSB pretende "acabar com o papel do BNDES".

"Fiquei muito preocupada com o programa da candidata Marina, porque reduz a pó a política industrial. [Ela] tira o poder dos bancos públicos de participar do financiamento da indústria e da agricultura", declarou.

Em outro ataque, Dilma disse que a criminalização da homofobia não está relacionada à crença religiosa, nem a partido político. Segundo a mandatária, não existe democracia sem respeito aos direitos humanos. A declaração da presidente se deu em meio à polêmica envolvendo o programa de governo de Marina, que recuou nas propostas voltadas à comunidade LGBT. "Não tem nada a ver com questão religiosa, com o Estado brasileiro estar interferindo onde não pode. É reprimir, criminalizar qualquer ato que signifique ferir uma pessoa baseado em critérios não civilizados", afirmou.

No palanque ao lado de Lula e Dilma, o coordenador da campanha presidencial em São Paulo e prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (SP), também criticou Marina por ter "mudado de lado": "Sabemos que a adversária vem com fala mansa, dizendo que é a nova política. Qual é a nova política, dona Marina?", questionou, referindo-se à ex-petista. "Você mudou de lado. Deu seu programa de governo para os banqueiros. Quem escreveu foi o Setubal, do Itaú", disse Marinho, referindo-se à coordenadora do programa de governo de Marina, Maria Alice Setubal, a Neca, herdeira do banco Itau.

Antes do discurso, Dilma, Lula e Marinho participaram de carreata em São Bernardo, berço político do ex-presidente. A presidente recebeu flores vermelhas, tirou fotos, mandou beijos e apertou mãos. Mas quem roubou a cena foi o ex-presidente, que ouviu gritos de "Volta Lula". No carro, orientou a candidata sobre o essencial no discurso.

No programa de Dilma no horário eleitoral gratuito da TV, a governabilidade de eventual gestão do PSB foi colocada em dúvida. "Será que ela quer? Será que ela tem jeito para isso"?, questionou a propaganda sobre a capacidade da ex-senadora em negociar com outras legendas para formar uma maioria no Congresso para aprovar projetos de lei.

Foram usadas cenas do debate de segunda-feira no SBT. A campanha exibiu trechos em que Dilma expôs o que considera contradições da ex-senadora. Um apresentador afirmou que ninguém governa sem o apoio de outros partidos e que a base de Marina está restrita a 33 parlamentares. (Valor Econômico).

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