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segunda-feira, abril 21, 2014

PASADENA: Lula reuniu-se com executivos da Astra Oil, na Escandinávia, antes de comprar 50% da refinaria de Pasadena

Do Blog do Noblat

Cerveró não esclarece a compra de refinaria nos EUA

Gabriel Garcia

O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró entrou na audiência realizada, nesta quarta-feira (16), na Câmara como homem-bomba. Saiu aclamado por deputados do PT.

A oposição acreditava que haveria revelação sobre a compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006. Apelou para o emocional do ex-diretor, mencionando a família dele que estava presente à audiência. Mesmo assim, Cerveró calou-se.

Cerveró não fez estrago algum à imagem do governo. Poupou a presidente Dilma Rousseff. Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras quando a compra foi autorizada. Ela disse que apoiou a compra com base em parecer técnico falho. Quem foi o responsável pelo relatório? Cerveró.

Após o depoimento, aumenta a pressão para instalar a CPI da Petrobras. Os parlamentares da oposição dizem que o ex-diretor da estatal falta com a verdade. E falam que o discurso foi combinado com o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli.

“Na CPI, Cerveró não vai poder fugir das perguntas”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

O PT cumpre sua missão: blindou Dilma no caso da compra da refinaria, considerado um mau negócio pela presidente da Petrobras, Graça Foster, em audiência no Senado.

A única novidade é o fato de que, em setembro de 2007, Gabrielli levou o ex-presidente Lula para conversar com executivos da Astra Oil, em viagem à Escandinávia. Foi nesta ocasião em que se definiu a compra (ou a venda) de 50% da refinaria. Depois, Cerveró negou a participação de Lula.

CLAUDIA SAFATLE: Registro de um retrocesso

Coluna - Claudia Safatle
Valor Econômico - 11/04/2014
O que mais impactou empresários que nutrem simpatia pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e compartilham do coro "Volta Lula", na entrevista que ele deu para um grupo de blogueiros que apoiam o governo, na terça feira, foi a forma dura e insistente com que o ex-presidente defendeu o controle da imprensa. "Perdemos um tempo precioso e não fizemos o marco regulatório da comunicação nesse país", disse Lula. "Temos que retomar com muita força essa questão da regulação dos meios de comunicação do país. O tratamento à Dilma é de falta de respeito e de compromisso com a verdade", completou, deixando claro que advoga a censura de conteúdo.

A perplexidade pode ser conferida em uma reunião habitual na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no dia seguinte à entrevista. Segundo relato de um dos presentes, "a entrevista causou mal-estar". Até então se imaginava que a discussão sobre instrumentos de controle da mídia fosse somente uma proposta de um ou dois assessores do ex-presidente. "Mas não, é do Lula!", disse.

No Congresso, o divulgador da ideia que agora passou a ser vista como uma medida de força que conta com o apoio do ex-presidente, era o deputado André Vargas (PT-PR) que, por força de denúncia de corrupção, renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara.

Defesa do controle da mídia fere imagem de Lula
Não foi só pelo ataque frontal que o ex-presidente fez à mídia que a entrevista "assustou" mas, também, pelo fato de que Lula "mostrou que fechou os olhos: não há Petrobras e não houve o mensalão", comentou a fonte.

Na tentativa de compreender os reais motivos que o estimularam a subir o tom da defesa do controle do que é divulgado pela meios de comunicação, concluiu-se que pode ter sido um "erro grosseiro" do ex-presidente que, no entanto, é capaz de criar uma resistência não desprezível "junto a pessoas que estão com ele".

Não é segredo que parte do setor privado é contra a reeleição de Dilma Rousseff e torce para que Lula se coloque como candidato ao Palácio do Planalto este ano.

Logo no início da entrevista de mais de três horas aos blogueiros, ele disse: "Acho que os meios de comunicação no Brasil pioraram do ponto de vista da liberdade, do ponto de vista da neutralidade e agora que vocês [os blogs] tão fortemente conquistaram a neutralidade da internet, têm que começar a campanha para conquistar a neutralidade dos meios de comunicação para eles pelo menos serem verdadeiros. Podem ser contra ou a favor, mas que a verdade prevaleça".

Como exemplo de supostas inverdades, o ex-presidente citou: "Vejo alguns números colocados por pessoas da Petrobras e os números colocados pela imprensa e eles não batem entre si", referindo-se aos dados divulgados sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em uma operação muito controversa e obscura da estatal brasileira. "Estamos sendo conduzidos por uma massa feroz de informações deformadas", acusou o ex-presidente.

No decorrer da entrevista ele voltou ao tema e aumentou os decibéis. "No fundo, no fundo, e vocês todos são pessoas informadas, a imprensa construiu quase que o resultado desse julgamento [do mensalão]. Eu me pergunto como é possível uma CPI que começou investigando o desvio de R$ 3 mil em uma empresa pública [os Correios ], que era dirigida pelo PMDB e que investigava um cara do PTB, terminou no PT? É indescritível!".

Alguns minutos depois, retomou o assunto: "Espero que a história do mensalão seja recontada nesse país e, se eu puder, vou ajudar a reconta-la. Como uma CPI que começou por causa de R$ 3 mil nos Correios terminou no mensalão? Temos que mostrar qual foi o papel da imprensa!". Antes de encerrar, disse: "O mensalão foi o mais forte processo político desse país em que a imprensa teve papel de condenação explícita antes de cada sessão, de cada ato" E concluiu: "Nunca vi nada igual! O massacre era apoteótico!"

Dilma Rousseff, tão logo assumiu a Presidência, em janeiro de 2011, deixou claro que não apoiaria a ideia de um março regulatório da mídia que assessores do ex-presidente deixaram como herança para o novo governo. Dilma foi firme ao negar seu apoio à proposta: "Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras".

As críticas à condução da economia que os meios de comunicação veiculam também seriam, em boa parte, fruto de "notícias deformadas", na visão de Lula. Ele contou que em 2007, em um encontro com Mário Soares, ouviu deste que não estava entendendo o que estava acontecendo no Brasil. Com uma pilha de jornais e revistas do exterior debaixo do braço, o ex-presidente de Portugal disse: "Os jornais do mundo dizem que o Brasil é coqueluche, um país extraordinário, e nos jornais brasileiros vejo que o país está acabado!".

Lula convocou Dilma e todos os ministros a partirem para a ofensiva, irem para cima. "Hoje a gente não está só, a gente tem a internet. Cadê o blog da Petrobras que foi tão importante na CPI de 2009?". Ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que deu um conselho: "Guido, você tem que ter uma equipe de alerta. Saiu uma mentira, você tem que falar, usar o direito de resposta". Ele ressaltou alguns bons indicadores econômicos do país - reservas cambiais, a dívida líquida e bruta que diz não serem altas, o aumento da classe média, o crescimento que não é tão ruim. Mas, nesse caso, admitiu: "Poderíamos estar melhor e a Dilma vai ter que dizer isso na campanha, como é que a gente vai melhorar a economia".

Se o ex-presidente pretendeu colocar um freio de arrumação no governo e na campanha de Dilma, os excessos do seu discurso vistos até por alguns de seus colaboradores pode ter fragilizado sua intervenção.

O fato de ele dizer que "a Dilma é minha candidata" pesou pouco para os que estão convencidos de que ela pode perder a reeleição e não vislumbram saída para Lula senão lançar-se em sua própria campanha. Para uma fatia de representantes do setor privado que o apoia, a entrevista de Lula aos blogueiros teria mostrado o retrocesso de um personagem que despertou para a política e para a história impulsionado pela cobertura da imprensa e por mais de uma vez se considerou "um produto da imprensa".

Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras

Brasileiros produzem primeira cabra clonada e transgênica


FOTO: Gluca, a cabrita clonada. Crédito: Jarbas Oliveira/Estadão

Texto de Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

 Animal, o primeiro do tipo na América Latina, é geneticamente modificado para produzir no leite uma proteína humana, usada no tratamento da doença de Gaucher

 
Nasceu há pouco mais de duas semanas, em Fortaleza (CE), a primeira cabra clonada e transgênica do Brasil — e da América Latina. Chamada pelos cientistas de Gluca, ela possui uma modificação genética em seu DNA que deverá fazer com que ela produza no seu leite uma proteína humana chamada glucocerebrosidase, usada no tratamento da doença de Gaucher.

Trata-se de uma doença genética relativamente rara, porém extremamente custosa para o sistema público de saúde. Segundo informações levantadas pelos pesquisadores, o Ministério da Saúde gasta entre R$ 180 milhões e R$ 250 milhões por ano com a importação de medicamentos para o tratamento de pouco mais de 600 pacientes com Gaucher no Brasil.

As drogas importadas são baseadas em proteínas produzidas in vitro, cultivadas em células transgênicas de hamster ou de cenoura, por empresas nos Estados Unidos e em Israel. A proposta da pesquisa brasileira seria produzir a glucocerebrosidase no País, no leite de cabras transgênicas, a custos muito inferiores ao da produção em culturas celulares.

“Alimentar cabras é bem mais barato do que alimentar células; e o processo final de purificação da proteína é basicamente o mesmo”, diz a pesquisadora Luciana Bertolini, da Universidade de Fortaleza (Unifor), que é uma das coordenadoras do projeto.

A cabritinha Gluca nasceu no dia 27 de março e não apresenta, por enquanto, nenhum problema de saúde. “Ela já nasceu berrando, superativa, sem qualquer complicação”, empolga-se a Luciana, que é bióloga molecular e trabalha no projeto com o marido Marcelo, que é veterinário. Dentro de quatro meses, os cientistas poderão iniciar a indução hormonal de lactação e confirmar a presença da proteína humana no leite do animal. “Precisamos saber quanto da proteína está sendo expressa e testar sua atividade biológica”, explica Luciana.

Que a cabrita é transgênica, pelo menos, não há dúvida. Essa é grande vantagem de se usar a clonagem, versus fertilização in vitro: a certeza de que todos os embriões transferidos para as fêmeas gestantes são transgênicos. Isso porque a modificação genética já vem “embutida” e confirmada na célula que é usada para fazer a clonagem; enquanto que na fertilização in vitro é preciso injetar o gene nos embriões e transferi-los para o útero das cabras sem saber se o gene se inseriu com sucesso no DNA das células embrionárias (técnica conhecida como microinjeção, que já foi usada para produzir outras cabras transgênicas no Brasil nos últimos anos).

“Com a microinjeção, às vezes nascem 15 a 20 animais para você conseguir 1 transgênico. Na clonagem, qualquer um que nascer você já tem certeza que é transgênico”, explica Luciana. “Assim você evita muitas gestações desnecessárias.”




INFOGRÁFICO ESTADÃO

Contabilidade. Gluca é o único clone nascido até agora de um grande esforço de reprodução, que envolveu a transferência de mais de 500 embriões clonados para 45 cabras receptoras, resultando em 8 gestações (ou prenhezes). Ela tinha uma “irmã” de útero na mesma gestação, que morreu logo após o parto, vítima de anomalias congênitas que são comuns aos clones de mamíferos, como tamanho exagerado, órgãos aumentados e malformações cardíacas. Apenas uma das oito prenhezes ainda está em andamento.

O gene inserido no DNA dos animais é uma cópia do gene humano que comanda a síntese da glucocerebrosidase, acoplado a uma outra sequência genética (chamada de promotor) que faz com que o gene, apesar de estar presente em todas as células da cabra, seja ativado apenas nas células das glândulas mamárias – fazendo com que a proteína seja produzida apenas no leite e não no sangue, por exemplo.

A construção do gene e do promotor foi realizada pela empresa Quatro G Pesquisa e Desenvolvimento, instalada no parque tecnológico (Tecnopuc) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que também será responsável posteriormente por purificar a proteína do leite.

Se tudo der certo e o leite de Gluca for rico em glucocerebrosidase (há a possibilidade de o gene ter se inserido corretamente no genoma, mas a produção da proteína ser baixa), os cientistas poderão usar suas células para fazer novos clones, geneticamente idênticos a ela, e assim começar a formar um rebanho para produção da proteína em larga escala, para uso terapêutico.

“Estamos dando o primeiro passo na direção de uma futura terapia de reposição enzimática para Gaucher”, diz a diretora de desenvolvimento da Quatro G e co-coordenadora do projeto, Jocelei Chies. “O Brasil não tem nenhuma proteína recombinante (produzida por meio de transgenia) para uso humano que seja feita aqui.”

Nos EUA, uma droga chamada ATryn (antitrombina humana) já é produzida exatamente dessa forma, no leite de cabras transgênicas.

Mutação. A glucocerebrosidase é uma enzima que atua no metabolismo de lipídeos (gorduras). Portadores da doença de Gaucher possuem mutações que interferem na síntese dessa enzima, resultando num acúmulo de gordura dentro das células, que pode causar uma série de problemas, principalmente no fígado e no baço. O tratamento, portanto, consiste em repor essa enzima no organismo por meio da administração intravenosa de glucocerebrosidase ou outra proteína com função parecida.

Os dois medicamentos disponíveis no mercado internacional são produzidos pela Genzyme, nos EUA (utilizando células transgênicas de hamster), e pela Protalix Biotherapeutics , em Israel (utilizando células transgênicas de cenoura). Em junho de 2013, a Protalix assinou um acordo com o governo brasileiro para transferir sua tecnologia de produção para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) num prazo de sete anos – durante os quais o Ministério da Saúde, em contrapartida, deverá comprar, no mínimo, US$ 280 milhões do medicamento da empresa, até que ela possa ser produzida no País.

A fábrica nacional da droga, ironicamente, deverá ser construída justamente na região metropolitana de Fortaleza, próximo da unidade da Unifor onde ficam as cabras transgênicas do projeto.

Luciana ressalta que a proteína da Protalix, chamada taliglucerase alfa (nome comercial Uplyso), só pode ser usada para um dos três tipos de Gaucher, além de outras restrições, pelo fato de ser produzida em células vegetais. Já a glucocerebrosidase produzida no leite de cabras transgênicas seria essencialmente idêntica à humana e aplicável a todos os tipos da doença.

A pesquisadora destaca ainda que o objetivo não é apenas produzir uma cabra transgênica, publicar um trabalho científico e parar por aí. “Queremos gerar um produto que seja eficiente e acessível àqueles que precisam dele; esse é o nosso sonho”, diz. O projeto vem sendo desenvolvido há três anos e foi financiado principalmente pela Finep (R$ 2,5 milhões), com apoio também da Fundação Edson Queiroz, Unifor e Agropecuária Esperança.



 Foto: Luciana Bertolini com o marido, Marcelo (com Gluca no colo), e alunos da Unifor que participam do projeto (com a cabra adulta da qual Gluca foi clonada). Crédito: Jarbas Oliveira/Estadão


O mesmo grupo da Unifor tem um projeto semelhante para produzir cabras transgênicas com os genes de lisozima e da lactoferrina, duas proteínas importantes para o combate à diarreia infantil no semiárido nordestino. A cabrita transgênica (mas não clonada) Lisa, nascida no ano passado, deu à luz uma cabritinha no fim de março, e suas células já estão sendo usadas para produzir embriões clonados com os genes das duas proteínas embutidos.

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