O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com o ex-Delegado de Polícia e ex-Secretário Nacional de
Justiça, Romeu Tuma Júnior.
Recentemente Romeu Tuma Júnior escreveu, o que é hoje um dos maiores
trabalhos sobre verdades e fatos da história recente da república, com
denúncias e fatos que abalam as estruturas do Planalto. Seu livro
“Assassinato de Reputações – um crime de Estado”, escrito em conjunto
com o jornalista, Claudio Tognolli, apresenta uma série de histórias e
verdades sobre como o Estado atual destrói os valores fundamentais da
democracia brasileira em favor de um projeto individual de poder, e
principalmente para um partido.
Brasil no Mundo: O Brasil, e o mundo, vêem de forma estarrecida os
acontecimentos nefastos contra a Petrobras. O que seria o grande “salto
estratégico e de riqueza” para o Brasil, hoje está cercada de mistérios
e negócios escusos. Como o senhor vê os últimos acontecimentos na
Petrobras?
Romeu Tuma Júnior: Estou estupefato, mesmo admitindo não ser
muito surpreendente, afinal esse governo tem partidarizado, no pior
sentido, tudo o que é possível. E quando digo partidarizar, não é só
instrumentalizar as empresas e o aparato estatal, mas efetivamente se
apropriar das coisas do Estado como se fossem suas. Eles definitivamente
criaram um estado paralelo se apropriando dos órgãos públicos.
Brasil no Mundo: A Polícia Federal cumpriu mandato de busca e
apreensão na Petrobras após as diversas denúncias e apurações referentes
a corrupção, contratos irregulares, desvios de recursos, decisões
equivocadas do conselho e da presidência. Ao mesmo tempo, parece que a
ação da PF fica com um ar de “teatro armado” em função da própria
presidência da Petrobras agir como grande “policial” de si mesma. Como o
senhor analisa a atuação da PF neste caso, e a própria atitude da
Presidência da República em neutralizar as operações?
Romeu Tuma Júnior: Na minha modesta opinião, a Polícia Federal
descumpriu uma ordem judicial, ou divulgou uma nota a imprensa
ratificada pelo Ministro contendo informações inverídicas.
Veja o seguinte. Se ela recebeu uma ordem com um mandado de Busca e
Apreensão na Presidência da Petrobras, eles (PF) não podem chegar lá e
se contentar em receber alguns documentos “separados” e entregues pelos
representantes da Empresa! Se havia essa possibilidade, bastava um
ofício solicitando o documento específico que se necessitava.
Está muito claro que alguma coisa ocorreu porquê eles ficaram muitas
horas lá dentro, e depois soltaram duas notas combinadas, uma da PF e
outra da Petrobras.
O que eu questiono é o seguinte: A PF agiria da mesma forma quando
fosse fazer busca na casa, na empresa ou em qualquer outro local de
propriedade de algum adversário político ou desafeto do governo? O
Ministro da Justiça viria a público declarar que as pessoas estão
colaborando? É óbvio que não!
Tem muito a ser esclarecido neste episódio. De cada vergonha é possível conceber outra maior ainda.
Isto prova a instrumentalização da PF e o esforço do governo em neutralizar as ações que são realizadas por ordem judicial.
Brasil no Mundo: É mais do que notório que nos corredores da
Petrobras existe um “estado” de espionagem contra funcionários. Um
verdadeiro “Estado policialesco” para controlar quem fala com quem, e o
que se pensa. Este ambiente não lembra os tempos do SNI instalado em
praticamente todas as estatais e também ministérios?
Romeu Tuma Júnior: Lembra sim, mas com uma importante
diferença: naquele tempo, a preocupação era com os “estrangeiros” com a
espionagem internacional que pudesse “roubar” nossas riquezas, e hoje é
com relação aos funcionários, as suas posições político-partidárias, as
suas ligações pessoais, enfim, hoje, o governo espiona o próprio
funcionário, que para ele é o inimigo.
É a essência do Estado Policial implantando por um governo policialesco.
Brasil no Mundo: Será que Snowden estava certo, os Estados Unidos
já sabiam de tudo o que estava acontecendo na Petrobras? Diferente do
que os deputados e senadores brasileiros achavam, não é?
Romeu Tuma Júnior: É bem possível que sim. Como eu disse, não é
difícil imaginar que isso esteja ocorrendo em outras empresas de grande
porte, e em diversas áreas do Estado brasileiro, que por sinal tem sido
terceirizada para um grupo político-partidário.
Brasil no Mundo: O seu livro “Assassinato de Reputações – um crime
de Estado” há semanas está nas primeiras posições dos mais vendidos do
país. Como o senhor vê este sucesso e o impacto junto ao público
brasileiro?
Romeu Tuma Júnior: Vejo como um livro documentário que
despertou a sociedade brasileira a conhecer os verdadeiros fatos que
constroem nossa História.
Brasil no Mundo: Mais uma vez o Brasil conseguiu mais um indicador
internacional negativo para sua coleção. De todos os assassinatos no
mundo, o Brasil tem 11,4% de participação. Como o senhor vê a escalada
da violência no país? E que soluções, se existem, poderiam ser
efetivamente aplicadas?
Romeu Tuma Júnior: É uma vergonha! Fruto da falta de uma
política nacional de Segurança Pública capaz de envolver a União, os
Estados, Municípios e a Sociedade nesse enfrentamento, despolitizando o
debate e retirando-o da agenda eleitoral.
O governo federal tem se mostrado incapaz de gerenciar um Sistema
integrado que convirja para a diminuição da violência urbana e
principalmente para que anule a criminalidade de ocasião, que é a que
mais incomoda as pessoas no dia a dia.
Nem o problema do queijo suíço que são nossas fronteiras, o governo federal resolve!
Fonte: Blog Brasil no Mundo