Cuba admitiu estar por trás de um carregamento militar que foi
descoberto dentro de um barco com a bandeira da Coreia do Norte retido
pelo governo do Panamá.
O navio Chong Chon Gang, procedente de Cuba, foi detido na semana
passada quando se aproximava do Canal do Panamá com armas não declaradas
escondidas sob um carregamento de açúcar.
O governo do Panamá disse que a embarcação contrabandeava "um equipamento sofisticado de mísseis" através do canal.
Na noite dessa terça-feira, o ministro de Relações Exteriores de Cuba
disse em comunicado que o navio levava armas obsoletas cubanas para
serem consertadas na Coreia do Norte.
Sanções da ONU impedem que a Coreia do Norte exporte e importe armas. No
caso das importações, apenas armamentos leves são permitidos.
Entenda o que se sabe até agora sobre o incidente:
O que aconteceu?
O ministro da Segurança do Panamá, José Raúl Mulino, disso à BBC que "o
barco foi detido na quarta-feira passada, por causa de uma informação
relacionada com drogas".No entanto, ele afirmou que os armamentos foram descobertos na segunda-feira.
"O fiscal antidrogas foi quem deu a ordem. No entanto, como houve
resistência e violência da tripulação ─ o capitão tentou suicidar-se
duas vezes ─ tivemos esse problema até o sábado à noite, quando o barco
já estava no porto e a tripulação fora do barco. Pudemos então começar a
trabalhar sem parar, como se está trabalhando", disse o ministro.
Na terça-feira à noite, um comunicado oficial do Ministério das Relações
Exteriores cubano admitiu que o navio levava armas obsoletas de Cuba
para serem consertadas na Coreia do Norte.
No entanto, a nota diz que Cuba reafirma seu compromisso com "a paz, o
desarmamento, incluindo o desarmamento nuclear, e o respeito pelas leis
internacionais".
O que se sabe sobre o carregamento?
Cuba afirmou que o navio carregava 240 toneladas de "armamento de defesa
obsoleto" ─ dois complexos de mísseis anti-aéreos, nove mísseis
divididos em partes menores, dois aviões de caça MiG 21-Bis e 15 motores
de MiG.
O comunicado cubano disse que as armas haviam sido fabricadas em meados
do século 20. Elas passariam por uma manutenção na Coreia do Norte e
seriam levadas de volta ao país.
"Os acordos assinados por Cuba nesse campo incluem a necessidade de
manter nossa capacidade defensiva para preservar nossa soberania
nacional", diz a nota.
O país afirmou ainda que o navio estava carregado com cerca de 10 mil toneladas de açúcar.
O governo do Panamá estava descarregando o navio para investigar seu
conteúdo. "É uma barbaridade de açúcar e como os tripulantes danificaram
os guindastes do próprio barco, é preciso tirá-la com guindastes de
fora e com mão de obra humana, saco a saco. É um trabalho grande", disse
o ministro de Segurança José Mulino.
O presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, fez o anúncio da detenção do barco em sua conta no Twitter.
Martinelli afirmou não é permitido navegar através do Canal do Panamá com armas de guerra não declaradas.
O navio norte-coreano deixou o extremo leste da Rússia em abril e cruzou
o oceano Pacífico com seu sistema de localização automática desligado ─
uma manobra "suspeita", segundo o correspondente de segurança da BBC,
Frank Gardner.
O que aconteceu com o barco e com a tripulação?
As autoridades detiveram cerca de 35 membros da tripulação, quem teriam resistido fortemente, segundo Martinelli.
A agência de notícias Reuters cita uma entrevista do presidente a um
canal de televisão do país, em que ele teria dito que o capitão do navio
tentou o suicídio depois que a embarcação foi apreendida.
Os tripulantes e o capitão foram levados à ex-base aeronaval americana
de Sherman, que agora está sob a direção do Serviço Aeronaval do Panamá.
O ministro de Segurança, José Raúl Mulino, afirmou que o governo
consultará a ONU para determinar a que organismo teria que entregar os
prisioneiros caso se confirmasse o contrabando de armas de guerra.
O navio Chong Chon Gang já havia sido objeto de controvérsias em anos anteriores.
Hugh Griffiths, especialista em tráfico de armas do Instituto
Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo, na Suécia, diz que a
embarcação havia sido capturada anteriormente por traficar drogas e
munições, segundo a agência de notícias Associated Press.
O barco foi retido em 2010 na Ucrânia e foi atacado por piradas na costa
da Somália em 2009. Nesse mesmo ano, chamou a atenção do Instituto por
causa de uma parada que fez em Tartus, o porto sírio onde a Rússia tem
uma base naval.
Que restrições pesam sobre a Coreia do Norte em relação a armamentos?
As sanções da ONU impedem a Coreia do Norte de exportar e importar
armamentos. No caso das importações, só armas leves são permitidas.
As restrições se intensificaram logo depois que Pyongyang realizou seu
terceiro teste nuclear em 12 de fevereiro, quando os Estados Unidos
passaram inspecionar navios norte-coreanos suspeitos.
Nos últimos anos, diversos barcos norte-coreanos foram confiscados sob o regime de sanções da ONU.
Em julho de 2009, um navio da Coreia do Norte rumo à Birmânia (também
conhecida como Mianmar) foi obrigado pela marinha americana a voltar a
seu porto quando se suspeitou que ele levava armas.
Especialistas acreditam que Pyongyang está desenvolvendo uma ogiva
nuclear suficientemente pequena para ser colocada em um míssil de longo
alcance.
BBC/montedo.com