Após a divulgação do relatório que pede a rejeição das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff, integrantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tentaram ontem minimizar o efeito do parecer elaborado pela área técnica da corte. O julgamento será levado ao plenário hoje, último dia do prazo para analisar as receitas e despesas antes da diplomação da petista.
O relator das contas no TSE, ministro Gilmar Mendes, afirmou ontem que o parecer não tem caráter vinculante e a decisão final cabe aos sete ministros em plenário. "Ninguém precisa ficar nervoso com isso", disse Mendes, lembrando que, em 2010, na eleição de Dilma, já houve manifestação dos técnicos do tribunal apontando irregularidades, mas as contas foram aprovadas com ressalvas.
Dois integrantes do TSE ouvidos pelo Estado consideram que erros apontados pela área técnica são comuns nas prestações de contas e não devem criar grandes problemas para o PT, tampouco para Dilma. Mesmo assim, a previsão é de uma sessão longa, com fundamentações extensas por parte dos ministros e do Ministério Público.
Os técnicos do TSE apontaram irregularidades que representam 4% do total das receitas de Dilma - algo em torno de R$ 14 milhões - e 14% das despesas - cerca de R$ 48 milhões. Entre as irregularidades apontadas estão as divergências entre as declarações parciais das contas e a prestação final. Mendes lembrou que a prestação de contas parcial é uma "inovação" da Justiça eleitoral para permitir o melhor acompanhamento da arrecadação e dos gastos das campanhas, mas considerou a existência de problemas "operacionais" dos comitês para cumprir as determinações. "Não significa que quando o partido não cumpre (o calendário das prestações) ele está fazendo por dolo (com intenção)", disse.
O TSE pode aprovar totalmente, aprovar com ressalvas ou desaprovar as contas. A sanção, no caso da rejeição, seria a suspensão de repasses do Fundo Partidário ao PT. Antes de elaborar seu voto, Mendes deve aguardar o parecer do vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, hoje à tarde.
ENQUANTO ISSO...
O empresário Carlos Cortegoso admitiu nesta terça (9) que a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma Rousseff é dele, mas está em nome de outras pessoas, uma filha e um ex-motorista. "Eu que toco a empresa e sou o responsável. Eu precisava e ele [o ex-motorista] merecia. Ele era quem mais reunia méritos para ser recompensado'', disse.
Como a Folha revelou, a Focal Confecção e Comunicação Visual recebeu R$ 24 milhões da campanha, só ficando atrás da empresa do marqueteiro João Santana, destinatária de R$ 70 milhões. A firma, que declarou serviços na área de montagem de eventos, teve notas fiscais apontadas como irregulares por técnicos do Tribunal Superior Eleitoral que analisam as contas da petista. O julgamento da prestação de contas ocorrerá nesta quarta (10).
Cortegoso nega que o ex-motorista Elias Silva de Mattos seja um laranja: "Quem me dera o menino ser um laranja. Só se for um Citrosuco, só se for esmagado. Vou colocar um laranja junto com a minha filha?", questionou. Segundo o empresário, ele estava inadimplente em 2003 quando a empresa foi montada e pediu à sua filha, Carla Cortegoso, que fosse a titular do negócio. Juntou-se a ela José Marcos Bortalaia, funcionário de confiança dele. Com a saída de Bortolaia, em 2013, Cortegoso foi pressionado por seu contador a manter um segundo sócio. Cortegoso diz que não quis misturar a Focal com outra empresa.
"A Focal, muito voltada para campanha política, ficou muito marcada em função do mensalão e ia me restringir no mercado privado." Cortegoso e a Focal aparecem como destinatários de dinheiro do esquema do mensalão, segundo a lista entregue pelo empresário Marcos Valério à CPI dos Correios, ao Ministério Público e à Polícia Federal.
Cortegoso diz que foi autuado no período e pagou uma multa de R$ 1,5 milhão. A saída para a Focal, segundo ele, foi convidar Mattos para assumir a sociedade. Ele disse que não tinha outra pessoa de confiança, como alguém de sua família, para assumir a empresa.
Cortegoso disse que é da sua natureza'' dar chances para funcionários seus ascenderem e que não é estranho'' o motorista ser o dono da empresa."As pessoas brincam que eu tenho uma queda por motoristas. Eu digo que tenho mais queda por garçom porque eu fui garçom. Eu pretendo deixar minha empresa para todos os funcionários".
Sobre o valor de R$ 24 milhões que recebeu da campanha de Dilma para montar eventos pelo país, mais de 50, ele afirma que merecia o dobro''. "O João Santana é o mago e a gente que tem que carregar os ferros para colocar tudo aquilo em pé", disse.
Cortegoso disse ter parceria muito boa" com o marqueteiro. Seu primeiro contato no PT foi em 2002 com Paulo Okamotto, assessor de Lula. Depois com os tesoureiros do PT Delúbio Soares, Paulo Ferreira e João Vaccari Neto. Cortegoso diz que é líder no mercado e que faz comícios do PT desde 2006: "É muito difícil atender o PT. Ninguém aguenta. É muito dinâmico, tem cinco a seis eventos por dia em sete Estados".( Com informações da Folha e do Estadão)
Fonte: Blog do Coronel
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