No próximo feriado da Proclamação da República, milhares de brasileiros indignados estarão nas ruas para se manifestar contra uma série de fatores que têm colocado nossa democracia em risco. A pauta, que contém muitos itens – do impeachment da presidente Dilma à exigência do voto impresso, passando pela investigação do Petrolão -, tem sido alvo de críticas, especialmente pelos que apoiam incondicional e ideologicamente o atual governo.
Alguns ironizam o movimento, sugerindo que os manifestantes não sabem o que querem. Ora, essa aparente falta de foco tem um explicação: muitos acontecimentos preocupantes sucederam nos últimos anos diante dos olhos um povo que, via de regra, só pensa em política quando é obrigado a ir às urnas e, portanto, não se alarmava com o que via. Quem batalha para garantir a sobrevivência não tem vocação para o autoritarismo e, portanto, não faz ideia de que políticos possam almejar mais do que a mordomia vitalícia sustentada pelos que trabalham de fato. Afirmar uma década atrás que havia um plano para dominação socialista na América Latina, do qual todos os seus presidentes faziam parte, e que a “La Patria Grande” seria o objetivo de um presidente brasileiro, soava a teoria da conspiração. Quem alertava sobre o incêndio sob a chuva rala assemelhava-se antes aos profetas de porta de igreja a prever o Apocalipse a alguém com inteligência suficiente para dar ouvidos. Porém agora o quebra-cabeça está montado e as pessoas comuns estão indo às ruas, pela primeira vez, sem a convocação de qualquer liderança, com quase uma década de atraso.
Neste momento tudo vem à tona e haverá, consequentemente, o desejo de correr atrás do prejuízo num único ato. Esse afobamento por si já é prova de que os que estavam no MASP dia 1º de novembro e os que estarão no próximo dia 15 não são militantes partidários ou os manifestantes profissionais, como os que recebem dinheiro e lanche para dar volume a certos protestos. Estavam e estarão lá para gritar o que lhes aflige, para encontrar interlocutores e renovar as esperanças de que podemos mudar o caminho e não ter mais como destino o mesmo lamaçal em que se encontram os mais avançados nesse processo bolivariano: Cuba, Venezuela e Argentina.
A sucessão de fatos ocorridos nesses países nos permitiram enxergar que o tal Golpe Comunista, na forma em que o concebemos, não existe. Não haverá luta armada, assim como não houve na terra de Chávez e Kirchner. Estão tirando nossos direitos e nossas liberdades aos poucos. Com o perdão do exemplo batido, mas é o caso do sapo que pula quando jogado num caldeirão de água fervente, mas morre cozido se for colocado na água morna, se aquecida gradativamente. Não vimos o finado Chávez declarando o golpe. Havia (há) até eleições lá e todas as medidas autoritárias eram (são) aprovadas democraticamente...
A similaridade entre o que tem acontecido lá e o que começamos a observar aqui é deveras preocupante. Não é coincidência, por exemplo, que a imprensa livre seja atacada pelo governo regularmente. A revista Veja, detonada nos palanques petistas, teve sua sede depredada por publicar a transcrição de um depoimento dado à Polícia Federal – ainda que a reportagem afirmasse se tratar somente da fala do doleiro, que, por sua vez, ainda não havia apresentado provas das acusações feitas a Lula e Dilma-. Espantosamente, alguns jornalistas da imprensa chapa-branca comemoraram essa represália à maior revista do país. O sapo realmente não nota a temperatura da água a subir. Há quantos anos se fala em “democratização da mídia”, que tem por objetivo atacar a Abril, a Globo e demais jornais que critiquem o governo? Na Argentina, esse ataque ganhou o nome de Lei de Medios e praticamente destruiu o jornal de oposição à Kirchner. Tudo com o objetivo de favorecer a “liberdade de expressão por impedir a concertação de mercado”.
Voltando à Venezuela, o país recebe militares cubanos desde o ano 2000, com o objetivo de defender o regime chavista a todo custo. A repressão aos protestos lá ocorridos durante este ano foi promovida em boa parte pelos soldados vindos de Cuba, que não tiveram piedade nem de jovens, nem de mulheres. Enquanto o vizinho vive seu momento trágico, descobre-se que vários dos médicos vindos da ilha de Fidel Castro para o famigerado programa Mais Médicos, são, na verdade, militares infiltrados. Além do quadro assustador, cabe lembrar que o Brasil, sob o governo do PT, tem repassado verbas imensas para os amigos bolivarianos. Afinal, por que construir um porto em Cuba? Por que construir outro no Uruguai? Por que repassar quase meio bilhão de reais da Petrobras para a campanha à reeleição de Evo Morales?
O povo brasileiro é escravo dos demais presidentes latino-americanos. Estamos financiando governos ruins, autoritários e incompetentes. Governos que estão empobrecendo seus países e tratando à paulada quem ouse falar o contrário. E já vislumbramos esse cenário perigoso tomando conta do Brasil.
É possível entender a indignação e o desespero de quem está utilizando seu tempo de descanso para gritar isso nas ruas, debaixo de sol forte ou de chuva. A gasolina aumentou, mas a Petrobrás pôde enviar meio bilhão para uma campanha política de um amigo do PT. Aumento de combustível traz consigo o aumento de todos os demais produtos, evidentemente. Pagamos impostos em comida, medicamentos e água. Não temos um único serviço público à altura das quantias que nos tomam à força, não temos segurança, enfrentamos filas em hospitais, nossas estradas são assassinas, e sabemos que a vida de um brasileiro nada vale, pois 60 mil assassinatos por ano não geram mais comoção.
Enquanto pagávamos a conta de toda essa obscenidade calados, estava tudo bem. Agora que passamos a falar contra isso, tentam nos calar. Se não pela imposição, fazem-no por meio de ofensas, deboche e cinismo. Ora chamando os manifestantes de fascistas, ora afirmando quepertencem à elite insatisfeitíssima com a ascensão da classe C – alguém crê que um pobre cursando uma universidade federal atrapalha em qualquer coisa a vida do colega playboy? Ou que os passageiros da primeira classe entram em depressão porque os da classe econômica estão na aeronave? – ou ainda destacando o fato de que senhoras compareceram à primeira passeata utilizando guarda-chuvas para se protegerem do sol forte. Sim, proteger-se do sol, para os jornalistas isentões, parece mais grave do que portar coquetéis Molotov na mochila e vandalizar a cidade utilizando máscaras. A esses últimos chamam ativistas. Já os que mostram a cara ao participar de manifestações pacíficas, sem ocorrências policiais e quebra-quebra, são ridicularizados.
Esclarecidos os pontos principais da manifestação, passemos ao ato do próximo sábado. Alguns temem ser confundidos com os que pedem intervenção militar e separatismo. Lamentavelmente, haverá grupos com essa pauta na multidão. E sim, por mais que ergamos faixas imensas pedindo liberdade de imprensa e democracia, haverá pessoas da própria imprensa a fotografar aquela minoria com seus cartazes estúpidos e tomando o todo pela ínfima parte no momento de narrar o fato. A Internet ajudará a desmentir isso, como desmentiu os “cerca de mil” manifestantes contados pela Folha com este vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=7DwDC5X-APg
Outra crítica frequente é o desentendimento entre os líderes da manifestação. Mas em se tratando de um movimento que surgiu espontaneamente, fica difícil até mesmo atribuir-lhe uma liderança. O que parece desprestigiar o ato, antes o legitima como movimento verdadeiramente popular. Haverá sim um caminhão de som que será seguido até o Ibirapuera. Nele, os que subirão para discursar apresentarão uma pluralidade de visões políticas, porém, retirado o manto das divergências, restará o mesmo conteúdo: amor pelo Brasil, o respeito à democracia e a luta pela liberdade.
Aquele que suportar ser ridicularizado pelos esquerdistas das redações depois de longa caminhada ao sol, ou debaixo de chuva como da última vez, por gritar contra o Foro de São Paulo e a favor do Brasil, será bem-vindo. Partiremos do MASP às 14h.
“A liberdade nunca está a mais do que uma geração de sua extinção. Não a transmitimos aos nossos filhos pelo sangue. Devemos lutar por ela, protegê-la, e entregá-la a eles para que façam o mesmo”. (Ronald Reagan)
Paula Rosiska é brasileira. No Twitter, @PaulaRosiska
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