Por Gaudêncio Torquato no Diário do Poder
Não há mais como esconder o sol com a peneira. A presidente reeleita, os novos governantes estaduais e a representação no Congresso Nacional terão de enfrentar, nos próximos tempos, o sol mais abrasador dos verões que o país viveu nas últimas décadas. A sociedade organizada está adiante do universo político. É visível a distância entre a esfera política e a esfera social.
As manifestações que despertaram a sociedade nos meados do ano passado refluíram, mas não significa que foram enterradas nas urnas. Ao contrário, a qualquer momento podem dar sinais de vida. A propósito, a Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, acaba de identificar 490 pontos de tensão no país, nas áreas urbanas e rurais de todos os Estados. Essas bombas-relógio deverão ser desarmadas pelos chefes de poder que governarão o país nos próximos quatro anos.
As massas aguardam apenas o momento adequado para disparar sua munição. Quando as demandas chegam ao pico, em decorrência de carências que se tornam agudas, as massas tendem a expandir sua densidade e a procurar um direcionamento. Se suas metas não forem atendidas, não se extinguem, podem se recolher momentaneamente para, mais adiante, voltar com mais ímpeto ao palco das pressões.
Pelo visto, não veremos um 2015 pacificado. As camadas tectônicas da política ainda não se acomodaram no território dividido pelo voto, e é pouco provável que se ajustem no curto prazo.
O debate faz bem à democracia, mas o discurso político, parta de onde partir, mesmo ancorado na animosidade, há de se regrar pelo império da lei e da ordem. Essa é a direção que se enxerga da fala do candidato tucano derrotado, indício de que a oposição tende a desempenhar seu papel sem extrapolar o limite do bom senso.
Da parte da candidata reeleita, já se ouviu a peroração com foco no diálogo. Resta se esforçar para que a militância petista, vestindo a roupa de milícia disposta a usar armas de grosso calibre, se convença de que o acirramento de ânimos não é a melhor estratégia.
Ao Congresso Nacional cabe uma releitura do país que saiu das urnas, com ênfase no clamor de grupos e regiões, sem procurar protelar a agenda das reformas. Aos partidos, urge chegar a um mínimo de consenso em torno de pontos centrais para a mudança dos padrões da política. O país não suporta conviver com a postergação de medidas de correção de rumos.
Senhores políticos de todos os partidos, afastem tal risco. Senhores do PT, tenham cuidado com a ideia de construir um “Brasil democrático-popular”. A convocação para a militância acorrer às ruas é saudável quando a causa for a defesa do Estado de direito. A criação de um amontoado de instâncias populares com essa finalidade poderá descambar no caos. E um controle social da mídia tem jeitinho de disfarce para censura.
Muita calma com o andor.
Longe de nós mudança à base do “pé na porta”.
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