Por Alessandra Corallo Nicacio
Pesquisadora de Reprodução Animal
Embrapa Gado de Corte
A estação de monta é um período extremamente importante para a bovinocultura de corte, pois seu resultado tem impacto direto sobre a produtividade: quanto maior a taxa de prenhez, mais bezerros nascerão para serem terminados e abatidos. A utilização da estação de monta permite manejos programados em períodos específicos do ano, lotes de nascimentos mais homogêneos e maior controle reprodutivo do rebanho.
Constantemente ouvimos a pergunta: quando deve começar a organização da estação de monta? A resposta é simples: durante a estação anterior. Mas se você ainda não começou, não se preocupe, ainda é possível correr atrás do prejuízo e organizar sua estação.
O interessante é que ao longo de todo o ano as matrizes sejam acompanhadas e avaliadas, especialmente em alguns momentos de manejo específicos. Um valioso critério que pode ser utilizado é a condição corporal ou escore de condição corporal (ECC), pois este permite que saibamos se o animal está recebendo aporte nutricional adequado às suas necessidades. Se o animal estiver magro podemos concluir que suas necessidades não estão sendo supridas, existe grande chance de problemas de fertilidade e a nutrição precisa ser corrigida. Se o animal estiver gordo significa que a alimentação que está sendo fornecida está acima do que o animal necessita e isso pode ser prejudicial para a fertilidade. Assim, recomenda-se que as matrizes tenham sua condição corporal avaliada em alguns momentos específicos como a desmama, o terço final da gestação e o parto.
São todos momentos de manejo com os animais e avaliar visualmente sua condição corporal não demora mais do que um minuto. E, o quanto antes for verificado que as matrizes estão em más condições, mais tempo existe para corrigir a situação. Além disso, quando a estação de monta se inicia, recomenda-se, também, que os animais sejam novamente avaliados para que seja possível, inclusive, saber se o manejo nutricional até aquele momento foi adequado ou precisa ser alterado (aqui já começa a programação da próxima estação).
Outro ponto importante que deve ser definido com antecedência é qual estratégia de acasalamento será utilizada. Existem três estratégias que podem ser consideradas conforme as condições de cada propriedade. Pode-se trabalhar com monta natural, inseminação artificial convencional (IA) ou inseminação artificial em tempo fixo (IATF). São estratégias que podem ser combinadas dentro da mesma propriedade, em uma mesma estação de monta. O importante é entender quando é melhor usar cada uma das estratégias e, assim, programar as atividades.
A IATF é uma estratégia que permite sincronizar as inseminações, exige que os animais sejam levados ao curral algumas vezes (entre 3 e 5 vezes, conforme o protocolo escolhido), tem um custo um pouco mais elevado, mas ao mesmo tempo, concentra as concepções e nascimentos, permite o uso de sêmen de touros com caraterísticas melhoradoras no rebanho e auxilia o retorno à ciclicidade no pós-parto. Por envolver um custo um pouco mais elevado, recomenda-se que seja utilizada no início da estação de monta, para priorizar sua utilização com as matrizes de melhor fertilidade e, principalmente, concentrando as concepções no inicio da estação. Salienta-se, porém, que a técnica deve ser utilizada com animais com pelo menos 30 dias pós-parto. Os índices de prenhez obtidos com IATF estão em torno de 50%, ou seja, com o primeiro protocolo de IATF pode-se esperar que metade das matrizes já fique prenhe. Após a primeira IATF pode-se realizar novo protocolo de IATF, pode-se trabalhar com IA convencional ou mesmo com touro de repasse. O retorno ao cio das fêmeas que não emprenharam da primeira IATF acontecerá após cerca de 21 dias. Para realizar a segunda IATF recomenda-se intervalo em torno de 30 a 45 dias e diagnóstico de gestação com auxilio de ultrassonografia. Para a IA é necessária a observação de cio, o que já permite verificar quais matrizes retornaram ao cio e, portanto, não estão prenhes da primeira IATF. Para o repasse com touro recomenda-se um intervalo de, pelo menos, cinco dias para evitar que os touros cubram as vacas recém inseminadas. Caso seja importante confirmar a paternidade dos bezerros esses intervalos de tempo devem ser recalculados.
A IA convencional pode ser utilizada como repasse da IATF, mas também pode ser a escolha para o início da estação de monta. Ao trabalhar com observação de cio é possível saber a condição de ciclicidade do rebanho. O custo da IA pode ser mais baixo por não ser necessário comprar os protocolos hormonais. Mas, por outro lado, existe o custo com recursos humanos para a observação de cio - a qual deve ser feita duas vezes ao dia, todos os dias - e o custo com rufiões para auxiliar a observação de cio. A observação de cio é um grande entrave à atividade devido às falhas que podem ocorrer. Cada cio não observado significa 21 dias do animal sem produzir. A incidência de manifestação de cio no período noturno dificulta sua detecção. Além disso, algumas raças apresentam períodos de cio mais curtos, por volta de 12 horas apenas, o que dificulta também sua observação. Outro problema muito comum é a detecção errada, de modo que fêmea que não está em cio é inseminada, e, assim, perde-se a dose de sêmen. Embora seja uma estratégia de custo mais baixo, sua eficiência também pode ser mais baixa devido a esses problemas citados, fato que vem contribuindo para a expansão do uso da IATF no país.
Já a monta natural é a estratégia adotada em cerca de 90% do rebanho nacional devido ao menor custo e maior simplicidade, pois, envolve apenas a aquisição e manutenção de touros. Entretanto, faz-se necessário que os touros sejam avaliados todos os anos no chamado exame andrológico. O exame andrológico deve ser realizado por médico veterinário, entre 30 e 60 dias antes da estação de monta, de modo que seja possível nova avaliação ou mesmo a reposição de animais diagnosticados com problemas. Além disso, somente devem ser adquiridos touros com exame andrológico datado com menos de 30 dias. O recomendado é que se utilize a média de 1 touro para cada 25 vacas (relação touro:vaca de 1:25), podendo ser utilizadas relações maiores ou menores, conforme as condições dos animais e da propriedade.
A decisão de qual estratégia será utilizada deve ser tomada com base em questões de cada propriedade, como disponibilidade de mão de obra, disponibilidade de recursos financeiros para investimentos, condição das instalações como currais e cercas. E, principalmente, esta é uma decisão a ser tomada em conjunto com administrador, técnicos e a equipe de trabalho. Os recursos humanos são peça tão importante nesse contexto quanto os animais, pois são eles que executarão as atividades e, portanto, precisam saber o que farão, porque e como. Além disso, a escolha da estratégia de acasalamento deve ser feita com antecedência para que os devidos insumos sejam adquiridos, os funcionários sejam treinados, os animais sejam avaliados e a estação de monta siga sem surpresas desagradáveis. E, se mesmo após toda essa organização, acontecerem problemas, estes devem ser anotados e corrigidos para a próxima estação.
Informações: Kadijah Suleiman
Jornalista, MTb RJ 22729JP
Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO)
Embrapa Gado de Corte
Campo Grande/MS
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Telefone: +55 (67) 3368-2203
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