Publicado em 19 de novembro de 2014 por Carol Zanette
Outro dia escrevi aqui que um dos animais mais interessantes da fauna brasileira é o petista que acha que o PT está transformando o Brasil em uma Noruega tropical. Não teve como não me lembrar disso depois que vi o Duvivier no Jô.
O cara diz que vota no PT, em linhas gerais, porque agora muitos têm acesso a bens de consumo. Ele diz que vota na esquerda porque quer todo mundo rico e que por isso não vê contradição alguma entre ser de esquerda e comer no Leblon. Eu, particularmente, pouco me importo com o quê ou onde o Duvivier come. Até onde me consta seu dinheiro e de sua família (sua mãe é uma cantora excepcional, voz divina) vêm de ganhos legais e honestos.
O que é interessante, pois raso, no raciocínio dele é a justificativa do voto. Vamos lá: é fato que o PT tornou universal um programa de assistência social cuja abrangência não era satisfatória. É fato também que o PT incentivou o crédito ao consumo, que possibilitou a muitos a aquisição de bens de consumo que eram antes objetos de desejo.
Porém a ideia de ligar bonança ao PT traz consigo muitos problemas, os quais tento enumerar aqui:
1- A riqueza, para existir, precisa continuar sendo gerada. No primeiro mandato do Lula houve uma tentativa de criar confiança institucional dos agentes que geram a riqueza no PT. Foi o que os analistas chamam de era Palocci. Não que Palocci fosse um santo, mas a dupla Palocci-Meirelles aperfeiçoou a base econômica e institucional herdada pelo governo anterior enquanto o PT fazia seus programas sociais (e José Dirceu fazia o mensalão). Interessante é ver que o pessoal que é petista “da gema” ou nunca menciona o Palocci ou praticamente não o defende. Se o faz, não é com o mesmo ardor com quem defende Genoínos e Dirceus. Por isso, creio que ele possa ter sido abatido da política por “fogo amigo”.
2- Ambientes que criam riqueza, seja esta intelectual, cultural, econômica, etc. são ambientes propícios ao contraditório. O PT sempre fez um discurso de animosidade em relação ao contraditório. É o tal do “nós x eles”, o dividir para conquistar. O fato de termos como “aliados” (hahahahahah) gente como Putin (Dilma foi a ÚNICA a sentar do seu lado no G20), Castro, Maduro et caterva, mostra que o partido nutre muito amor por totalitarismos. Como ter um ambiente propício ao contraditório com um discurso institucional de ódio?
3 – Não adianta estimular o consumo, distribuir riqueza, e não criá-la. E riqueza não é criada por um ente centralizador, no caso o Estado. Onde houve tentativa de centralizar a criação de riqueza, houve pobreza. Dilma, diferentemente de Palocci, não só acredita em algo equivocado (que ela pode criar a riqueza, afinal, ela é uma cepalina), mas acredita nisso dogmaticamente. A partir do momento em que esta senhora tomou as rédeas do país, a coisa começou a degringolar por ela fazer uma receita econômica que incentiva o consumo, mas é tosca na criação da riqueza.
4 – Criação de riqueza exige estabilidade. Não adianta os petistas-que-odeiam-Palocci desdenharem “os mercados”. Os mercados existem e, diferentemente dos consumidores individuais ou de pequenos grupos, no agregado funcionam mais ou menos de maneira racional (exceto quando estão psicóticos ou cegos, o que acontece também, mas não é o caso com a Dilma). Se as regras do jogo mudam durante o jogo, ninguém mais vai querer jogar. Advinhem? É o que a Dilma tem feito.
5 – Houve um crescimento dos países emergentes na primeira década do século XXI, em geral. É bem provável que com qualquer partido governando, com ideologia que não PSOL para baixo (porque aí a Venezuelização seria muito rápida), o padrão de vida geral melhorasse.
Duvivier poderia e faria muito bem se refletisse um pouco sobre esses pontos.
Carol Zanette
Doutoranda e mestre em Administração de Empresas - Estratégias de Marketing, pela EAESP – FGV. Graduada em administração de empresas pela FEA-RP USP. Atua nas áreas de pesquisa do consumidor, agricultura e ensino superior.
Fonte: Reaçonaria
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