Prezada Marina,
Não deu dessa vez. Novamente você ficou naquela marca expressiva de 20% do eleitorado. Entendo que dessa vez, ao contrário de 2010, o gosto de derrota é maior, pois houve, segundo as pesquisas, uma chance relevante de um segundo lugar, para disputar com a presidente no segundo turno. Houve equívocos que você e sua equipe saberão avaliar melhor do que eu.
Escrevi uma primeira carta aberta à senhora, apelando para que fosse candidata, justamente para impedir uma vitória no primeiro turno do PT, o que seria terrível para o país. Esse papel foi cumprido. Escrevo uma nova carta agora, com um apelo diferente: não fique neutra uma vez mais. O Brasil não merece tal postura.
Sua trajetória foi toda no PT, e isso foi inclusive usado pelo candidato tucano para lembrar aos eleitores quem é a verdadeira oposição ao projeto de poder lulopetista. Mas é inegável que sua campanha adotou tons claramente de oposição. Você se apresentou como opção à polarização entre PT e PSDB, só que o verdadeiro alvo foi o governo Dilma, como sabemos.
Em economia, setor fundamental para o país, sua equipe flertou abertamente com o projeto tucano. Eduardo Giannetti da Fonseca e Andre Lara Resende poderiam, ambos, compor o quadro de conselheiros de Aécio Neves. Em entrevista recente, a senhora declarou respeito profundo a Arminio Fraga, futuro ministro da Fazenda em eventual governo Aécio. Suas bandeiras incluíam a autonomia do Banco Central e o respeito ao tripé macroeconômico, o que lhe rendeu inclusive ataques pérfidos do PT.
O que me remete ao principal: como candidata com chances concretas de derrotar o PT, a senhora teve a chance de verificar como seus antigos aliados jogam baixo, sujo, mostram-se dispostos a “fazer o diabo” para se perpetuar no poder. Não há mais como alegar ignorância em relação aos métodos imundos dos petistas.
Aécio lhe atacou sim, mas com argumentos, e com respeito. Fez seu papel de candidato em corrida eleitoral, procurando destacar apenas quem tinha mais preparo, a melhor equipe, o histórico com mais experiência e quem realmente fazia oposição tradicional ao PT. É do jogo, ao contrário do que fez João Santana, o marqueteiro imoral de Dilma.
Portanto, prezada Marina, creio que pesa sobre sua cabeça um dever moral de cidadã brasileira que quer o melhor para o país, para a nossa democracia. Não é possível manter para sempre o discurso neutro contra a polarização. Tal discurso saiu derrotado nas urnas. O povo brasileiro terá que escolher entre PT ou PSDB, eis a realidade que se impõe. E espera de você uma escolha, um lado.
Em países europeus, partidos com viés ambientalista costumam ter poucas chances majoritárias, mas exercem influência com seus votos nos programas de governo. Eis sua função conquistada com seus milhões de votos hoje. Ser uma espécie de “fiel da balança”. Qual dos candidatos tem mais afinidade com um modelo de democracia sólida, com apreço institucional, com viés social-democrata?
Não restam dúvidas de que é o PSDB de Aécio Neves. O PT se mostrou um partido com forte ranço autoritário, intervencionista ao extremo, incompetente e arrogante, que se associa ao que há de pior mundo afora. Um partido que elogia os mais nefastos ditadores do planeta, ou que pede diálogo com terroristas fanáticos que degolam cabeças inocentes.
A magnitude de sua candidatura não lhe permite uma decisão acovardada de avestruz, como se não estivesse em jogo a sobrevivência da nossa própria democracia. Sua obrigação moral, Marina, é tomar partido, é ajudar a guiar seus eleitores na direção daquilo que é claramente o melhor para o país: a alternância de poder, para desaparelhar a máquina estatal, renovar os quadros técnicos, colocar no comando do país gente mais capaz, preparada, com uma visão de mundo mais democrática e aberta.
Faço aqui meu apelo, Marina. Demonstre ao povo brasileiro que está à altura dessa responsabilidade cívica. Tenho esperança de que você não cometerá o mesmo equívoco que cometeu em 2010.
Obrigado,
Rodrigo.
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