Rotina de censura: “Regular economicamente os meios de comunicação não é controle de conteúdo”
Um governo bolivariano não irá jamais (sob hipótese alguma) usar os termos verdadeiros para demonstrar suas reais intenções.
É exatamente este o cerne da censura sutil: implementar a censura de forma que ela não pareça ser uma censura para os observadores menos atentos, incluindo os observadores internacionais.
Um caminho é usar um frame mais “soft”, dizendo que não haverá, sob hipótese alguma, regulação de conteúdo, mas apenas regulação econômica das empresas de mídia. Mas como veremos aqui, assim como em todos os exemplos já vistos na Venezuela e Argentina, regulação econômica é regulação de conteúdo.
O desatento haveria de perguntar: como pode ser isso?
A verdade é que todos os países bolivarianos que implementam a censura de mídia (de novo: eles jamais usarão esse termo) fazem uma regulação econômica dos meios de comunicação como parte fundamental de seu projeto.
Para entender como isso funciona, basta ver a resistência do SBT em demitir a jornalista Rachel Sheherazade. Isso ocorre por que o SBT é uma grande empresa, capaz de sobreviver sem as verbas estatais. Na verdade, pela variedade de negócios, o SBT poderia até mandar o dinheiro estatal às favas.
Esse tipo de poder econômico das maiores empresas reduz automaticamente o poder de pressão do governo sobre essas empresas, mesmo que a pressão ainda exista, de uma forma ou de outra.
Mas quando se limita o tamanho das empresas de comunicação, elas se tornam cada vez mais vulneráveis à pressão econômica do governo.
Imagine o mesmo SBT com um tamanho limitado, sem poder investir em negócios alternativos. Ele estaria, enfim, “regulado”.
Como ele poderia reagir à pressão para a demissão de Rachel Sheherazade? Note que a partir do momento em que ele está “regulado” (ou seja, limitado em seu poderio financeiro, assim como proibido de investir em outras áreas, ou mesmo de ter um grande número de emissoras), essa empresa estará muito mais vulnerável à pressão governamental.
A partir desse momento, mesmo sem existir uma censura oficial, o governo passa a ter um poder enorme de pressão sobre essas empresas, pois “reguladas economicamente”, tornam-se muito mais vulneráveis às ameaças veladas do governo. Motivo: elas passam a nutrir maior dependência do capital vindo do governo.
É por isso que na configuração bolivariana, “regulação econômica dos meios de comunicação” é parte de um projeto para pressionar os meios de comunicação de forma que eles fiquem mais vulneráveis à pressão estatal e, portanto, mais forçados a se ajoelharem para o partidão no poder.
A verdade é que hoje o Brasil possui quatro grandes redes de TV, Rede Globo, Record, SBT e Band, além de redes menores. Também existem vários jornais e revistas de grande porte. Algumas dessas empresas são claramente favoráveis ao governo, como Record, UOL e Folha de São Paulo.
Ainda assim, isso não é suficiente para Dilma e seus bolivarianos. Eles querem submissão total. Por isso, falarão em “regulação econômica dos meios de comunicação”, que é uma forma de censurar a opinião divergente a partir da pressão econômica sob meios de comunicação cada vez mais vulneráveis às verbas estatais.
Exatamente como ocorre na Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário