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quarta-feira, setembro 17, 2014

LUCIANO AYAN: Avaliação do debate dos presidenciáveis na CNBB em 16/09


POR LUCIANO AYAN17 DE SETEMBRO DE 2014
O terceiro debate dos presidenciáveis, patrocinado pela CNBB (e transmitido pelo site UOL) na noite de ontem, 16/09, foi o mais fraco de todos. O formato foi péssimo. Vejam os blocos:
  1. Todos respondiam a mesma pergunta padrão (sobre reforma política).
  2. Cada um respondia a uma pergunta diferente de líderes religiosos.
  3. Cada um respondia a uma pergunta diferente de jornalistas.
  4. Candidatos em confronto. Cada um perguntava, outro respondia, com réplica e tréplica. O detalhe aqui é que tanto o candidato que fazia a pergunta como o que respondia eram sorteados.
  5. Cada um fazia suas considerações finais.
Ora, nos outros debates haviam dois (e não apenas um) blocos onde os candidatos entravam em confronto. Ou seja, a única parte interessante do debate. Nos outros debates, nas perguntas dos jornalistas, havia sempre um candidato que respondia e outro que comentava, com réplica. Enfim, era muito melhor e mais interessante.
Com as regras desse debate, por exemplo, não existiu nenhum confronto entre Dilma e Marina, pois em sorteios não havia nenhuma situação onde uma perguntava e outra respondia, e vice-versa. Lamentável.
Diante dessa morosidade toda, pouco se aproveitou dos blocos 1, 2, 3 e 5.
Luciana Genro como sempre parecia histérica, mas assertiva. Eymael finalmente apareceu em um debate, mas suas intervenções foram confusas e excessivamente formais, até mais que as de Levy Fidelix, que teve uma participação típica, mas cometeu um erro bizarro que comentarei em seguida. O Pastor Everaldo teve alguns bons posicionamentos. Já Eduardo Jorge estava mais “bravinho” que de costume. No geral, não tivemos muitas novidades aqui.
Do pelotão de frente, Dilma não foi bem. Marina usou um tom monocórdio (que me lembrou uma benzedeira dos tempos de infância) e saiu praticamente ilesa. Aécio proporcionou os poucos bons momentos lá no final, em uma “aliança” com Pastor Everaldo. Entendo que Aécio e Marina ficaram próximos de um “empate”, com ligeira vantagem para a última, até por que dividendos tendem a ser mais colhidos mais por Marina.
Falarei apenas de alguns poucos exemplos, pois a coisa realmente caminhou em banho maria.
Em um dado momento, questionaram Pastor Everaldo sobre censura de mídia (que os bispos da CNBB chamam de “democratização de mídia”, ou seja, são parte do truque), e ele repudiou veementemente a proposta, dizendo que não há acordo quanto a isso e que o estado não deve interferir no que devemos ver na mídia. Parabéns para ele!
Me decepcionei muito com Levy Fidelix, que recebeu o seguinte questionamento de Dilma: “Candidato, alguns candidatos estão defendendo a independência do Banco Central. Eu sou contra essa tese. Acredito que o BC tenha de ter autonomia operacional”. Mas veja o texto que publiquei há algumas horas, mostrando que Dilma defendia a independência do Banco Central em 2010. Ou seja, a oportunidade para demonstrá-la como mentirosa. Mas veja a resposta miserável de Levy Fidélix:
Discordamos em muitas coisas, mas nessa concordo. Sou contra a independência do Banco Central. Temos de ter uma economia integrada. Tenho certeza de que a macroeconomia tem de ser conduzida pelo ministro da Economia, o ministro da Fazenda. O que os bancos dão para a sociedade senão subtrair delas: nada. O controle do Banco Central tem de ser do Estado.
Inacreditável! Mas o tal candidato “de direita” não se informou sobre a contradição de Dilma e a endossou em uma mentira. Um momento que beira à desonra. Decepcionante para um candidato que chegou a fazer participações no mínimo inusitadas e incômodas (para o governo) nos debates anteriores.
Mas o melhor momento mesmo foi o ataque de Aécio à corrupção na Petrobrás, após responder pergunta do Pastor Everaldo:
Pastor Everaldo: Mensalão 2 e corrupção na Petrobras. Durante a duração desse esquema de corrupção, Dilma foi presidente do conselho da estatal, ministra de Minas e Energia e Presidente da República. E diz que não sabia de nada. O que o senhor acha disso?
Aécio Neves: Os brasileiros se sentem representados pela minha expressão de indignação do que vem acontecendo no governo federal. A Petrobras é a parte mais visível de um governo que abandonou o projeto de um país, o projeto transformador, e se permite hoje usar de todas as armas apenas para se manter no poder. Apenas o que diz esse diretor da Petrobras, que quantas vezes sentou à mesa com a atual Presidente da República, só que ele diz, que foi desviado nessas propinas distribuídas para a base de apoio da candidata, da então Presidente da República, permitiria abrir 450 mil vagas em creches as mesmas creches que a candidata não construiu, seriam 50 mil habitações novas no Brasil, 50 mil famílias vivendo com mais dignidade. Portanto eu estou aqui hoje como candidato a presidente da República para encerrar este ciclo e iniciar um outro, onde a decência e…
Réplica: O mensalão 1, o ex-presidente disse que não sabia de nada. Nós vemos aí milhões indo pelo ralo da corrupção. Alguns que foram presos levantam o braço e manifestam como se fossem heróis. A população brasileira concorda com isso? A pessoa rouba o seu suor, o seu trabalho, você dá o sangue e depois é roubado, e ainda sai com punho erguido dizendo que é um herói brasileiro. Esta é uma situação que envergonha o brasileiro, envergonha a cada um de nós. A empresa que foi orgulho nacional, querida Petrobras, o petróleo continua sendo nosso, o petróleo é nosso, mas a Petrobras lamentavelmente não o é. Uma empresa que perdemos nos últimos anos o valor dela que era de torno de R$ 190 bilhões, está em torno de R$ 120, já perdemos quase R$ 70 bilhões no seu valor. Dívida ultrapassando os R$ 400 bilhões. E não sabíamos de nada. Não sabiam de nada. Eu não acredito que o povo brasileiro quer continuar desta forma por mais tempo. Este ralo da corrupção tem que ser estancado.
Tréplica: Caro candidato, os brasileiros estão envergonhados, indignados com aquilo que vem acontecendo com a nossa mais importante empresa pública, submetida a sanha de um grupo político que para se manter no poder permitiu que um vale tudo fosse feito na nossa maior empresa. Eu, no nosso primeiro debate, o senhor se lembrará, eu disse à candidata oficial, atual Presidente da República, que ela tinha ali uma oportunidade de se desculpar com os brasileiros, pelo que havia acontecido com a nossa maior empresa, já que ela, como ministra das Minas e Energia, depois como chefe da Casa Civil, era presidente do Conselho de Administração da empresa. E como Presidente da República sempre fez questão de mostrar de forma muito clara quem é que mandava naquela empresa. De lá para cá, caro candidato, uma outra denúncia, uma outra gravíssima denúncia surgiu que fez com que o mensalão parecesse coisa pequena, uma denúncia feita pela Polícia Federal que disse que existe uma organização criminosa atuando no seio da nossa maior empresa. A partir daí um diretor nomeado pelo governo do PT e confirmado pela atual Presidente da República disse de forma muito clara que durante todos estes últimos anos financiava com propina, com participação, com parcela dos recursos das obras sobre sua alçada a base de sustentação desse governo. O que eu acho, caro candidato, e nós estamos aqui no local, talvez mais adequado, na casa da padroeira do Brasil, para dizer: Não é possível que o Brasil continue a ser administrado com tanto descompromisso com a ética, com a decência, com os valores cristãos. A vida pública não é para ser exercida dessa forma, e acho que quem não teve condições de administrar a nossa maior empresa, não tem condições de administrar.
A coisa foi tão contundente e danosa para Dilma que a presidente pediu direito de resposta, o qual foi inconvincente (ela ficou nitidamente nervosa). A coisa foi sempre naquela linha de “eu investiguei mais” (uma bobagem tão grande que nem ela mesmo acredita nisso), com um ataquezinho, dizendo que nos tempos de FHC havia um “engavetador-geral da República”.
Em seguida, Aécio pôde fazer uma pergunta para Luciana Genro, questionando-a sobre educação. O show prosseguiu:
Aécio Neves: Todos nós sabemos que a educação está na base da transformação de qualquer sociedade. Qualquer ranking em que o Brasil é comparado com outros países, o Brasil está sempre na lanterna. Quais são as suas propostas para essa área?
Luciana Genro: Os investimentos na educação, candidato Aécio, mas eu não posso deixar de comentar o seu debate agora com o Everaldo. Porque o senhor fala como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção, quando na realidade nós sabemos que o PSDB foi o precursor do mensalão, com o seu correlegionário e conterrâneo Eduardo Azeredo e o PT deu continuidade a essa prática de aparelhamento do Estado que o PSDB já havia implementado durante o governo do Fernando Henrique. Também foi pública e notória a corrupção que ocorreu durante o processo de compra da reeleição do mandato, do então presidente Fernando Henrique, amplamente divulgada pela mídia. Também foi público e notório o processo de corrupção nas empresas públicas que foram privatizadas, num processo que ficou conhecido como privataria tucana, o senhor falando do PT é como o sujo falando do mal lavado, porque o senhor é de um partido que tem promovido a corrupção, que tem inclusive se beneficiado dos financiamentos de campanha da mesma forma como PT, da candidata Dilma e o PSB da candidata Marina. As empreiteiras que fizeram o escândalo de corrupção da Petrobras são as mesmas empreiteiras que financiam a sua campanha, financiam a campanha da Dilma, financiam a campanha da Marina. As mesmas também que realizaram as obras superfaturadas da copa, inclusive aquela que desabou lá em Belo Horizonte. E que com certeza estão lá naquelas empreiteiras os seus amigos, porque o senhor é um dos políticos que têm vinculação com esses sentimentos mais parasitárias da política nacional. Então fale do PT, mas fale do seu partido também, porque o PT lamentavelmente cedeu para o mesmo modo de fazer política que o Fernando Henrique desenvolveu no seu governo.
Réplica: Tenho que saudar o retorno da candidata Luciana Genro às suas origens atuando como linha auxiliar do PT  e não tenha apresentado nenhuma proposta para a melhoria da qualidade de educação do Brasil. Pois eu quero me dirigir ao telespectador que nos ouve até essa hora e atento ao que os candidatos são, mas sobretudo ao que os candidatos têm a dizer. Pois bem, depois de ter levado ao estado de Minas Gerais a ter a melhor educação fundamental no Brasil nós construímos sem improviso, com a participação de brasileiros e brasileiras extremamente qualificados, de todas as partes do país, um projeto que começa pelo resgate de 20 milhões de jovens abandonados no Brasil, que não concluíram ou o ensino fundamental ou o ensino médio. Nós estaremos lançando o mutirão de oportunidades e esses jovens receberão uma bolsa de um salário mínimo para concluírem o ensino fundamental e depois concluírem o ensino médio. Nós vamos fundar a nova escola brasileira, uma escola qualificada, adequadamente equipada, com professores valorizados e bem treinados, uma escola que tenha no ensino médio um currículo muito mais avançado do que o atual, um currículo na verdade regionalizado para que possa atender às realidades locais de cada um das regiões brasileiras. O que me anima, o que me encanta, o que me faz estar aqui nesse debate é a vontade enorme de fazer um governo que honre, que orgulhe cada um.
Tréplica Com todo respeito linha auxiliar do PT uma ova, candidato Aécio, porque o PT aprendeu com o senhor, aprendeu com o seu partido. O mensalão do PT foi iniciado no governo do PSDB. E o senhor não tem resposta para debater comigo sobre corrupção, até porque o senhor foi que protagonista de um dos últimos escândalos, antes desse da Petrobras, porque um escândalo é abafado pelo outro, o senhor foi o protagonista do escândalo do aeroporto, onde o senhor utilizou dinheiro público para construir um aeroporto nas fazendas, próximas das fazendas da sua família, e inclusive entregou a chave para seu tio. Então o senhor é tão fanático das privatizações que consegue privatizar um aeroporto e entregar para sua própria família, e tão fanático da corrupção que consegue utilizar dinheiro público para construir um aeroporto beneficiando exclusivamente a sua família. É realmente escandaloso o que o PSDB faz no Brasil.
Embora com alguns ataques fortes contra Aécio, Luciana parecia totalmente descontrolada, principalmente após ter sido ridicularizada pelo mineiro ao ser chamada de “linha auxiliar do PT”. É evidente que os ataques dela foram vagos e muito menos direcionados do que os da dupla Aécio/Everaldo sobre Dilma.
Alias, o direito de resposta de Aecio (para responder os chiliques de Luciana) foram estes abaixo:
Uma palavra pra quem nos ouve até essa hora. Uma palavra de confiança para o brasil. Política é isso. Tem que ouvir isso. Impropérios, irrelevantes não tem propostas para o brasil. Eu tenho orgulho da minha origem católica, de São João Del Rey. E foi vencendo a intolerância e o radicalismo da candidata, que nós representamos uma obra no governo de minas que foi reconhecida.
No momento em que interagia com meus leitores no Facebook, eu escrevi a resposta que ele poderia ter dado: “Os líderes do PT foram condenados. Lembro que o PT é o partido no qual o pai de Luciana é um dos líderes. Fim. Nada foi provado contra meu governo, e a questão do aeroporto foi uma desapropriação lícita, e além de tudo Luciana mentiu ao dizer que houve benefício à minha família. Por mentir assim, já temos um exemplo de como o PT e sua linha auxiliar não tem como se defender de escândalos como Mensalão e o novo Mensalão 2. E dizer que o PT aprendeu a fazer corrupção com outros? Não menospreze a inteligência do espectador. Não há nada na história da república que se compare ao Mensalão e, muito pior, o novo Mensalão 2″.
Mas entre mortos e feridos, Aécio saiu com alguns arranhões, assim como Luciana Genro. Mas Dilma saiu mais quebrada que arroz de terceira.
E qual o resultado final disto tudo? Muito provavelmente Marina deve estar rindo à toa, pois saiu muito pouco chamuscada do debate hoje. Se não fosse a ajuda involuntária (e vergonhosa) de Levy Fidelix à Dilma, Marina teria saído como vencedora disparada. Por causa da pisada na bola de Fidelix (ao não desmascarar a farsa de Dilma sobre “ser contra independência do Banco Central”), pode-se dizer que Marina venceu o debate com ligeira vantagem sobre Aécio, enquanto Dilma hoje se deu mal. E olhe que o ambiente era propício para ela, pois a CNBB é um antro de marxistas.
No canal do YouTube do TV Aparecida, os vídeos podem ser acessados.

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