Conab: dois anúncios extemporâneos para as safras de café
Ao longo dos últimos dias, fomos surpreendidos com um prognóstico e com uma estimativa para as safras brasileiras de café anunciadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para 2015, técnicos da estatal, absurda, incoerente e inconsequentemente, apontaram uma produção de 48,8 milhões de sacas de 60 kg, algo que o Conselho Nacional do Café (CNC) e a Comissão Nacional do Café da CNA repudiam veementemente, levando em conta os impactos que isso pode trazer na vida dos milhões de produtores de café do Brasil.
É incabível que um órgão federal divulgue dados para o ciclo cafeeiro futuro com base em tendências e estatísticas históricas, haja vista que essas tendências foram consideradas da mesa do escritório, sem sequer irem a campo, e que dados históricos servem para o passado e não para projeções futuras, principalmente considerando os aspectos fitossanitários e climáticos e os próprios tratos culturais a serem aplicados nas lavouras.
Pensando-se na safra 2015, qualquer análise ou estimativa séria, poderá ser desenvolvida somente a partir de dezembro, quando poderemos observar o pegamento ou não das floradas e quais foram os efeitos do veranico do primeiro bimestre e dos baixos índices pluviométricos e das altas temperaturas que assolam o parque cafeeiro ao longo de praticamente todo este ano.
Os pesquisadores sérios e com lida direta no campo, entre eles José Braz Matiello, da Fundação Procafé, apontam que o anúncio da Conab trouxe uma dose de amadorismo, seja na metodologia usada para chegar a esse número, seja pelo reflexo que esta divulgação pode ter no mercado. "Não digo, em princípio, que o número possa ser alto ou baixo, mas, com absoluta certeza, afirmo que não é através de aplicação de índices percentuais, de expansão ou retração, calculados por séries históricas, que se chega a um volume de safra em termos confiáveis", destaca, em artigo.
A respeito da colheita de 2014, na terça-feira, 16, a estatal elevou sua estimativa para 45,1 milhões de sacas. O CNC e a Comissão do Café da CNA gostariam que a Conab esclarecesse esse aumento em meio a um dos piores cenários climáticos das últimas décadas. Isso porque todos os dados e informações que recebemos de cooperativas, sindicatos e associações de produtores de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, principalmente, indicam quebras significativas, na casa média de 30%, com esse percentual oscilando para mais ou para menos conforme a origem produtora.
Vale recordar que os trabalhos de colheita ainda não foram finalizados, restando algo entre 10% e 15%, além do que se precisa apurar de fato o rendimento da safra total, ou a necessidade de grãos para se compor uma saca de 60 kg. E, diante das intempéries climáticas – incluindo a geada do ano passado no Paraná –, dos elevados déficits hídricos, já citados pelo CNC em seu balanço semanal de sexta-feira passada, e das altas temperaturas no parque cafeeiro, é certo que os grãos ficaram menores, murchos, chochos, quando não perderam sua valia de fato.
Dessa maneira e com o permanente cenário climático negativo para a fitossanidade das plantas, é impossível a safra brasileira ser revisada para cima. Por se tratar de um órgão do Governo Federal e que até então conta com nosso respeito como divulgadora oficial das safras brasileiras de café, a Conab precisa, urgentemente, rever seus critérios e conceitos para o levantamento e, em especial, para seus anúncios. Por fim, resta-nos dizer que o que observamos nesses dois cenários foram anúncios extemporâneos e, especialmente sobre 2015, de confiabilidade nula.
Atenciosamente,
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