Por Guilherme Balza no UOL, em 15/08/2014
Líder do governo no Senado nas gestões de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) mudou de lado e já prega abertamente voto em Aécio Neves (PSDB) contra a presidente e, por consequência, contra o presidente do PMDB e candidato a vice-presidente na chapa, Michel Temer.
Na noite da última quarta-feira (13), data da morte de Eduardo Campos, Jucá participou de um evento organizado pelo Corecon-RR (Conselho Regional de Economia de Roraima), em Boa Vista. O áudio do discurso de Jucá foi divulgado pela "Rede Brasil Atual".
No encontro, o senador fez um discurso de mais de 40 minutos recheado de críticas às opções ideológicas e ao modo de condução da economia do governo Dilma. Também prometeu se empenhar para que a vantagem da petista sobre Aécio na região Norte seja reduzida. É a primeira vez que o líder pemedebista declara voto no candidato tucano.
"Fui líder do FHC, líder do Lula e líder no começo do governo da Dilma, mas sou economista. Vou dizer a vocês com muita sinceridade: do jeito que o governo tá tocando a economia não voto no PT, não voto na Dilma", disse. "A gente tinha duas opções de voto: era o Aécio e o Eduardo. Hoje perdemos uma. Não quero influenciar ninguém, mas eu vou falar meu voto. Eu vou votar no Aécio", afirmou.
Jucá afirma que Aécio já supera as intenções de voto de Dilma no Sul e Sudeste, mas perde com folga no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. "Onde é que a Dilma tá ganhando? Essa diferença tá onde? No Nordeste, que tá 51% [para Dilma] a 16% [para o Aécio]. Vai ter que diminuir a diferença. E no Centro-Oeste e no Norte, que é 25 pontos a diferença em prol dela. Se depender de mim, Roraima vai diminuir um pouco essa vantagem", afirmou.
O senador disse que "tem conversado com Aécio" e, no caso de vitória tucana, já há tratativas para que sejam ajustadas as legislações de PPP (Parceria Público-Privadas) e de licitação e para que seja resolvido o "problema da legislação de licença ambiental". O parlamentar defendeu também que o Brasil lance um grande programa de concessões em 2015.
Nova mudança de lado
Jucá também foi líder do governo no Senado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2003, após a vitória de Lula, o senador trocou o PSDB pelo PMDB e tornou-se vice-líder do governo na Corte. Com o PT no poder, foi líder no Senado entre 2006 e 2012, nas gestões de Lula e Dilma.
"As pessoas me dizem: 'como você conseguiu ser líder dos governos FHC, Lula e Dilma? É porque vocês sempre tá do lado do governo?'. Não. Eu tenho uma vantagem. Me especializei em ouvir as pessoas e buscar soluções. Sou especialista em buscar convergência. Quando tem um bando gente brigando, eu procuro tirar alguma coisa boa de cada um e construir uma solução. Por isso fui líder de todos esses governos", afirmou.
Lula 'capitalista', Dilma 'socialista'
Para Jucá, é preciso diferenciar os governos Lula e Dilma. "Lula fazia, ou faz, um discurso social, às vezes quase socialista, na divisão de renda, nos predicados que buscam igualdade, mas a prática dele é capitalista."
"No governo da Dilma, essa linha deu uma guinada. E por que essa linha deu uma guinada? Porque a Dilma tem um discurso socialista e a prática dela é socialista. Você tem um governo ideológico na forma de comandar a economia. E ideologia, centralização, estatização não combina com o capitalismo. Isso dá certo na Albânia, no Cazaquistão, em alguns lugares onde a visão é outra", criticou.
O senador disse ainda que está "cansado de pegar leis" vindas do governo e "ter que me meter, mudar". "Eu digo a vocês: é pouca gente ali [no Senado] que sabe o que está fazendo. Normalmente as pessoas votam ali sem saber. Quando você chega na Câmara então... É uma loucura!"
Jucá afirmou ainda que o PT reduz a produtividade do empresário porque quer "aumentar direitos sociais". "Estamos discutindo aqui, no mercado nacional, a competitividade do produto brasileiro com o produto chinês, que não tem [pagamento de] INSS, licenciamento ambiental, que não tem nenhum tipo de custo direto."
A reportagem telefonou para Jucá, mas ele não atendeu o celular. A assessoria de imprensa da campanha de Dilma foi procurada, mas informou que não há interesse em comentar as críticas do senador.
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