Mudanças em textos da enciclopédia virtual foram feitas do palácio da Presidência
POR PAULO CELSO PEREIRA, NO O GLOBO
A rede de internet do Palácio do Planalto foi usada para fazer alterações nos perfis dos jornalistas Míriam Leitão, colunista do GLOBO, e Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, na Wikipédia, com o objetivo de criticá-los. O IP 200.181.15.10, da Presidência da República, foi usado na enciclopédia colaborativa virtual para fazer alterações em maio do ano passado. O IP é uma espécie de identidade digital que permite saber de onde partiram as modificações. No entanto, apenas os administradores da rede do Planalto têm como saber exatamente qual equipamento do local foi usado.
As mudanças ocorreram em uma sexta e uma segunda-feira, dias 10 e 13 de maio. A primeira alteração no perfil de Míriam Leitão, feita dia 10, às 16h43m, foi para qualificar análises suas como “desastrosas”. Três dias depois, às 18h32m, a rede da Presidência voltou a ser usada para incluir trechos contra a jornalista, desta vez associando-a ao banqueiro Daniel Dantas: “Míriam Leitão fez a mais corajosa e apaixonada defesa de Daniel Dantas, ex-banqueiro condenado por corrupção entre outros crimes contra o patrimônio público. A forma como Míriam Leitão se envolveu na defesa de Dantas chamou a atenção de Carlos Alberto Sardenberg, seu companheiro na CBN, para quem a jornalista estava diferente naqueles dias. Para Míriam Leitão, apesar do vídeo que flagrava o suborno a um delegado da Polícia Federal, a prisão de Dantas não se justificava, posto que se tratava de coisas do passado”. Confira infográfico com detalhes das mudanças.
Por fim, às 18h50m, o mesmo IP fez uma última alteração no perfil da jornalista:
“Um dos maiores erros de previsão ocorreu durante a Crise Financeira Internacional. Em 29/06/2009, Míriam Leitão escreveu o seguinte sobre a previsão de crescimento do Ministro Guido Mantega de 4,5% do PIB de 2010: ‘Ele fez uma afirmação de que em 2010 o Brasil está preparado para crescer 4,5%. É temerário dizer isso’. Contrariando o pessimismo de Míriam Leitão, o Brasil cresceu 7,5% naquele ano”.
Procurada pela reportagem, Míriam mostrou-se surpresa com o uso da estrutura do Palácio e desmentiu as acusações:
— É mentira que eu tenha defendido Daniel Dantas. Acho que é espantoso que um órgão público, ainda mais o Palácio do Planalto, use recursos e funcionários públicos para fazer esse tipo de ataque a jornalistas, quando deveria estar dedicado às questões de Estado.
‘É IMORAL, É ANTIÉTICO’
Com Carlos Alberto Sardenberg, a disposição foi semelhante. No dia 10, às 12h51m, quatro horas antes das alterações no perfil de Míriam, o IP do Planalto começou a fazer mudanças no perfil do jornalista. O texto anteriormente publicado já dizia que o âncora da CBN e da Rede Globo era um forte crítico das políticas econômicas de Lula e Dilma, então o equipamento no Planalto adicionou: “... principalmente em relação aos cortes de juros promovidos nesses governos. É irmão de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, instituição que tem grande interesse na manutenção de juros altos no Brasil, uma medida geralmente defendida também por Carlos Alberto Sardenberg em suas colunas. Já cometeu erros notáveis em suas previsões, como afirmar que ‘(...)a economia mundial segue em marcha de sólido crescimento. Sólido porque não é nenhuma bolha financeira (...)’ um ano antes de estourar a crise mundial de 2008”.
Três dias depois, às 14h31m, o IP do Planalto foi então usado para criticá-lo explicitamente: “A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico”.
Procurado, Sardenberg reagiu:
— Minhas opiniões são sempre muito claras. A política do Banco Central tem sido muito errática e sem uma lógica, tanto é que fizeram uma redução de juros forte e, depois, tiveram que subir, então, é óbvio que está errado. É evidente que minha posição é claramente crítica a esse governo. Esse é um debate de ideias, agora dizer que, porque meu irmão trabalha na Febraban, sou lacaio dos bancos é uma canalhice, uma baixaria. É imoral, é antiético, porque você coloca no perfil uma ilação. Usando um equipamento do governo, se faz uma ilação que não pode ser feita — afirmou.
Ao longo dos três anos e meio do governo Dilma, o IP da Presidência foi usado para realizar cerca de 170 alterações na Wikipédia. Muitas modificaram verbetes relativos a órgãos ligados à Presidência e de ministros e ex-ministros como Moreira Franco, Antonio Palocci, Thomas Traumann, Ideli Salvatti e Alexandre Padilha, além do assessor especial da presidente, Marco Aurélio Garcia, e do vice-presidente, Michel Temer.
O Palácio do Planalto afirmou que “o número do protocolo de internet (IP) citado pela reportagem é o endereço geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto. Isso significa que qualquer pessoa que utilizou essa rede via internet móvel terá como endereço de saída este número geral de IP. Por isso, não é possível apontar com segurança a identidade de quem alterou os textos citados pela reportagem a partir deste número de IP em maio de 2013”.
Fonte: O Globo
Computador do Planalto altera perfil de jornalistas na Wikipédia
Além de alterações nas páginas de políticos, o computador da Presidência também foi usado para alterar perfil dos jornalistas Miriam Leitão, colunista de "O Globo", e de Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, na Wikipédia, conforme reportagem desta sexta-feira (8) de "O Globo".
De acordo com o jornal, o IP 200.181.15.10, da Presidência, realizou mudanças nos textos em maio do ano passado com o objetivo de criticá-los. O IP foi usado para associar Miriam Leitão ao banqueiro Daniel Dantas, afirmando que a colunista teria feito "a mais corajosa e apaixonada defesa" dele, e para desqualificar suas análises econômicas.
Já em relação a Carlos Alberto Sardenberg, a rede do governo incluiu comentários para atacar o jornalista pelo fato de ele ser irmão do diretor da Febraban (Federação Brasileira dos Brancos), Rubens Sardenberg. "A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico", escreveram.
De acordo com o jornal, o Planalto afirmou que "o número do protocolo de internet (IP) citado pela reportagem é o endereço geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto. Isso significa que qualquer pessoa que utilizou essa rede via internet móvel terá como endereço de saída este número geral de IP. Por isso, não é possível apontar com segurança a identidade de quem alterou os textos citados pela reportagem a partir deste número de IP em maio de 2013".
TEMER E IDELI
O mesmo endereço de IP registrado em nome da Presidência, que foi usado para editar a página do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na Wikipédia, atuou para retirar informações possivelmente constrangedoras das páginas do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e da secretária de Direitos Humanos Ideli Salvatti.
No primeiro caso, a página de Temer sofreu alterações em relação à biografia de sua esposa, Marcela Temer. Foram retiradas a idade e a informação de que, antes de se casar com o vice-presidente, ela foi candidata a miss em Paulínia (a 117 km de São Paulo).
O computador da Presidência também foi usado para retirar a informação de que Temer é membro da maçonaria. Ambas as mudanças no texto foram feitas em outubro do ano passado, mas somente a primeira não foi revertida.
No caso de Ideli, foi retirada a informação de que ela votou a favor do arquivamento de ações contra o senador José Sarney (PMDB-AL) na Comissão de Ética da Casa, em 2009. Também foi suprimida uma frase que a ministra disse à época: "Vou ser triturada politicamente".
Ambas as mudanças, feitas em janeiro deste ano, foram posteriormente revertidas por editores da Wikipédia.
PADILHA
Onze computadores do governo federal foram usados para fazer alterações em páginas da Wikipédia, entre elas uma de dentro da Presidência a favor do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, conforme a Folha revelou no dia 28 de julho.
A conexão à web da Presidência foi usada para retirar trecho sobre suspeitas de corrupção na Funasa (Fundação Nacional da Saúde) quando Padilha era diretor do órgão, e incluir elogio ao programa Mais Médicos. "Com o sucesso do Mais Médicos Padilha se torna um dos pré-candidatos petistas à disputa pelo governo de São Paulo em 2014", dizia o texto.
Registros na página de Padilha na Wikipédia sugerem que o responsável pela inclusão de elogios foi o servidor Fernando Ramos Silva, que ocupa o cargo de coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Palácio do Planalto.
O petista criticou a notícia de que o servidor também incluiu elogios a ele no site. Segundo Padilha, na época em que Silva fez as mudanças ele não era servidor do Planalto –e, sim, terceirizado do Ministério da Saúde– e não usou um computador público. "O servidor usou seu computador pessoal, durante a noite e fora do expediente", disse o candidato. "Não pode cercear as pessoas de colocar elogios ou críticas."
Fonte: Folha.com
Fonte: Folha.com
Elogio a Padilha em site foi postado por servidor do Planalto
por ALEXANDRE ARAGÃO na Folha.com
Registros na página sobre o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) na Wikipédia sugerem que o responsável pela inclusão de elogios foi o servidor Fernando Ramos Silva, que ocupa o cargo de coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Palácio do Planalto.
Conforme a Folha revelou nesta segunda-feira (28), um endereço de IP registrado em nome da Presidência foi usado para, de forma anônima, incluir elogios e retirar trecho sobre uma suspeita de envolvimento em corrupção na página de Padilha, candidato do PT ao governo paulista.
As três mudanças feitas logo após a que foi realizada de dentro do Planalto são assinadas por "Fernandoramosdf" -mesmo apelido que o servidor usa em outras redes sociais. Uma delas tem conteúdo idêntico à alteração que foi feita, anonimamente, pelo IP da Presidência. Ramos também é responsável por editar o Blog do Planalto.
ALTERAÇÕES
No texto, alterado em 10 de dezembro do ano passado, Padilha é descrito como "defensor do SUS e do acesso universal ao sistema, sobretudo de pessoas mais carentes".
Também foram incluídos links a páginas oficiais, levando a textos positivos, como a do Ministério da Saúde e a do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O texto incluído refere-se à presidente Dilma Rousseff como "presidenta", termo pelo qual ela prefere ser chamada -e que é adotado oficialmente pelo governo federal.
Informa, ainda, que Dilma desculpou-se com um médico cubano hostilizado. Na palavras incluídas, o profissional foi "vítima de preconceito e xenofobia quando chegou com grupo de outros médicos cubanos" ao Ceará.
Procurado pela Folha, o coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Planalto, Fernando Ramos Silva, não respondeu se ele é o responsável pelas alterações. "Você vai ter que falar com a secretaria de imprensa, viu?", afirmou.
Após nova tentativa da reportagem, ele ignorou a pergunta mais uma vez. "É o pessoal do atendimento de imprensa que tem que ver."
Procurado desde a última sexta-feira (25) para comentar as alterações na página do ex-ministro Padilha, o Palácio do Planalto não respondeu às perguntas enviadas por e-mail e sugeriu que o pedido fosse feito por meio da Lei de Acesso à Informação.
OUTROS CASOS
Pesquisa com os IPs registrados em nome do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) e da Presidência mostra que onze deles foram usados para editar artigos na Wikipédia como o do MPL (Movimento Passe Livre) e o do ex-governador de São Paulo José Serra.
O Serpro disse que não poderia comentar por motivos legais, porque a empresa e seus servidores "são obrigados a guardar sigilo quanto a elementos manipulados".
Fonte: Folha.com
Fernando Ramos Silva
3411-1693
Publicitário, 34 anos, formado em 2002 pela Unip, foi redator em agências de pequeno porte (2003-2004). Coordenou a comunicação digital da Subchefia de Assuntos Federativos da Presidência da República (2004-2010) e do gabinete do ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (2010). Responsável por articulações e ações de internet na coordenação de movimentos sociais durante as eleições presidenciais (Campanha 2010). Coordenou as redes sociais do Ministério da Saúde a partir de janeiro de 2011. Atualmente é editor do Blog do Planalto e coordenador de mídias sociais na Presidência da República, onde ocupa o cargo de DIRETOR, recebendo remuneração básica bruta de R$ 10.429,65.
Fonte: Portal da Tranparência
Nenhum comentário:
Postar um comentário