O enfrentamento de governo e oposição em palcos como a campanha eleitoral e as comissões parlamentares de inquérito têm, vez ou outra, a utilidade de balançar as cortinas que ocultam os bastidores de grandes negociatas.
A propaganda política ainda conta com efeitos especiais para tapar as frestas abertas, mas esse recurso nem sempre está à disposição nas CPIs –e o que se vê é um espetáculo mambembe, em que raramente alguém sai nocauteado.
O caso Pasadena não representa exceção à regra, como indica a fraude noticiada pela revista "Veja". Se confirmada a armação comentada por funcionários da Petrobras no vídeo que serve de base à reportagem, chega-se muito perto da total desmoralização das CPIs.
As imagens mostram o chefe do escritório da Petrobras em Brasília e um advogado da empresa. Eles trocam informações sobre formas seguras de fazer chegar perguntas preparadas pelo governo a depoentes na comissão do Senado.
O "gabarito" teria sido contrabandeado pelo senador José Pimentel (PT-CE) à atual presidente da Petrobras, Graça Foster, ao ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró.
No vídeo, afirma-se que as questões combinadas foram obra de Paulo Argenta, assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
A compra da refinaria nos EUA, vale lembrar, subiu à condição de escândalo com ajuda da presidente Dilma Rousseff (PT). Ela, que presidia o conselho da Petrobras à época da malfadada transação bilionária, buscou eximir-se de responsabilidade pelo fiasco atribuindo sua aprovação a um parecer malfeito.
A manobra estimulou a conjectura de que, para além de incompetência da direção da estatal, tenha havido irregularidade e má-fé no prejuízo causado pela aquisição.
Sob pressão, o Congresso criou duas CPIs para o caso, e em ambas o Planalto fez de tudo para manter o controle. Na primeira, no Senado, garantiu sólida maioria –e, mesmo assim, terá sentido a necessidade de manipular depoimentos.
Na CPI mista aberta em seguida, o governo petista instalou como presidente o mesmo condutor da comissão do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB). Para relator elegeu o fiel deputado Marco Maia (PT-RS), garantia de poder sobre pauta e agenda de testemunhos.
Todo esse empenho é decerto proporcional à gravidade ainda mal vislumbrada do escândalo Pasadena e seu potencial de dano nas urnas. O Legislativo, porém, mais uma vez se contenta com encenar uma pantomima subserviente.
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