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terça-feira, julho 29, 2014

REINALDO AZEVEDO: FMI incluiu o Brasil no grupo das cinco economias mais frágeis entre os emergentes. Daqui a pouco, os propagandistas palacianos começam a atacar o FMI e, talvez, Lula venha a público com um palavrão novo!




Ai, ai, ai…

“Quos volunt di perdere, dementant prius”. Eis um velho adágio latino. Podemos traduzi-lo assim: “Quando os deuses querem destruir alguém, começam por lhes tirar o juízo”. É o que me ocorreu ao saber que a presidente Dilma Rousseff afirmou, na sabatina a que se submeteu ontem, que as perspectivas negativas da economia são equiparáveis ao pessimismo pré-Copa. Ou por outra: seria tudo espuma sem fundamento. A presidente finge que os números não estão aí: juros de 11% ao ano, crescimento abaixo de 1% e inflação, hoje, acima do teto da meta, que é de 6,5%. No fim do ano, deve ficar pouco abaixo desse limite. Vale dizer: não estamos lidando com meras expectativas ou subjetivismos, mas com fatos realizados.

Nesta terça, veio o balde de água fria da realidade na cálida ilusão do palavrório. O FMI incluiu o Brasil no grupo das cinco economias mais frágeis entre os chamados países emergentes, na companhia de Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul.

Segundo o Fundo, o Brasil pode ser afetado duramente pela retirada de estímulos à economia dos países ricos, com a consequente elevação da taxa de juros, e pelo crescimento abaixo do esperado dos emergentes. O Brasil pode ficar numa situação difícil, com queda do preço das commodities — o que seria péssimo para uma balança comercial já combalida —; dificuldades para contrair financiamento externo; redução de investimentos; queda no preço dos ativos em Bolsa e desvalorização cambial. O conjunto seria danoso para a expansão do Produto Interno Bruto.

Em agosto do ano passado, o banco americano Morgan Stanley já havia feito um alerta sobre as fragilidades desses cinco países. Por aqui, o governo deu de ombros, com a arrogância costumeira. Naquele caso, falava-se especificamente do fim do ciclo de estímulos à economia americana, que voltava a crescer. Foi batata! Nos meses seguintes, esses cinco países viram fuga de capitais e desvalorização de suas respectivas moedas. Ninguém, como o Brasil, sofreu tanto nesse processo.

É claro que não cabe a Dilma Rousseff, numa sabatina, admitir que a situação é muito difícil. Mas também é preciso tomar cuidado com a parvoíce e com o simplismo, que assustam ainda mais os agentes econômicos. Quando a presidente da República compara dificuldades reais da economia — para as quais o governo, até agora, não aponta respostas — com mero pessimismo sobre Copa do Mundo, dá evidentes sinais de alheamento da realidade.

Segundo o FMI, as principais dificuldades do país hoje são a baixa taxa de investimento e de poupança doméstica. O caminho seria atacar os gargalos de infraestrutura — especialmente no setor elétrico e de transportes —, adotar medidas que elevem a produtividade e a competitividade e mudar o rumo da prosa, não ancorando o crescimento apenas no consumo, como de fez nos últimos anos. Esse ciclo já se esgotou.

Ocorre, meus caros, que isso é tudo o que o governo tem demonstrado que não sabe fazer. Certo! Daqui a pouco, os propagandistas palacianos começam a atacar o FMI e, talvez, Lula venha a público com um palavrão novo — a exemplo do que fez ao contestar a avaliação negativa de um banco sobre a economia —, achando que resolve tudo no berro. Não resolve.

Há uma hora em que é preciso ter mais do que sorte e garganta; é preciso ter também competência. 

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