… y te sacarán los ojos, diz o provérbio espanhol. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, MTST, que lidera tumultos, é ligado ao PT. Seu líder, Guilherme Boulos, tem no ministro Gilberto Carvalho um amigo; Dilma se deixa fotografar abraçada a ele. E é ele que ameaça impedir a Copa se suas reivindicações não forem atendidas agora, sejam legais ou não. Na lei ou na marra.
Não faz sentido: quem não quer a Copa são grupos contrários ao Governo, que buscam desgastá-lo. O Governo quer a Copa (e está certo – é um compromisso do país, não de Lula e Dilma; os gastos já foram feitos e é hora de colher o retorno, mesmo que pequeno). Será a prova de que tem condições de atingir suas metas. Como entender que governistas radicais, que consideram fascista quem quer que não acredite que o PT comanda as melhores administrações que já houve no mundo, melhores até que a de Cuba, prejudiquem seus ídolos maiores?
Parece incrível, mas tem lógica. No Chile, o Movimiento de Izquierda Revolucionaria, MIR, chefiado por um sobrinho do presidente Allende, fez o que pôde para realizar e radicalizar as propostas do Governo. No Brasil, cabos e sargentos, liderados pelo Cabo Anselmo (que mais tarde mudaria de lado, mas naquela hora pensava como o Governo), buscavam aprofundar as reformas propostas pelo presidente Goulart. O cunhado de Goulart, Leonel Brizola, dava-lhe total apoio: “Reformas na lei ou na marra”. Deu errado: estes movimentos enfraqueceram Allende e Goulart. Mas quem não aprende com a História irá sempre repeti-la.
Grupo de Sem-Teto prometeu nova manifestação na cidade de São Paulo no dia 22/05/2014, por novas politicas habitacionais e regularização de áreas
Após um dia de protestos em São Paulo, integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), grupo responsável pela grande maioria dos atos desta quinta-feira (15), prometeram novas manifestações pela cidade dentro de uma semana - dia 22. Eles pedem novas políticas habitacionais e a regularização de todas as áreas invadidas na capital até a Copa do Mundo.
Em um dos atos desta quinta, Guilherme Boulos, líder do MTST, deu um ultimato para que o problema de moradias populares em São Paulo seja resolvido. "A contagem é regressiva. Tem 28 dias para resolver não só a Copa do Povo [ocupação na zona leste], mas todas as ocupações que estão em luta", disse Boulos.
A mensagem foi voltada principalmente à presidente Dilma Rousseff (PT), que, na semana passada, reuniu-se com os sem-teto após uma série de protestos na capital paulista. Naquela oportunidade, os manifestantes invadiram as sedes de grandes construtoras que têm vínculo com o governo federal, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS. A presidente, que estava em São Paulo para a abertura do estádio de Itaquera, mudou a agenda oficial para receber Boulos.
Após o encontro, Dilma se comprometeu a analisar a situação do terreno onde está a ocupação Copa do Povo e a possibilidade de destiná-lo a moradias populares. Apesar disso, hoje Boulos elevou o tom do discurso e cravou: "Se não revolver neste período [até o início da Copa], vai ter problema".
"Os governos federal, estadual e a prefeitura que se entendam para resolver a situação e desapropriar o terreno", disse Boulos ao final do ato, para incluir o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) nas reivindicações.
Natália Szermeta, que também integra o núcleo de lideranças do MTST, disse que o movimento não se contenta com pouco. Ela liderou um ato que fechou parte da marginal Pinheiros na zona sul de São Paulo. "O MTST colocou em campo a seleção dos brasileiros oprimidos, dos que não se contentam com migalhas", disse Szermeta.
Com um discurso alinhado com Boulos, a líder sem-teto também afirmou que a tendência do movimento é ampliar o número de protestos em São Paulo. "A seleção dos opressores pode até entrar em cena, mas não vão dormir uma noite sem que a gente incomode o sono deles", afirmou.
A série de protestos que fechou importantes ruas e avenidas de São Paulo nesta quinta-feira reuniu 4.000 pessoas em diversos pontos da cidade. Além dos sem-teto, metalúrgicos também protestaram em São Paulo –eles criticam a estagnação econômica do país.
Houve protesto em frente ao estádio do Itaquerão, palco onde acontecerá a partida inicial do mundial em junho deste ano, nas marginais Pinheiros e Tietê, além de outros pontos do centro e da zona sul. A Polícia Militar não registrou nenhum confronto ou incidente.
Quem é Stanislaw Szermeta?
Stanislaw Szermeta, na época da ditadura, era metalúrgico na cidade de Osasco (SP), fazia militância política dentro das fábricas, sendo preso em 1971, quando ficou apenas um ano e meio encarcerado.
Entrevista com Stanislaw Szermeta realizada em 09/09/2013 em Campo Limpo
Nasceu na Alemanha Ocidental em 1945. Migrou para o Brasil em 1949, na Vila Iara-Osasco. Seu primeiro emprego foi aos 14 anos, na indústria de máquinas de costura Leonan, na Lopoldina. Depois foi trabalhar numa industria de madeira no Jaguaré, e um ano depois empregou-se na Bras-eixos no final de 1959, onde trabalhou até fevereiro de 1968. Participou da greve do abono em 1963, greve geral pelo décimo terceiro completo. Em 1967 começo a participar do movimento estudantil em Osasco, onde conheceu os principais dirigentes operários e estudantis da cidade. Começou a militar como ativista em 1966-1967. Começou a militar no Partido Operário Comunista (POC) depois da greve da Cobrasma. Em 1969 empregou-se na Sofunge, onde trabalhou até 1970. Depois disso passou por várias outras pequenas fábricas. Foi preso em 1971, permanecendo nessa condição até 1973. Em 1974 empregou-se na Caterpillar. A partir disso, voltou a organizar os Grupos de Fábrica em São Paulo, tomado parte na formação da Oposição Metalúrgica de são Paulo, onde atuava na organização dos Grupos de Fábrica, Comissões de Fábrica, no Inter-Fábricas e Comandos de fábrica. Militou no POC de 1968 a 1973. Participou das principais campanhas políticas e eleições sindicais durante a década de 1970 contra o peleguismo.
O POC teve bastante contato com a luta armada, "até porque entendia que esse processo da resistência armada era necessária, como um conjunto de coisas. Não era só por questão da luta, por questão do aprofundamento do processo da luta mais geral impunha determinados tipos de profissionalização. Então esses companheiros que foram mais para a luta armada acabaram se aproximando e se envolvendo mais com esse negócio de falsificação de documentos, armas, um conjunto de coisa".
Stanislaw afirma que o POC não tomava parte em ações armadas como seqüestros, assaltos a bancos e ataques as forças armadas. Mas que o POC "tinha aproximação no sentido da resistência dentro das fábricas. No sentido da resistência dentro das fábricas, o POC entendia que não tinha saída a não ser também trabalhar essa proximidade e assimilar essa experiência da luta armada".
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Tinha a divisão do mundo entre socialistas e capitalistas, e você tinha duas coisas importantes em curso: uma era a vitória da revolução cubana, e outra era a resistência do Vietnã. Então tudo isso, era um clima que gerava uma sedução na militância. E nisso, você tinha uma luta anti-imperialista. Essa luta anti-imperialista demarcava já o campo.
O que se lia sobre revolução cubana e Vietnã?
ah, lia o que estava na linha de ponta: Revolução na revolução do Debret, tinha os escritos do Guevara, e tinha os informes, os escrito sobre o Vietnã, da resistência no Vietnã. Tinham cursos, por exemplo, o CEU - Circulo Estudantil Osasquence, eles davam esses cursos. Esse pessoal todo, tanto o Ibrahin como o próprio Espinosa, e todo o pessoal do Circulo, da direção do Circulo, eles, o Barreto, eles davam esses cursos. (...) Cheguei a participar desses cursos, não com tanta tregularidade... Era na boca da noite, então era coisas que primeiro tinha que esvaziar, para depois fazer a reunião... A confiança era relativa, então você tinha que correr os riscos da melhor forma possivel, com mais cuidado possível. Você tinha, principalmente do pessoal que vinha do movimento estudantil, pessoal alfabetizado, tinha uma carga muito grande de marxismo na cabeça. Tinha uma carga muito grande sobre a exploração capitalista...
Quem é Guilherme Boulos?
Há 12 anos, Guilherme Boulos deixou o conforto de casa num bairro de classe média para ajudar a montar barracas em áreas invadidas na Grande São Paulo. Formado em filosofia, ele ficou conhecido em 2003, quando participou da coordenação da invasão a um terreno da Volkswagem, em São Bernardo do Campo. Filho do médico Marcos Boulos, professor da USP e um dos principais especialistas em doenças infecciosas e parasitárias do país, o líder sem-teto não fala de sua vida pessoal. Sempre dá entrevistas, mas só para falar de políticas de moradia, do MTST e da Frente de Resistência Urbana. No ano passado, Boulos se aproximou dos jovens ligados ao Movimento Passe Livre -responsável pela série de protestos pelo país que resultaram na redução da tarifa de ônibus em várias cidades.
Abaixo, o Reinaldo Azevedo nos ajuda a conhecer melhor o Guilherme Boulos.
Guilherme Boulos, o coxinha que decidiu brincar de revolução
Que coisa! Numa cidade de 12 milhões de habitantes, o dito Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST, espalha uns quatro mil em várias manifestações. Nesta quinta, até agora, a manifestação maior ocorreu nas imediações do Itaquerão. O chefão da turma é um sujeito chamado Guilherme Boulos. Atenção para o currículo do rapaz: é professor, formado em filosofia, com especialização em psicanálise. Vem de uma família de classe média alta. Na verdade, rica mesmo. Mas ele decidiu abraçar a causa dos sem-teto. Até aí, problema dele.
Isso, a muitos, parece irresistível. Remete a uma espécie de renúncia religiosa. É o João Pedro Stédile das cidades, para lembrar o chefão do MST, o Movimento dos Sem-Terra. Trata-se de um economista que está a muitas léguas da formação intelectual do povo que ele mobiliza.
Desde Lênin e Trotsky, dois dos líderes da revolução russa, que vinham de famílias ricas — o pai do primeiro era um burocrata do czar; o do segundo, um rico latifundiário —, esses extremistas oriundos da elite econômica assumem certa aura de santidade, de intocabilidade, como se tudo lhes fosse permitido. Afinal, pensam alguns, se eles renunciaram aos bens materiais, então não estão pensando em si mesmos e só no bem do próximo.
Acontece, leitores, que as pessoas podem ser boazinhas e equivocadas. São Francisco de Assis não foi um grande sujeito porque renunciou aos bens materiais, mas porque levou a bondade, a generosidade e a concórdia por onde quer que tenha passado. O fato de alguém decidir viver uma vida humilde não coloca ninguém acima do bem e do mal. Pode-se fazer essa escolha por uma ambição ainda maior do que a de bens materiais: a ambição de reformar o mundo nem que seja na marra, sem atentar para os prejuízos de terceiros.
Não consta que Robespierre, o maior assassino da Revolução Francesa, quisesse algo para si, pessoalmente. Ao contrário até: era inteiramente dedicado à sua causa. E, cegado por ela, respondeu pela morte de milhares, até que a sua cabeça foi cortada pelo sistema que ele mesmo inventou. Stálin não queria ser rico. Queria o poder.
Nesta quinta, Boulos deu um ultimato aos poderes públicos. Segundo disse, eles têm 28 dias para regularizar todas as invasões de sem-teto da cidade, ou ele promete transformar São Paulo num inferno, com a sua minoria de extremistas. Sim, “todas as invasões”, ele disse, inclusive a chamada “Copa do Povo”, nas imediações do Itaquerão. “Os governos federal, estadual e a prefeitura que se entendam para resolver a situação e desapropriar o terreno”, afirmou Boulos, dando de ombros para a democracia. Ele é o dono da verdade, o dono da causa, o dono da bola.
Natália Szermeta, parceira do doutor no movimento, resolveu fazer literatura ruim: “O MTST colocou em campo a seleção dos brasileiros oprimidos, dos que não se contentam com migalhas. A seleção dos opressores pode até entrar em cena, mas não vão dormir uma noite sem que a gente incomode o sono deles”.
A democracia é o regime da maioria e que tem, como um de seus pilares, a tolerância com as minorias. Em nenhum lugar está escrito que essas minorias tiranizam e dão ultimatos às maiorias. A razão é simples: onde quer que isso aconteça, o que se tem é tirania. O senhor Guilherme Boulos é um contumaz violador da lei e só não está na cadeia, se querem saber, porque é um extremista oriundo das elites, que virou herói também de setores da imprensa, apesar de suas práticas truculentas.
Ele é psicanalista? Está na hora de esse rapaz ir para o divã saber por que ele acredita tão pouco na negociação e só escolhe o caminho do confronto. Freud certamente explica.
Por Reinaldo Azevedo
VEJA ABAIXO A INTIMIDADE DE DILMA COM O Guilherme Boulos
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