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quinta-feira, abril 17, 2014

TUMA JUNIOR: O PT criou um estado paralelo se apropriando dos órgãos públicos


O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com o ex-Delegado de Polícia e ex-Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior.

Recentemente Romeu Tuma Júnior escreveu, o que é hoje um dos maiores trabalhos sobre verdades e fatos da história recente da república, com denúncias e fatos que abalam as estruturas do Planalto. Seu livro “Assassinato de Reputações – um crime de Estado”, escrito em conjunto com o jornalista, Claudio Tognolli, apresenta uma série de histórias e verdades sobre como o Estado atual destrói os valores fundamentais da democracia brasileira em favor de um projeto individual de poder, e principalmente para um partido.

Brasil no Mundo: O Brasil, e o mundo, vêem de forma estarrecida os acontecimentos nefastos contra a Petrobras. O que seria o grande “salto estratégico e de riqueza” para o Brasil, hoje está cercada de mistérios e negócios escusos. Como o senhor vê os últimos acontecimentos na Petrobras?

Romeu Tuma Júnior: Estou estupefato, mesmo admitindo não ser muito surpreendente, afinal esse governo tem partidarizado, no pior sentido, tudo o que é possível. E quando digo partidarizar, não é só instrumentalizar as empresas e o aparato estatal, mas efetivamente se apropriar das coisas do Estado como se fossem suas. Eles definitivamente criaram um estado paralelo se apropriando dos órgãos públicos.

Brasil no Mundo: A Polícia Federal cumpriu mandato de busca e apreensão na Petrobras após as diversas denúncias e apurações referentes a corrupção, contratos irregulares, desvios de recursos, decisões equivocadas do conselho e da presidência. Ao mesmo tempo, parece que a ação da PF fica com um ar de “teatro armado” em função da própria presidência da Petrobras agir como grande “policial” de si mesma. Como o senhor analisa a atuação da PF neste caso, e a própria atitude da Presidência da República em neutralizar as operações?

Romeu Tuma Júnior: Na minha modesta opinião, a Polícia Federal descumpriu uma ordem judicial, ou divulgou uma nota a imprensa ratificada pelo Ministro contendo informações inverídicas.
Veja o seguinte. Se ela recebeu uma ordem com um mandado de Busca e Apreensão na Presidência da Petrobras, eles (PF) não podem chegar lá e se contentar em receber alguns documentos “separados” e entregues pelos representantes da Empresa! Se havia essa possibilidade, bastava um ofício solicitando o documento específico que se necessitava.
Está muito claro que alguma coisa ocorreu porquê eles ficaram muitas horas lá dentro, e depois soltaram duas notas combinadas, uma da PF e outra da Petrobras.
O que eu questiono é o seguinte: A PF agiria da mesma forma quando fosse fazer busca na casa, na empresa ou em qualquer outro local de propriedade de algum adversário político ou desafeto do governo? O Ministro da Justiça viria a público declarar que as pessoas estão colaborando? É óbvio que não!
Tem muito a ser esclarecido neste episódio. De cada vergonha é possível conceber outra maior ainda.
Isto prova a instrumentalização da PF e o esforço do governo em neutralizar as ações que são realizadas por ordem judicial.

Brasil no Mundo: É mais do que notório que nos corredores da Petrobras existe um “estado” de espionagem contra funcionários. Um verdadeiro “Estado policialesco” para controlar quem fala com quem, e o que se pensa. Este ambiente não lembra os tempos do SNI instalado em praticamente todas as estatais e também ministérios?

Romeu Tuma Júnior: Lembra sim, mas com uma importante diferença: naquele tempo, a preocupação era com os “estrangeiros” com a espionagem internacional que pudesse “roubar” nossas riquezas, e hoje é com relação aos funcionários, as suas posições político-partidárias, as suas ligações pessoais, enfim, hoje, o governo espiona o próprio funcionário, que para ele é o inimigo.
É a essência do Estado Policial implantando por um governo policialesco.

Brasil no Mundo: Será que Snowden estava certo, os Estados Unidos já sabiam de tudo o que estava acontecendo na Petrobras? Diferente do que os deputados e senadores brasileiros achavam, não é?

Romeu Tuma Júnior: É bem possível que sim. Como eu disse, não é difícil imaginar que isso esteja ocorrendo em outras empresas de grande porte, e em diversas áreas do Estado brasileiro, que por sinal tem sido terceirizada para um grupo político-partidário.

Brasil no Mundo: O seu livro “Assassinato de Reputações – um crime de Estado” há semanas está nas primeiras posições dos mais vendidos do país. Como o senhor vê este sucesso e o impacto junto ao público brasileiro?

Romeu Tuma Júnior: Vejo como um livro documentário que despertou a sociedade brasileira a conhecer os verdadeiros fatos que constroem nossa História.

Brasil no Mundo: Mais uma vez o Brasil conseguiu mais um indicador internacional negativo para sua coleção. De todos os assassinatos no mundo, o Brasil tem 11,4% de participação. Como o senhor vê a escalada da violência no país? E que soluções, se existem, poderiam ser efetivamente aplicadas?

Romeu Tuma Júnior: É uma vergonha! Fruto da falta de uma política nacional de Segurança Pública capaz de envolver a União, os Estados, Municípios e a Sociedade nesse enfrentamento, despolitizando o debate e retirando-o da agenda eleitoral.
O governo federal tem se mostrado incapaz de gerenciar um Sistema integrado que convirja para a diminuição da violência urbana e principalmente para que anule a criminalidade de ocasião, que é a que mais incomoda as pessoas no dia a dia.
Nem o problema do queijo suíço que são nossas fronteiras, o governo federal resolve!

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