O ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, afirmou
nesta quarta-feira (16) que as cláusulas omitidas no resumo para
aquisição da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, não eram importantes,
rebatendo declaração da presidente Dilma Rousseff de que o parecer era "falho" por causa dessa omissão.
Cerveró disse ainda que não teve "intenção de enganar" a presidente
Dilma, que na época presidia o Conselho de Administração da Petrobras e
deu o aval para o negócio.
Em depoimento na Câmara dos Deputados, Cerveró defendeu o negócio e
explicou que fazia parte de um plano da Petrobras de aumentar o refino
no mercado internacional –mesma explicação dada pela atual presidente da
Petrobras, Graça Foster, em depoimento ontem no Senado.
No mês passado, Dilma criticou o resumo feito por Cerveró por omitir, na
transação para compra de metade da refinaria de Pasadena com a empresa
Astra Oil, a existência das cláusulas "Put Option" (que estabelecia que
em caso de desacordo entre os sócios uma parte comprasse a outra) e
"Marlim" (que dava à outra sócia uma garantia de rentabilidade mínima de
6,9% ao ano).
Cerveró também foi criticado ontem por Graça Foster por omitir essas
cláusulas no resumo, mas hoje rebateu as críticas. "Não houve nenhuma
intenção de enganar ninguém", disse o ex-diretor.
"A cláusula de saída, 'Put Option', é uma prática mais do que comum. Em
qualquer sociedade, principalmente aquelas em que a proporção é de 50%
para 50%, É uma defesa tanto para a Astra como para nós, são pagamentos
para evitar que o sócio imponha condições prejudiciais. É uma clausula
comum. A Petrobras tem centenas de participações, sempre tem cláusula de saída. É isso que é a cláusula de
'Put Option', nada mais do que isso, não tem nenhuma relevância, não é
um aspecto importante", afirmou Cerveró.
E, logo em seguida, afirmou que a cláusula 'Marlim' era uma "proteção
negociada com o sócio" para permitir que a Petrobras processasse óleo
pesado na refinaria, que era a intenção da empresa no negócio mas que
sofria resistência da Astra Oil. Por isso, estabeleceu uma diferença de
3,5 dólares entre o óleo pesado, que tem menos valor, e o óleo leve, que
gera mais lucro.
"Não é uma garantia adicional de rentabilidade para o sócio", afirmou.
"Essas cláusulas não têm representatividade no negócio", disse.
PRÉ-SAL
Segundo Cerveró, a descoberta do pré-sal tornou a refinaria de Pasadena
desinteressante para a Petrobras, pois a empresa passou a priorizar
fazer grandes investimentos para a exploração em águas profundas no
Brasil. Na época, porém, o negócio foi atrativo e até mais barato do que
a média de mercado, disse.
"A compra da refinaria de Pasadena ou de qualquer outra refinaria no
mercado americano estava perfeitamente enquadrada dentro do planejamento
estratégico de agregação de valor do nosso petróleo pesado".
O ex-diretor afirmou que os investimentos em refinarias no exterior
fizeram parte do planejamento estratégico da Petrobras da gestão
anterior, na época do governo FHC (PSDB), mas que foram ratificados na
gestão Lula. "Tenho essa satisfação e esse orgulho de ter dirigido a
companhia na área internacional, seguindo uma orientação estratégica e
uma orientação do presidente Lula de internacionalização da Petrobras",
disse Cerveró.
Ontem, Graça Foster afirmou que Pasadena deu prejuízo de US$ 530 milhões à Petrobras e disse que a aquisição "não foi um bom negócio".
CLIMA
O depoimento de Cerveró gerou mais de um bate-boca entre parlamentares
da base governista e da oposição. O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)
chegou a interromper o depoimento para dizer que foi "enganado".
Segundo ele, teve prejuízo por ter comprado R$ 1,000 em ações da
Petrobras que hoje valem R$ 431.
O raciocínio gerou a reação de deputados da base governista que disseram
que comprariam as ações de Hauly. Os deputados Domingos Sávio (PSDB-RJ)
e Edson Santos (PT-RJ), discordando da condução do depoimento, chegaram
a discutir ao final da primeira participação de Cerveró.
A discussão fez o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), interromper rapidamente a audiência, que já dura duas horas.
Fonte: Folha.com
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