Acredito que o ex-presidente Lula esteja falando a verdade quando
garante que não pretende se candidatar novamente à presidência da
República. O que não quer dizer que não venha a sê-lo. Nada mais
verdadeiro, embora trivial, do que a comparação da política com uma
nuvem que vai mudando de forma à medida que passa, feita pelo
ex-governador mineiro Magalhães Pinto, muito em voga nos últimos dias
devido a seu papel no golpe militar de 1964.
Em política, o fato novo
é capaz de provocar reações para que não se torne fato consumado. São
tão grandes os interesses petistas, alguns até mesmo inconfessáveis, que
se a presidente Dilma continuar a cair nas pesquisas eleitorais as
pressões podem se tornar insuportáveis para que Lula entre em campo
novamente para salvar o time.
Não foi assim que o ministro Gilberto
Carvalho, o mais lulista dos lulistas no Palácio do Planalto classificou
Lula, o reserva de luxo que está no banco pronto para entrar em caso de
necessidade? Mas será possível um jogador ganhar sozinho um jogo
perdido, a poucos minutos de seu final, mesmo que seja considerado o
Pelé da política?
O próprio Pelé sabiamente recusou-se a esse papel
quando, no governo Geisel, foi instado por assessores palacianos a
voltar à seleção brasileira para jogar a Copa de 1974. Preferiu se
preservar para manter a memória dos dias de glória.
Sim, por que se
Lula for escalado, é por que o jogo já está dado por perdido. O fogo
amigo vem de vários lados. Uns já falam em uma chapa que teria Lula na
cabeça e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos como vice. Outros
dizem que a própria Dilma aceitaria de bom agrado não sair para a
reeleição caso Lula queira disputar, que esse rodízio já estava previsto
no acordo que a lançou candidata. Realmente seria preciso que Dilma
concordasse em abrir mão de sua candidatura para que a transição fosse
feita de forma pacífica, sem crise política, que enterraria até mesmo a
candidatura de Lula.
Mas como explicar para o eleitorado a súbita
mudança de posição? Ter um acordo desse tipo sem anunciar à população na
ocasião mesma em que Dilma foi lançada presidente não será sentido por
muitos como uma traição, um jogo político que aparta o eleitor das
decisões?
Qual será o comportamento da presidente Dilma, ainda no
Palácio do Planalto, com a caneta na mão, mas sem prestígio político,
obrigada a abrir mão de seu direito à reeleição, mesmo para perder?
Há
quem acredite que o ex-presidente Lula está agindo na vida real como o
vice-presidente Frank Underwood no seriado House of Cards: oficialmente,
elogia e defende o presidente Garret Walker, para nos bastidores minar
suas forças políticas e tomar o seu lugar. Não creio que seja assim.
Lula
está na melhor situação que poderia ter. Não tem os problemas de um
presidente, mas todas as suas regalias. Manda e desmanda; nomeia e
demite quem quiser, é recebido no mundo todo com honras de chefe de
Estado. Além do mais, essa condição, reconhecida por todos, coloca a
responsabilidade do governo Dilma em suas mãos.
Difícil não atribuir a
Lula grande parte do desarranjo por que passa o governo, no mínimo por
ter sido o responsável por Dilma estar onde está. Mesmo que a presidente
Dilma não faça tudo que Lula sugere, as constantes reuniões de
aconselhamento que dá à presidente o faz co-autor de seus atos, mesmos
os que critica.
Lula vai querer arriscar seu prestígio em uma eleição
difícil ou, pior ainda, um governo difícil, que terá que apertar o
cinto logo no início para não ser levado de cambulhada por uma crise
econômica anunciada? Melhor tentar salvar Dilma e, caso seja impossível,
preservar-se para poder volta em 2018, se for o caso, depois que o
trabalho sujo tiver sido feito pelo candidato eleito este ano.
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