Fala-se de tudo. Menos da crise da família.
O crescimento da Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas
castigam a juventude. A deterioração econômica exacerba o clima de
desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais
(educação, saúde, segurança, transporte) gera muita frustração. Para
muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida.
Desemprego,
gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e
drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e
escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a
juventude não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é,
frequentemente, a manifestação visível da depressão. A situação é
reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O
novo perfil da delinquência é resultado acabado da crise da família, da
educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do
entretenimento, que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores.
Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência das políticas
públicas e a inexistência de expectativas.
Se a crescente falange
de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez
mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que
ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As
análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros
argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da
família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo,
assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem
precedentes. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão
na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o
clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução
válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para
redescobrir o óbvio.
O pragmatismo e a irresponsabilidade de
alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do
problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas
oscilações do Ibope, tem na violência uma de suas alavancas. A
transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A
valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios
comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade
têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime.
A
transformação da internet num descontrolado espaço para a manifestação
de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas,
frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem
fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado Democrático de
Direito) está na origem de inúmeros comportamentos patológicos.
É
preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso
com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O
resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e
da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas.
Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e
identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus
efeitos antissociais.
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