Única representação internacional do órgão não trata de temas econômicos
País sofre com alta taxa de inflação e problemas cambiais; coordenador critica publicamente oposição a Maduro
FABIANO MAISONNAVE na Folha
Única representação internacional do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), a filial do órgão na Venezuela prioriza análises
favoráveis ao chavismo e projetos de integração com o Brasil ao estudo
dos graves problemas macroeconômicos do país.
Desde a criação da filial venezuelana, em 2010, nenhum estudo sobre a
economia venezuelana, que apresenta alta inflação e disparidade cambial
crescente, foi feito.
A ausência desses temas contradiz a justificativa oficial dada pelo
próprio instituto para a missão no seu início, pela qual "os grandes
temas" seriam "macroeconomia e financiamento de investimento,
acompanhamento e monitoramento de políticas públicas".
Nestes quatro anos, a Venezuela tem sofrido uma deterioração contínua de
sua economia. A inflação fechou o ano passado em 56%, há
desabastecimento de produtos básicos e um mercado de câmbio
descontrolado.
Apesar da conjuntura, nos estudos produzidos sobre a Venezuela no período e enviados pelo Ipea à Folha
via Lei de Acesso à Informação, os assuntos predominantes são
cooperação da Venezuela com o norte do Brasil e o modelo político
venezuelano.
Os tom varia entre neutro e elogioso ao chavismo. Nos estudos sobre
cooperação, problemas como insegurança jurídica ficam praticamente de
fora, apesar do recente histórico de nacionalizações e do relativamente
baixo investimento estrangeiro.
Há também relatórios mais políticos, como o "Federalismo, Democratização
e Construção Institucional no Governo Hugo Chávez", de três autores,
onde se lê:
"O modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia
representativa despolitizadora que predomina ainda hoje no mundo. Supera
o modelo idealizado pelos pais fundadores da república
norte-americana".
A missão é chefiada pelo economista brasileiro Pedro Silva Barros, autor
de textos no qual defende os governos de Chávez e o de seu sucessor,
Nicolás Maduro, e critica a oposição venezuelana.
Segundo o Ipea, os gastos com estrutura são baixos. Barros tem salário
de US$ 12.291 e ocupa uma sala na representação da Caixa Econômica
Federal em Caracas. Trabalha com pesquisadores e bolsistas que
permanecem curtos períodos no país.
Colaborador da publicação de esquerda "Carta Maior", ele escreveu, na
visita recente a Brasília da deputada oposicionista radical cassada,
María Corina Machado:
"[O senador tucano] Aécio Neves a saudou como representante da voz das
barricadas, legitimando a violência que levou a morte de quase 40
venezuelanos."
A filial do instituto em Caracas foi criada por um acordo entre Lula e Chávez.
Na época, o Ipea era chefiado pelo petista Marcio Pochmann, criticado por ter politizado o instituto.
"Ele [Barros] está lá pra chancelar um governo estrangeiro, pra dar um
ar de democracia, de legitimidade a um governo ditatorial", disse à Folha o economista Adolfo Sachsida, desde 1996 no Ipea.
Ele ressalva que a responsabilidade por isso é de Pochmann, e não do atual presidente, Marcelo Neri.
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