Artigo de Eliane Cantanhêde na Folha
Estava demorando, mas um dia ficaria clara uma das
heranças malditas de Dilma: Lula tratava estatais e órgãos federais como
se fossem dele, do PT e dos aliados.
Os exemplos se multiplicam, mas surge um novo fator: os funcionários de
carreira das estatais e dos órgãos, desses que vestem a camisa das suas
instituições, parecem cansados da ingerência política tão escrachada.
Dilma se dirigiu a eles em discurso ontem sobre Petrobras –não por acaso
em Pernambuco, para disputar holofotes com Eduardo Campos, que
anunciava Marina Silva como sua vice em Brasília.
No discurso, detalhado milimetricamente pelo marketing, Dilma prometeu
ao eleitorado em geral defender a Petrobras com "todas as forças" contra
"mal feitos, ações criminosas, corrupção...". E mirou a simpatia dos
funcionários da principal empresa do país ao condenar "a campanha
negativa" dos que, "para tirar proveito político, ferem a nossa
Petrobras".
Engenheiros, técnicos, advogados, secretárias e servidores de apoio da
Petrobras, porém, sabem que não há uma "campanha negativa", mas fatos:
controle político de preços, perda de metade do valor de mercado,
dívidas astronômicas, negócios nebulosos dentro e fora do país, simbiose
entre diretores e gente de péssima reputação. Eles, os funcionários,
sofrem mais do que ninguém os efeitos do aparelhamento.
Isso vale para BB, Ipea, IBGE... Lula ia além e ameaçou até transformar a
Vale "numa Petrobras". E a Vale nem mais estatal é. Já imaginou? Há um
"modus operandi", que, aí sim, "fere" as nossas estatais e órgãos
públicos para tirar proveito político.
Bom exemplo é a mão pesada no IBGE, a la Cristina Kirchner, suspendendo a
Pnad Contínua (sobre emprego) até janeiro, leia-se, depois da eleição. A
diretora Marcia Quintslr pediu demissão. Quantos, como ela, estão em pé
de guerra no instituto?
Rubens Ricupero dizia que "o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde-se". Pagou bem caro por isso.
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