O aparelhamento partidário em setores estratégicos ameaça padrão de qualidade técnica que sempre prevaleceu na estatal
EDITORIAL O GLOBO, Publicado:
8/04/14
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é
reconhecida, no setor estatal do país, pela seriedade, qualidade e
relevância de seu trabalho. É um órgão de ponta, considerado um dos
grandes responsáveis pelo salto da produção agropecuária devido ao
pioneirismo das pesquisas para aumento da produtividade e adaptação de
espécies a diferentes regiões brasileiras. Além dos trabalhos com
pesquisas na área da genética, responsáveis pelo primeiro clone
brasileiro.
É uma empresa estatal diferenciada em que, num
universo de 9.870 empregados, apenas dez são comissionados sem integrar o
quadro efetivo. Um quarto dos servidores é de pesquisadores, dos quais
74% têm doutorado e 7%, pós-doutorado. Há uma tradição de nomear
funcionários de carreira que se destacam para os cargos de direção, uma
forma de manter livres de influências políticas externas, tanto quanto
possível, as metas traçadas.
Surgem, todavia, nuvens carregadas no
horizonte da Embrapa. Há indícios de aparelhamento e apadrinhamento
partidário em setores estratégicos da empresa, de afrouxamento de
critérios para escolha de diretores, com predominância do critério de
indicação política. Esses indícios são uma ameaça ao padrão de qualidade
e relevância mantidos pela Embrapa, mas não chegam a surpreender, pois
tem sido rotina governamental em relação ao setor estatal brasileiro.
Neste
momento, em que espoucam escândalos envolvendo a direção da maior e
mais importante estatal — a Petrobras— durante os governos do PT, é
desanimadora a perspectiva de a Embrapa — a “joia da coroa”, como uma
vez a chamou o ex-presidente Lula — ser afetada no que tem de mais
valioso: os critérios do mérito profissional na indicação de seus
principais dirigentes.
A atual diretoria foi escolhida, em abril
de 2011, dentro dos critérios que prevaleciam na empresa — processo de
seleção interno, com análise de currículos e classificação das melhores
posições, para posterior indicação dos nomes pelo Conselho de
Administração e Ministério da Agricultura. Mas os mandatos terminam este
mês e, na nova composição, deve ganhar força a indicação política.
Lamentável.
Maurício Antônio Lopes, atual presidente e pesquisador
de carreira, chegou à função, em outubro de 2012, por nomeação do
Planalto, sem seleção interna. Em entrevista ao GLOBO, negou que haja
aparelhamento da Embrapa por partidos políticos, admitindo apenas
“preferência política” por parte de alguns diretores e chefes de área.
A
Embrapa não precisa de politicagem, mas de profissionalismo, orçamento
seguro e parcerias privadas para ter condições de manter sua atuação de
ponta num setor tão estratégico para o Brasil somo a agropecuária. É
preciso evitar a sua destruição.
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