Texto de JULIANA GRAGNANI na Folha em
Ao apresentar o telejornal "SBT Brasil", na noite desta segunda-feira
(14), a âncora Rachel Sheherazade não fez seus habituais comentários
sobre as notícias do dia. Proibida pelo SBT de dar seu parecer, a
jornalista diz que sentiu falta de opinar.
"Há quatro anos, tenho me posicionado no telejornalismo. É claro que senti falta do espaço de opinião", disse a apresentadora à Folha, por e-mail.
"Quando me contratou, a empresa foi muito clara. O SBT queria minhas opiniões. E me deu plena liberdade para me expressar", diz. Mas ressalta: "Não cabe a mim discordar de uma determinação da emissora. Não fui contratada para definir as estratégias da empresa, o formato do jornal nem os rumos do jornalismo".
Ontem, o SBT informou que os jornalistas da casa não poderão mais emitir opinião em decorrência "do atual cenário" criado em torno da funcionária.
Em fevereiro, Sheherazade defendeu a a ação de um grupo que amarrou um assaltante a um poste. Também convocou quem fosse crítico daquela atitude a "adotar um bandido". As falas geraram protestos nas redes sociais e entre defensores dos direitos humanos e motivaram representações contra Sheherazade na Procuradoria-Geral da República, movidas pelos partidos PSOL e PCdoB. Em resposta, a apresentadora disse que havia "pressão política muito forte" para que ela fosse calada.
A nota divulgada pelo SBT informando sobre a mudança diz: "Essa medida tem como objetivo preservar nossos apresentadores Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, que continuam no comando do 'SBT Brasil'".
"Acredito que as opiniões foram o grande diferencial do 'SBT Brasil' com relação aos demais telejornais. Esse foi um formato inovador, mas também arriscado. Deu certo", afirma a apresentadora. Segundo ela, a estratégia gerou mais audiência, mais anunciantes e conquistou o "público internauta".
Questionada sobre comentários que teria feito caso pudesse, na noite de ontem, a apresentadora citou as declarações feitas pela presidente Dilma Rousseff em visita a Ipojuca, em Pernambuco.
"Ela disse que iria defender com unhas e dentes a imagem da Petrobras. Ora, a imagem da estatal já está na lama. A presidente tem é que tentar salvar o que resta da Petrobras após 12 anos de dilapidação pelos corruptos."
Dilma disse que defenderá a Petrobras "em quaisquer circunstâncias e com todas as forças". Na semana passada, Lula pediu que o PT e o governo defendessem com "unhas e dentes" a estatal.
A âncora voltou ontem de férias, depois de ter negado rumores de que fora afastada por causa da polêmica em que se envolveu.
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