Objetivo é que leite do animal produza proteína usada para tratar doença genética rara
No final de março, nasceu Gluca, a primeira cabra clonada e transgênica
da América Latina. Além do feito científico em si, a modificação
genética tem como objetivo que Gluca produza em seu leite uma proteína
chamada glucocerebrosidase, usada para o tratamento da doença de
Gaucher.
Rara e de origem genética, a doença causa deficiência de uma enzima
responsável pela digestão da gordura de células e tem grande custo para o
governo. O valor de importação dos tratamentos é estimado em até R$ 250
milhões por ano.
"Nossa ideia era usar a glândula mamária da cabra como um biorreator
para produzir proteínas", conta Luciana Bertolini, da Unifor
(Universidade de Fortaleza) sobre o projeto, iniciado em 2011.
A escolha da equipe recaiu sobre caprinos (em vez de bovinos), explica
Bertolini, pela gestação mais curta (cinco meses), a maior
disponibilidade desses animais e o manejo fácil.
A lactação de Gluca poderá ser induzida em cerca de quatro meses. Os
pesquisadores esperam agora que a glucocerebrosidase venha a ser
expressada no leite.
Segundo a pesquisadora, os passos seguintes são o processo de
purificação, que isola a proteína, os testes "in vitro", para verificar
se a proteína produzida tem a atividade necessária e, por fim, testes
clínicos, para verificar a eficácia no tratamento nos pacientes. "Ainda
há um longo caminho pela frente", diz.
Uma outra cabra clonada e transgênica está em gestação e deve nascer dentro de três meses.
Se confirmadas as expectativas, a produção do rebanho de caprinos deve ser iniciada a partir do ano que vem.
O projeto foi conduzido em parceria com a empresa Quatro G Pesquisa e Desenvolvimento, de Porto Alegre.
PERCALÇOS
Para chegar a Gluca, no entanto, a equipe de pesquisadores teve vários obstáculos. "Trabalhar com clones é muito difícil, não existe um protocolo eficiente
de clonagem, por exemplo. Ainda é um processo de tentativa e erro",
explica a pesquisadora.
Bertolini conta que a equipe trabalhou com 500 embriões para conseguir o
nascimento de Gluca. No processo, foram usadas 45 cabras receptoras
como barrigas de aluguel.
Uma "irmã" de Gluca, proveniente da mesma gestação, morreu logo após o parto, devido a malformações congênitas.
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