Mobilizados pelo Planalto para barrar a CPI da Petrobras, líderes do
pedaço do pelotão governista leal a Dilma Rousseff estão otimistas
quanto às chances de sucesso da articulação. Receiam, porém, que uma
eventual reação incendiária do demitido Nestor Cerveró complique a
operação.
Cerveró é o autor daquele documento que Dilma Rousseff
diz tê-la induzido a avalizar erroneamente a compra da refinaria
americana de Pasadena, em 2006. A presidente empurrou Cerveró para
dentro de um microondas ao anotar num texto oficial que o documento
dele, recheado com “informações incompletas”, era “técnica e
juridicamente falho”.
Do exterior, onde se encontra em viagem de
férias, Cerveró levou a mão ao fósforo. Fez isso ao sinalizar, em
diálogos telefônicos com pelo menos dois de seus contatos no mundo da
política, que não admitiria ser tratado como executivo relapso ou
desonesto. Seu timbre era de ameaça.
Pouco depois, já bem passado,
Cerveró foi aconselhado a se demitir. Disse que não sairia. Na
sexta-feira (21), ele foi exonerado da diretoria Financeira da BR
Distribuidora, o posto para o qual havia sido deslocado após perder, em
2008, a poltrona de diretor Internacional da Petrobras.
Apadrinhado
pelo PT e avalizado pelo PMDB —e vice-versa— Cerveró tornou-se um fio
desencapado. Em gestões subterrâneas, o petismo tenta convencê-lo a
passar fita isolante na língua. Os operadores do ‘deixa-disso’ afirmam
que não há o que possa ser dito contra Dilma.
Nessa versão, o que o
governo teme é que, tomado pela irritação, Cerveró forneça faíscas à
oposição. Na melhor hipótese, daria discurso para os antagonistas de
Dilma Na pior hipótese, acenderia a CPI.
Nesta terça (25), o
presidenciável tucano Aécio Neves reúne a oposição para definir a
estratégia do bloco pró-CPI. No final de semana, Aécio conversou com o
ex-presidente Fernando Henrique Carodso e com o governador Geraldo
Alckmin, de São Paulo. Ambos haviam declarado que uma boa investigação
do Ministério Público tornaria a CPI desnecessária. Em nome da unidade,
foram convencidos a dar meia-volta.
FHC reposicinou-se em cena por meio de uma nota. Escreveu:
“Os acontecimentos revelados pela imprensa sobre malfeitos na Petrobras
são de tal gravidade que a própria titular da Presidência,
arriscando-se a ser tomada como má gestora, preferiu abrir o jogo e
reconhecer que foi dado um mau passo no caso da refinaria de Pasadena.
Pior e fato único na história da empresa: um poderoso diretor está preso
sob suspeição de lavagem de dinheiro.”
“Sendo assim”, acrescentou
FHC, “mais do que nunca se impõe apurar os fatos. Embora, antes desse
desdobramento eu tivesse declarado que a apuração poderia ser feita por
mecanismos do Estado, creio que é o caso de ampliar a apuração. O
presidente do PSDB, senador Aécio Neves, conduzirá o tema, em nome do
partido, podendo mesmo requerer, com meu apoio, uma CPMI.”
Fonte: Blog do Josias