Carlos Newton na Tribuna da Internet
A decisão de proibir a comemoração dos 50 anos da Revolução de 1964,
transmitida ao ministro da Defesa Celso Amorim pela presidente Dilma
Rousseff, está causando grande insatisfação nas Forças Armadas. O
assunto já vinha dominando os bastidores desde 19 de fevereiro, quando o
Estadão publicou um explosivo artigo do general (de Exército, quatro
estrelas) da reserva Rômulo Bini Pereira, intitulado “Árvore Boa”,
defendendo o direito de os militares celebrarem a “Revolução Democrática
de 31 de março de 1964”.
Desde o início do governo Lula, a passagem do 31 de março é lembrada
discretamente, com menção na ordem do dia dos comandos militares. Desta
vez, porém, a data marca os 50 anos do golpe, que não foi somente
militar, pois teve o entusiástico apoio de importantes figuras da
política e do empresariado, que desde sempre participaram da trama. Este
ano, os militares esperavam que a presidente Dilma tivesse uma maior
compreensão, mas ela se apressou em determinar a proibição.
Como se vê, Dilma não demonstra jogo de cintura e é revanchista. Não
tem o menor prestígio entre os militares, muito pelo contrário. Sua
decisão de criar a Comissão da Verdade evidentemente desagradou as
Forças Armadas, especialmente porque diversos integrantes do primeiro
escalão do governo depois passaram a defender a revogação da Lei da
Anistia. E começaram a ser criadas outras Comissões da Verdade nos
Estados…
CORTE NO ORÇAMENTO
Em dezembro, na hora de a equipe econômica fazer cortes no Orçamento
deste ano, o Ministério da Defesa foi o maior prejudicado. A presidente
da República não teve contemplação e mandou reduzir R$ 3,5 bilhões das
verbas militares, inviabilizando importantes programas de defesa e
obrigando a diminuição do horário de funcionamento dos quartéis, por
falta de recursos para alimentar a tropa e custear as atividades.
Depois, em fevereiro, mandou que o ministro Amorim determinasse a
punição dos oficiais da reserva (mais de 200) que assinaram manifesto
com críticas ao governo, à criação da Comissão da Verdade e à defesa da
revogação da anistia. Mas até agora os três comandantes militares não o
fizeram, porque existe uma lei em vigor que preserva o direito de os
militares da reserva se manifestarem politicamente. E o número de
assinaturas no manifesto só está aumentando…
Esta é a situação atual, e no texto publicado no Estadão o general Bini deixa as coisas bem claras: “Na
área militar nota-se ainda repulsa aos atos das citadas comissões (da
Verdade). Ela é flagrante, crescente e de silenciosa revolta. Pensam que
os integrantes das Forças Armadas – quietos, calados e parecendo
subservientes – assistem passivamente aos acontecimentos atuais com sua
consciência adormecida. Não é bem isso que está acontecendo!”
Por ser presidente da República, Dilma Rousseff consequentemente é
comandante-em-chefe das Forças Armadas. Pode impedir as comemorações do
31 de março, mas os militares da reserva estão se organizando para lhe
dar uma bela resposta, através de suas entidades de classe – o Clube
Militar, o Clube Naval e o Clube da Aeronáutica – que vão celebrar os 50
anos da revolução com pronunciamentos duríssimos contra o governo.
E la nave va, fellinianamente.