Artigo de Elio Gaspari publicado em 19/03/2014 na Folha
Quando a doutora Dilma assumiu a Presidência, uma ação da Petrobras
valia R$ 29. Hoje ela vale R$ 12,60. Somando-se a perda de valor de
mercado da Petrobras à da Eletrobras, chega-se a cerca de US$ 100
bilhões. Isso significa que a gestão da doutora comeu um ervanário
equivalente à fortuna do homem mais rico do mundo (Bill Gates, com US$
76 bilhões), mais a do homem mais rico do Brasil (Jorge Paulo Lemann,
com US$ 19,7 bilhões). Noutra conta, a perda do valor de mercado das
duas empresas de energia equivale à fortuna dos dez maiores bilionários
brasileiros.
Se o governo da doutora Dilma deve ser avaliado pela sua capacidade
executiva, o comissariado petista contrapõe ao conceito de "destruição
criadora" do capitalismo a novidade da destruição destruidora. No caso
do preço dos combustíveis, de quebra, aleijou o mercado de produção de
álcool.
Há empresas como a Polaroid, por exemplo, que vão à ruína porque vivem
de uma tecnologia caduca. Outras cometem erros de concepção, como as
aventuras amazônicas da Fordlândia e do Jari. É o jogo jogado. A perda
de valor da Petrobras e da Eletrobras está fora dessas categorias.
Acusar a doutora Graça Foster pelos maus números da Petrobras seria uma
injustiça. A desgraça derivou de uma decisão de política econômica, mas
responsabilizar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo que acontece
nessa área seria caso de atribuição indevida.
O que agrava o episódio é que tanto a Petrobras como a Eletrobras
atolaram por causa de uma decisão politicamente oportunista e
economicamente leviana. Tratava-se de vender energia a preços baixos
para acomodar o índice do custo de vida, segurando a popularidade do
governo. O truque é velho. Mesmo quando deu resultados políticos
imediatos, sempre acabou em desastres para a economia.
Vem aí a campanha eleitoral e o governo irá à luta buscando a reeleição
de Dilma Rousseff com duas plataformas: a da qualidade de sua gerência e
os avanços sociais que dela derivaram. Numa área em que os governos
petistas produziram o êxito do Prouni, o ministro da Educação Fernando
Haddad criou o novo Enem em 2009. Prometia a realização de dois exames
por ano. Nada, mas continuou prometendo. Em 2012 a doutora Dilma
anunciou: "No ano que vem [serão] duas edições". Nada. Apesar de ela ter
dito isso, o ministro Aloizio Mercadante e seu sucessor, José Henrique
Paim, descartaram a segunda prova, que daria à garotada uma segunda
chance de disputar a vaga na universidade. (Nos Estados Unidos, o
equivalente ao Enem oferece sete datas a cada ano.) O novo presidente do
Inep, organismo encarregado de aplicar o exame, dá a seguinte
explicação: "É impossível se fazer dois 'Enens' por ano com esse Enem. O
crescimento [de inscritos] foi de tal ordem que a logística se impôs".
É um caso simples de gerência. Quem disse que ia fazer dois exames foi o
governo. As dificuldades logísticas não explicam coisa nenhuma, porque
elas já estavam aí em 2009 e, desde então, o Brasil não incorporou ao
seu território a península da Crimeia.
O que há no governo é mais do que má gerencia. É uma fé infinita na empulhação, ofendendo a inteligência alheia.