CASO SÉRIO
Artigo de Dora Kramer no Estadão em 25/03/2014
A ideia de usar a Petrobrás para fins políticos já podia ser
identificada claramente no primeiro grande encontro do PT logo após a
eleição de Luiz Inácio da Silva, no Hotel Nacional, em São Paulo. Nos
bastidores travava-se uma batalha pela presidência da empresa e os
interessados comentavam o quanto o posto lhes seria útil para os planos
futuros de eleições a governos de Estados.
A falta de cerimônia naqueles comentários soava a bravata à época.
Hoje fazem todo sentido, como um indicativo da ação premeditada agora
exposta sem a menor sombra de dúvida na série de fatos relatados sobre
os prejuízos que o manejo político da empresa vem causando à Petrobrás.
A cada dia tomamos conhecimento de um pior que o outro. O último diz
respeito à Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, um negócio já
qualificado pela presidente da estatal, Graça Foster, como algo a não
ser repetido. De acordo com documentos obtidos pelo Estado,
a Petrobrás perdoou um "calote" da Venezuela e assumiu o investimento
de cerca de US$ 20 bilhões. Em nome da amizade bolivariana, em
detrimento dos acionistas.
Há, portanto, motivos de sobra para se investigar o que ocorre nas
entranhas da Petrobrás. Apenas talvez a comissão parlamentar de
inquérito proposta pela oposição não seja o instrumento mais eficaz
frente aos dados da realidade.
O principal deles, a maioria governista no Congresso, que nesta hora não faltará ao Palácio do Planalto.
Seja motivada por razões de pressão ou por proteção sincera. O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador José Serra
podem não ter sido eleitoralmente espertos quando se postaram contrários
à CPI, mas foram sensatos.
Ambos sabem como funcionam as coisas no Congresso. O governo, se não
tiver condição de barrar, aceitará a comissão e fará dela um circo.
Seus integrantes procurarão ampliar ao máximo o leque das
investigações, usarão a tribuna para lançar suspeições para todos os
lados e ainda posarão de defensores da estatal procurando dar a
impressão de que quem quer investigar pretende, na verdade, destruir a
imagem da Petrobrás. O PT é exímio nesse tipo de inversão.
O episódio da CPI sobre os negócios do bicheiro Carlos Cachoeira está
aí para demonstrar como uma investigação de mentirinha pode ser
desmoralizante. Muito mais eficiente seria a oposição se postar com
seriedade no acompanhamento e cobrança dos trabalhos do Tribunal de
Contas da União e do Ministério Público.
Faz menos barulho, mas pode produzir mais resultados concretos.