Na tentativa eleitoreira de associar seu nome a uma das poucas
áreas que vão bem na economia, a presidente Dilma Rousseff resolveu
participar da cerimônia do lançamento simbólico da colheita da safra de
soja 2013/2014, no município mato-grossense de Lucas do Rio Verde, a 360
quilômetros de Cuiabá. Sem se incomodar com o fato de que mais de 20%
da safra do Estado já foi colhida e cercada de políticos, Dilma fez um
discurso de quase 40 minutos, subiu à cabina de uma colheitadeira e
posou para fotos recolhendo grãos da oleaginosa.
Criticada no meio empresarial pelos maus resultados que sua política
econômica vem produzindo, a presidente tomou a decisão de, ao mesmo
tempo, aproximar-se de um segmento – o do agronegócio – no qual seu
prestígio vem se reduzindo tão ou mais velozmente do que em outros e
apresentar-se à população, sobretudo aos eleitores, como responsável
pelo notável êxito que se observa no campo.
É, de fato, impressionante o resultado que os agricultores vêm
alcançando nos últimos anos, mas é preciso ficar claro que esses
resultados surgem não por estímulos do governo, mas por decisões,
práticas e determinação dos produtores. Nem a notória precariedade da
infraestrutura de logística, que se constata a cada safra, dificultando e
encarecendo o escoamento da produção, é forte o bastante para reduzir o
ânimo dos produtores. A agricultura continua a crescer a despeito do
governo, sobretudo o atual.
A presidente apontou como um grande desafio para o País o ganho de
produtividade. Para a agricultura, é um conselho inútil, pois esse
desafio vem sendo vencido a cada safra, com resultados até
surpreendentes quando comparadas a evolução da produção de grãos e a da
área total cultivada.
Dilma referiu-se também ao que considera o “diferencial do nosso País
em relação ao mundo”, que é a energia – e ainda “temos o pré-sal”. A
ocorrência de apagões que afetam diversas regiões do País mostra que, em
matéria de energia, os investimentos têm sido insuficientes para
assegurar a normalidade da transmissão e do abastecimento de energia
elétrica. Quanto ao pré-sal, os elevados investimentos que a política do
governo para essa área impôs à Petrobrás estão asfixiando a empresa
financeiramente e limitando as aplicações em outras áreas essenciais,
como a do refino e a de manutenção dos equipamentos em operação.
A presidente disse ainda que “mudaremos a face do agronegócio quanto
mais tivermos armazenagem eficiente”. Em seguida, prometeu “um grande
esforço” para integrar os modais de transporte em Mato Grosso, com a
utilização de ferrovias, hidrovias e rodovias. Tudo isso é indispensável
para tornar ainda mais eficiente a produção agrícola, mas parece que o
governo Dilma só começou a entender isso depois de ter cumprido 75% de
seu mandato. Só no fim do ano passado, por exemplo, foram realizados os
leilões de concessão de rodovias que servem as principais regiões
produtoras. O plano de expansão da malha ferroviária continua no papel.
Quanto às hidrovias, trata-se de um tema seguidamente tratado pelos
governos nas últimas três ou quatro décadas, com baixíssimos resultados
práticos.
A agricultura, mesmo assim, vai muito bem. A mais recente estimativa
da produção de grãos feita pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab) indica que o País produzirá 193,9 milhões de toneladas. Trata-se
de um número inferior ao da estimativa anterior, mas ainda assim é 3,6%
maior do que a colheita da safra anterior, de 186,9 milhões de
toneladas.
A queda em relação à estimativa anterior se deve à redução da
produção de milho da segunda safra. A estimativa já capta alguns efeitos
da seca que atinge a região Centro-Sul, mas é possível que a falta de
chuvas afete também as próximas projeções da Conab.
Mesmo que haja queda nas novas estimativas, o Brasil continuará sendo
um dos maiores produtores de alimentos do mundo e, no caso da soja,
pode tornar-se o líder mundial, passando os Estados Unidos, como indicam
as projeções mais recentes do Departamento de Agricultura americano.