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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Falta de apoio põe em risco bolsas do Ciência Sem Fronteiras

Entidades do setor privado colaboraram com apenas 20% das gratificações prometidas para o programa

Demétrio Weber para O Globo

O programa Ciência sem Fronteiras já concedeu 60,7 mil bolsas de estudo a universitários brasileiros no exterior, mas corre o risco de não cumprir a meta de 101 mil bolsistas até 2015, porque parceiros privados não estão cumprindo o que prometeram. É o caso da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), duas das principais entidades industriais do país. Somadas, elas deveriam bancar 11 mil bolsas, mas, passados mais de dois anos da criação do programa, não contribuíram para o envio de um bolsista sequer.
O Ciência sem Fronteiras foi lançado pela presidente Dilma Rousseff em 2011. O governo comprometeu-se a conceder 75 mil bolsas. Empresas privadas, bancos e estatais responsabilizaram-se por 26 mil, totalizando a meta global de 101 mil bolsas em quatro anos.
Um balanço da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação (MEC), informa que o governo já disponibilizou 57,3 mil bolsas, o que corresponde a 76% de sua meta. Já os parceiros privados teriam liberado apenas 3,4 mil bolsas ou 13% do prometido. Os dados são de 31 de dezembro do ano passado. Procurados pelo GLOBO na semana passada, esses parceiros atualizaram os números e informaram já ter concedido 5.306 bolsas, o equivalente a 20% do previsto.

Empresas pedem mais mestrados profissionais

A CNI não chegou a assinar o termo de cooperação para financiar o Ciência sem Fronteiras. A confederação discorda do formato do programa e reivindica o direito de financiar outro tipo de bolsa, com viés profissionalizante, beneficiando pesquisadores sem vínculo universitário.
O diretor de Operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Gustavo Leal, informou que a entidade está disposta a cumprir a meta. Ele ressalta, porém, que não será a CNI que bancará as bolsas, mas empresas com interesse em qualificar pesquisadores. Da cota de 6 mil bolsas prometidas pela confederação, o Senai custeará mil.
- A CNI defende que, dentro do total do que as empresas custearão, seja contemplada uma modalidade de bolsa para treinamento no exterior com período de até um ano, sem a necessidade de os pesquisadores estarem vinculados a programas de pós-graduação no Brasil. Por exemplo: um pesquisador poderia receber uma bolsa para se qualificar num tipo de tecnologia de interesse do setor produtivo, sem que ele tenha necessariamente vínculos com universidades - disse Leal.
A Abdib, por sua vez, alegou falta de recursos. A entidade reúne construtoras do porte da Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão.
- A principal dificuldade enfrentada pela Abdib e pelas empresas do setor é conseguir reunir os valores expressivos necessários para atingir a meta proposta de concessão de bolsas de estudo - diz o vice-presidente da associação, Ralph Lima Terra, em nota oficial.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é o parceiro privado que assumiu o maior compromisso em número de bolsas: 6,5 mil. Segundo a Capes, porém, a entidade só pagou 650 ou 10% do previsto. O diretor de Relações Institucionais da Febraban, Mário Sérgio Vasconcelos, forneceu outros números. Ele afirmou ao GLOBO que, no fim do ano passado, a Febraban liberou recursos para mais 1.430 bolsas, dentro do cronograma acertado com o governo, que prevê uma participação crescente até 2015.
Segundo Vasconcelos, 21 bancos associados à Febraban dividem a conta. A entidade correu atrás também de parceiros para rachar as despesas. Entre eles, a BM&F Bovespa.
A mineradora Vale é outra parceira. A empresa informa que, em 2011, dispôs-se a destinar US$ 27,8 milhões ao programa, valor suficiente para bancar até 1.000 bolsas, conforme estimativa da época. Ao firmar o termo de cooperação, no entanto, a meta foi reduzida em um quinto, para 796 bolsas, de modo a enquadrar-se no limite financeiro.
A Petrobras e a Eletrobras são as duas estatais parceiras. A Petrobras informa que investirá R$ 318 milhões no programa, enquanto a Eletrobras prevê gastar R$ 150,6 milhões. As duas empresas informaram que seguem o cronograma de cooperação.
O governo busca uma saída para convencer as entidades industriais a cumprir sua cota. Uma primeira tentativa nesse sentido foi a decisão de incluir mestrados profissionais entre as opções para bolsistas, com a abertura de mil vagas em cursos dos Estados Unidos. Além da Capes, o Ciência sem Fronteiras é administrado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ao lançar o Ciência sem Fronteiras, Dilma deixou claro que o poder público tinha fôlego para 75 mil bolsas e que a meta de 100 mil só seria atingida com a ajuda de parceiros. Em dezembro de 2011, na solenidade de regulamentação do programa, ela agradeceu aos presidentes da CNI, Robson Braga de Andrade, e da Adbid, Paulo Godoy, destacando que o grupo de parceiros servia de exemplo ao país. O ministro da Educação, José Henrique Paim Fernandes, disse recentemente que o governo está discutindo a relação com os parceiros. Paim afirmou que o caso será tratado na Casa Civil.
Em nota, a Capes afirma que o governo continua “trabalhando intensamente” para firmar os acordos com a iniciativa privada e que a oferta de mil vagas em mestrados profissionais, neste ano, atendeu a uma demanda da indústria. “As negociações com a CNI e Abdib têm avançado”, diz a Capes.

Notícia publicada em 17/02/14


http://oglobo.globo.com/educacao/falta-de-apoio-poe-em-risco-bolsas-do-ciencia-sem-fronteiras-11624575

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