Caixa também liberou R$ 200 mil para Mostra de Cultura Camponesa; congresso nacional da entidade teve passeata que terminou em tumulto
Eduardo Bresciani - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fecharam contratos sem
licitação de R$ 200 mil e R$ 350 mil, respectivamente, com entidade
ligada ao Movimento dos Sem Terra para evento realizado no 6.º Congresso
Nacional do MST. O evento, há duas semanas, terminou em conflito com a
Polícia Militar na Praça dos Três Poderes que deixou 32 feridos, sendo
30 policiais. Houve, ainda, uma tentativa de invasão do Supremo Tribunal
Federal.
A Associação Brasil Popular (Abrapo) recebeu os recursos para a
Mostra Nacional de Cultura Camponesa, atividade que serviu de centro de
gravidade para os integrantes do congresso do MST. As entidades têm
relação próxima, tanto que a conta corrente da Abrapo no Banco do Brasil
aparece no site do MST como destino de depósito para quem deseja
assinar publicações do movimento social, como o jornal Sem Terra.
O contrato de patrocínio da Caixa, no valor de R$ 200 mil, está
publicado no Diário Oficial da União de 3 de fevereiro de 2014. Foi
firmado pela Gerência de Marketing de Brasília por meio de contratação
direta, sem licitação. A oficialização do acordo do BNDES com a mesma
entidade foi publicada três dias depois.
O montante é de até R$ 350 mil.
A contratação também ocorreu sem exigência de licitação e foi assinada
pela chefia de gabinete da presidência do banco de fomento.
A Mostra Nacional de Cultura Camponesa, objeto dos patrocínios,
ocorreu na área externa do ginásio Nilson Nelson, em Brasília. O
congresso teve suas plenárias na área interna. Os dois eventos tiveram
divulgação conjunta e o objetivo da mostra era mostrar os diferentes
produtos cultivados pelos trabalhadores rurais em assentamentos dentro
de um discurso do MST da valorização da reforma agrária.
Marcha. O congresso foi realizado de 10 a 14 de
fevereiro e reuniu 15 mil pessoas. No dia 12, uma marcha organizada pelo
movimento saiu do ginásio e percorreu cerca de cinco quilômetros até a
Esplanada dos Ministérios. O objetivo declarado era a entrega de uma
carta ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com
compromissos não cumpridos pela presidente Dilma Rousseff na área da
reforma agrária.
No decorrer da passeata, o grupo de sem-terra integrou-se a petistas
acampados em frente ao STF desde as prisões do mensalão, ameaçando
invadir a Corte. Na presidência dos trabalhos, o ministro Ricardo
Lewandowski suspendeu a sessão que ocorria no momento.
Um cordão de isolamento feito por policiais e seguranças da Corte
impediu os manifestantes de avançar em direção ao Supremo. Eles então se
dirigiram ao outro lado da Praça dos Três Poderes, rumo ao Palácio do
Planalto. Quando os sem-terra romperam as grades colocadas na Praça o
conflito começou.
Manifestantes atiravam cruzes que faziam parte da marcha, pedras e
rojões contra a polícia, que usou bombas de efeito moral, gás
lacrimogêneo e balas de borracha contra os militantes. Ao todo, 30
policiais e dois manifestantes ficaram feridos.
No dia seguinte ao conflito, a presidente Dilma Rousseff recebeu
líderes do movimento para debater a pauta de reivindicações, atitude que
sofreu críticas de parlamentares da oposição e ligados ao agronegócio.
24 de fevereiro de 2014