Quem é Sininho, a ativista que virou personagem nos protestos dos black bloc do Rio
Cineasta intensificou militância após se aproximar de grupos anarquistas em 2012
Elisa Quadros/Sininho não está furtando, está herdando. Basta ler o que a sua mãe diz, para confirmar:
— Sempre teve na história brasileira, de todo o mundo, estudantes lutando por melhores condições de saúde, de educação. Sempre teve. Eu sei que a minha filha participa, como tantos outros jovens, de movimentos legítimos pela educação, pela saúde. Só posso dizer que, às vezes, a polícia vem para cima e muitas pessoas de bem, como professores, médicos e os próprios jornalistas, apanharam da polícia. A polícia parece despreparada para este tipo de movimentos. Ela não pertence a partidos políticos. Ela não quer. Como um grupo de jovens de classe média que não estão querendo mais os partidos políticos como se apresentam. Ela é uma pessoa de paz. Está sentindo imensamente esta morte do cinegrafista (Santiago Andrade). Eu sou solidária e estou triste com tudo o que aconteceu."
Para a psicóloga Rosoleta, mãe de Sininho, a filha está fazendo “história” e abusos são cometidos “pela polícia”.
Sininho é filha de Antônio Sanzi, dirigente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, no início dos anos 80, e da psicóloga e professora Rosoleta Moreira Pinto Stadtlander. Na adolescência, ela morou com a mãe e com o padrasto, geólogo da Petrobras, em Macaé, um dos maiores PIB per capita do Rio em função da exploração de petróleo.
E foi em Macaé, como aluna do tradicional Instituto Nossa Senhora da Glória (INSG)/Castelo, onde cursou o Ensino Fundamental, que Sininho militou pela primeira vez. Como não havia grêmio estudantil na instituição salesiana, coube a ela, nos anos 90, organizar alunos para atuar em manifestações com outras entidades estudantis.
— Vim de uma família de petistas — costuma falar ao justificar o engajamento.
Aos 16 anos, quando passou um ano com o pai, em Porto Alegre, Sininho tornou-se presidente do grêmio estudantil do colégio Dom Bosco. A dedicação à causa teve um custo: foi reprovada no primeiro ano do Ensino Médio. — Sempre estive ao lado dos movimentos sociais e dos professores. Mas como sou muito intensa, acabei descuidando com os estudos — confidencia a amigos.
De volta a Macaé, cursou supletivo para concluir o Ensino Médio. Em 2006, ingressou no Curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá. Afastou-se do centros acadêmicos, e mergulhou nos estudos no apartamento locado pela família em Rio Comprido – mesmo bairro da Estácio.
— Na faculdade, ela era uma menina espevitada, posicionada politicamente, muito doce e querida. Era superintensa com as experiências práticas do curso. Não lembro da Elisa como militante de alguma organização — recorda a amiga Raquel Corrêa, 27 anos, que chegou a viajar com Sininho para Macaé e Búzios.
Após a formatura, Sininho trabalhou com pelo menos quatro produtoras de filmes e de comerciais. E passou a viver um dilema:
— Eu não me sentia feliz fazendo propaganda para o capitalismo.
Sócio de uma produtora ouvido por Zero Hora lembra que, após dois meses de trabalho auxiliando na locação de cena para comerciais, ela pediu demissão, há dois anos:— Ela estava visivelmente incomodada. Não tinha o perfil que buscávamos.
Em 2012, a família adquire um apartamento em Copacabana, e Sininho se muda para a Zona Sul. É o período que coincide com a transformação do comportamento dela.
Aproxima-se de ativistas da Frente Independente Popular e da Organização Anarquista Terra e Liberdade (grupos de orientação anarquistas, ultrarradicais, que defendem o emprego de métodos violentos de luta). Torna-se voz ativa em assembleias populares, realizadas em quatro bairros do Rio. Com a explosão dos protestos, em junho, assume a liderança não oficial em manifestações. De rosto limpo, mas sempre próxima de radicais mascarados, vocifera contra a imprensa e os policiais.
— Ela se destacava porque era articulada, mas só ganhou importância no Ocupa Câmara — diz uma advogada ativista dos direitos humanos ouvida por Zero Hora.
O Ocupa Câmara foi uma invasão à Câmara de Vereadores do Rio, em agosto. Durante o período, iniciado na CPI dos Ônibus, Sininho postou vídeos em redes sociais denunciando ameaças que ela e o namorado vinham sofrendo.
— Ela tem uma condição social boa, que a permite ficar sem emprego fixo. Com tempo livre, acabou aparecendo mais — complementa a mesma advogada.
O apelido Sininho surgiu durante a ocupação. Como todos os invasores tinham apelidos, coube a Elisa, cabelos curtos, aparência frágil, a alcunha de Sininho (ou Tinker Bell) – nome da travessa, irritadiça e solidária fadinha amiga de Peter Pan, na Terra do Nunca. Elisa gostou.
— É bonito o carinho que tiveram comigo — diz aos amigos.
Mas repete:
— Só não vivo na Terra do Nunca.
A ativista diz lutar por um “país livre”, garante que não é anarquista (mas prega o apartidarismo) e assegura que vai a protestos “de cara limpa” (verdade), e de “forma pacífica”. Embora não agrida ninguém, está sempre com mascarados que praticam táticas black bloc.
Se o reconhecimento entre os militantes estava garantido, faltava visibilidade. E ela veio com uma confusão entre PMs e mascarados, apoiados por Sininho, após uma passeata pacífica de professores no Centro do Rio, em outubro. Ao todo, 64 adultos - Sininho entre eles - foram presos e 20 adolescentes apreendidos.
Nos quatro dias que esteve em um presídio, no complexo prisional de Bangu, a jovem, primeiro, dividiu uma cela com oito criminosas. Num segundo momento, permaneceu com outras duas militantes, que ela define como “presas políticas”. Apesar dos direitos democráticos assegurados, do funcionamento pleno da Justiça, da liberdade de expressão garantida e de quase 30 anos de manutenção da democracia no Brasil, a ativista chama os detidos, envolvidos em atos de vandalismo, de presos políticos. São 81 no Rio desde julho.
Ao sair da prisão, viajou para Porto Alegre e participou de assembleia do Bloco de Luta pelo Transporte Público.
— A luta de Porto Alegre nos inspira. É uma cidade muito politizada. Até escolas particulares têm grêmio estudantil — costuma repetir.
A partir daqueles episódios, passou a brilhar em assembleias populares (eventos públicos que reúnem ativistas).
— Quando você vê as classes se mobilizarem, já é uma vitória. Não vamos fazer uma revolução em seis meses, mas colocamos uma plantinha e, aos poucos, com luta...
Mas revolução para implantar o que no Brasil? Socialismo? Anarquismo? Sininho tem dificuldades em expressar o que defende. Não há em todo o planeta um só país que sirva de inspiração para ela.
— É complicado de falar nisso. Não sei definir bem. Só escrevendo.
Entre advogados voluntários, integrantes do movimento Habeas Corpus, a credibilidade de Sininho foi arranhada recentemente. Em janeiro, os profissionais, que se dispõem a defender manifestantes detidos pela polícia em protestos, foram mobilizados pela ativista detida por chamar um policial de “macaco”. O PM havia prendido um jovem, supostamente manifestante, que estava fumando maconha.
Agora, a mais nova enrascada na qual Sininho está metida é a suspeita de que esteja arrecadando dinheiro para financiar protestos violentos. Uma tabela, distribuída por Sininho pelo Facebook, foi divulgada pela revista Veja com o nome de doadores (entre eles, dois vereadores do PSOL, um magistrado e um delegado da Polícia Civil) e o respectivo valor pago por eles. Pelo Facebook, Sininho, que atualmente trabalha com o jornal alternativo Nova Democracia, confirmou as contribuições, mas diz que o dinheiro não foi usado nos protestos. Os recursos teriam sido empregados num evento social.
Para a psicóloga Rosoleta, mãe de Sininho, a filha está fazendo “história” e abusos são cometidos “pela polícia”.
— Sempre teve na história brasileira, de todo o mundo, estudantes lutando por melhores condições de saúde, de educação. Sempre teve. Eu sei que a minha filha participa, como tantos outros jovens, de movimentos legítimos pela educação, pela saúde. Só posso dizer que, às vezes, a polícia vem para cima e muitas pessoas de bem, como professores, médicos e os próprios jornalistas, apanharam da polícia. A polícia parece despreparada para este tipo de movimentos. Ela não pertence a partidos políticos. Ela não quer. Como um grupo de jovens de classe média que não estão querendo mais os partidos políticos como se apresentam. Ela é uma pessoa de paz. Está sentindo imensamente esta morte do cinegrafista (Santiago Andrade). Eu sou solidária e estou triste com tudo o que aconteceu.
— Sempre teve na história brasileira, de todo o mundo, estudantes lutando por melhores condições de saúde, de educação. Sempre teve. Eu sei que a minha filha participa, como tantos outros jovens, de movimentos legítimos pela educação, pela saúde. Só posso dizer que, às vezes, a polícia vem para cima e muitas pessoas de bem, como professores, médicos e os próprios jornalistas, apanharam da polícia. A polícia parece despreparada para este tipo de movimentos. Ela não pertence a partidos políticos. Ela não quer. Como um grupo de jovens de classe média que não estão querendo mais os partidos políticos como se apresentam. Ela é uma pessoa de paz. Está sentindo imensamente esta morte do cinegrafista (Santiago Andrade). Eu sou solidária e estou triste com tudo o que aconteceu."
Para a psicóloga Rosoleta, mãe de Sininho, a filha está fazendo “história” e abusos são cometidos “pela polícia”.
Sininho é filha de Antônio Sanzi, dirigente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, no início dos anos 80, e da psicóloga e professora Rosoleta Moreira Pinto Stadtlander. Na adolescência, ela morou com a mãe e com o padrasto, geólogo da Petrobras, em Macaé, um dos maiores PIB per capita do Rio em função da exploração de petróleo.
E foi em Macaé, como aluna do tradicional Instituto Nossa Senhora da Glória (INSG)/Castelo, onde cursou o Ensino Fundamental, que Sininho militou pela primeira vez. Como não havia grêmio estudantil na instituição salesiana, coube a ela, nos anos 90, organizar alunos para atuar em manifestações com outras entidades estudantis.
— Vim de uma família de petistas — costuma falar ao justificar o engajamento.
Aos 16 anos, quando passou um ano com o pai, em Porto Alegre, Sininho tornou-se presidente do grêmio estudantil do colégio Dom Bosco. A dedicação à causa teve um custo: foi reprovada no primeiro ano do Ensino Médio. — Sempre estive ao lado dos movimentos sociais e dos professores. Mas como sou muito intensa, acabei descuidando com os estudos — confidencia a amigos.
De volta a Macaé, cursou supletivo para concluir o Ensino Médio. Em 2006, ingressou no Curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá. Afastou-se do centros acadêmicos, e mergulhou nos estudos no apartamento locado pela família em Rio Comprido – mesmo bairro da Estácio.
— Na faculdade, ela era uma menina espevitada, posicionada politicamente, muito doce e querida. Era superintensa com as experiências práticas do curso. Não lembro da Elisa como militante de alguma organização — recorda a amiga Raquel Corrêa, 27 anos, que chegou a viajar com Sininho para Macaé e Búzios.
Após a formatura, Sininho trabalhou com pelo menos quatro produtoras de filmes e de comerciais. E passou a viver um dilema:
— Eu não me sentia feliz fazendo propaganda para o capitalismo.
Sócio de uma produtora ouvido por Zero Hora lembra que, após dois meses de trabalho auxiliando na locação de cena para comerciais, ela pediu demissão, há dois anos:— Ela estava visivelmente incomodada. Não tinha o perfil que buscávamos.
Em 2012, a família adquire um apartamento em Copacabana, e Sininho se muda para a Zona Sul. É o período que coincide com a transformação do comportamento dela.
Aproxima-se de ativistas da Frente Independente Popular e da Organização Anarquista Terra e Liberdade (grupos de orientação anarquistas, ultrarradicais, que defendem o emprego de métodos violentos de luta). Torna-se voz ativa em assembleias populares, realizadas em quatro bairros do Rio. Com a explosão dos protestos, em junho, assume a liderança não oficial em manifestações. De rosto limpo, mas sempre próxima de radicais mascarados, vocifera contra a imprensa e os policiais.
— Ela se destacava porque era articulada, mas só ganhou importância no Ocupa Câmara — diz uma advogada ativista dos direitos humanos ouvida por Zero Hora.
O Ocupa Câmara foi uma invasão à Câmara de Vereadores do Rio, em agosto. Durante o período, iniciado na CPI dos Ônibus, Sininho postou vídeos em redes sociais denunciando ameaças que ela e o namorado vinham sofrendo.
— Ela tem uma condição social boa, que a permite ficar sem emprego fixo. Com tempo livre, acabou aparecendo mais — complementa a mesma advogada.
O apelido Sininho surgiu durante a ocupação. Como todos os invasores tinham apelidos, coube a Elisa, cabelos curtos, aparência frágil, a alcunha de Sininho (ou Tinker Bell) – nome da travessa, irritadiça e solidária fadinha amiga de Peter Pan, na Terra do Nunca. Elisa gostou.
— É bonito o carinho que tiveram comigo — diz aos amigos.
Mas repete:
— Só não vivo na Terra do Nunca.
A ativista diz lutar por um “país livre”, garante que não é anarquista (mas prega o apartidarismo) e assegura que vai a protestos “de cara limpa” (verdade), e de “forma pacífica”. Embora não agrida ninguém, está sempre com mascarados que praticam táticas black bloc.
Se o reconhecimento entre os militantes estava garantido, faltava visibilidade. E ela veio com uma confusão entre PMs e mascarados, apoiados por Sininho, após uma passeata pacífica de professores no Centro do Rio, em outubro. Ao todo, 64 adultos - Sininho entre eles - foram presos e 20 adolescentes apreendidos.
Nos quatro dias que esteve em um presídio, no complexo prisional de Bangu, a jovem, primeiro, dividiu uma cela com oito criminosas. Num segundo momento, permaneceu com outras duas militantes, que ela define como “presas políticas”. Apesar dos direitos democráticos assegurados, do funcionamento pleno da Justiça, da liberdade de expressão garantida e de quase 30 anos de manutenção da democracia no Brasil, a ativista chama os detidos, envolvidos em atos de vandalismo, de presos políticos. São 81 no Rio desde julho.
Ao sair da prisão, viajou para Porto Alegre e participou de assembleia do Bloco de Luta pelo Transporte Público.
— A luta de Porto Alegre nos inspira. É uma cidade muito politizada. Até escolas particulares têm grêmio estudantil — costuma repetir.
A partir daqueles episódios, passou a brilhar em assembleias populares (eventos públicos que reúnem ativistas).
— Quando você vê as classes se mobilizarem, já é uma vitória. Não vamos fazer uma revolução em seis meses, mas colocamos uma plantinha e, aos poucos, com luta...
Mas revolução para implantar o que no Brasil? Socialismo? Anarquismo? Sininho tem dificuldades em expressar o que defende. Não há em todo o planeta um só país que sirva de inspiração para ela.
— É complicado de falar nisso. Não sei definir bem. Só escrevendo.
Entre advogados voluntários, integrantes do movimento Habeas Corpus, a credibilidade de Sininho foi arranhada recentemente. Em janeiro, os profissionais, que se dispõem a defender manifestantes detidos pela polícia em protestos, foram mobilizados pela ativista detida por chamar um policial de “macaco”. O PM havia prendido um jovem, supostamente manifestante, que estava fumando maconha.
Agora, a mais nova enrascada na qual Sininho está metida é a suspeita de que esteja arrecadando dinheiro para financiar protestos violentos. Uma tabela, distribuída por Sininho pelo Facebook, foi divulgada pela revista Veja com o nome de doadores (entre eles, dois vereadores do PSOL, um magistrado e um delegado da Polícia Civil) e o respectivo valor pago por eles. Pelo Facebook, Sininho, que atualmente trabalha com o jornal alternativo Nova Democracia, confirmou as contribuições, mas diz que o dinheiro não foi usado nos protestos. Os recursos teriam sido empregados num evento social.
Para a psicóloga Rosoleta, mãe de Sininho, a filha está fazendo “história” e abusos são cometidos “pela polícia”.
— Sempre teve na história brasileira, de todo o mundo, estudantes lutando por melhores condições de saúde, de educação. Sempre teve. Eu sei que a minha filha participa, como tantos outros jovens, de movimentos legítimos pela educação, pela saúde. Só posso dizer que, às vezes, a polícia vem para cima e muitas pessoas de bem, como professores, médicos e os próprios jornalistas, apanharam da polícia. A polícia parece despreparada para este tipo de movimentos. Ela não pertence a partidos políticos. Ela não quer. Como um grupo de jovens de classe média que não estão querendo mais os partidos políticos como se apresentam. Ela é uma pessoa de paz. Está sentindo imensamente esta morte do cinegrafista (Santiago Andrade). Eu sou solidária e estou triste com tudo o que aconteceu.