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quinta-feira, novembro 22, 2012

Surto de mormo no Ceará atinge criação de equinos


Portaria deve proibir eventos equestres na Região Metropolitana de Fortaleza, onde há mais casos da doença

Iguatu O Ceará enfrenta um surto de mormo, uma zoonose, que atinge equídeos (cavalo, burro e jumento) e o homem. Inicialmente, foram confirmados dez casos na Região Metropolitana de Fortaleza, nas cidades de Aquiraz, Caucaia e Horizonte. Onze propriedades estão interditadas. A Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri) é a responsável pela coleta de exames, interdição de propriedades e a eliminação dos animais contaminados. O quadro atual traz preocupação para produtores rurais e para a Adagri.

Agentes da Adagri já vêm realizando o controle de doenças em cavalos. Em 2010, identificou casos de Anemia Infecciosa Equina no Sertão Central FOTO: ALEX PIMENTEL

Hoje ou amanhã deve ser publicada uma portaria da agência que suspende por um período de 60 dias a realização de eventos equestres (vaquejadas, prova de baliza, tambor e cavalgadas) na Região Metropolitana de Fortaleza. A proibição foi validada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

De acordo com o presidente da Adagri, Augusto Júnior, o mormo é uma doença grave e o quadro atual é preocupante. "Estamos com 72 médicos veterinários e uma equipe de fiscais em campo em uma ação efetiva para agirmos com rapidez, interditando propriedades, coletando amostras de sangue para exames e realizando o combate ao foco e às áreas vizinhas", explicou. "Já houve eutanásia (sacrifício) de dez animais".

Até hoje, 150 amostras foram enviadas para o Laboratório Lanagro, em Recife, unidade oficial do Mapa. Dez tiveram resultados confirmados como positivo. São quatro focos confirmados, sendo dois em Caucaia, um em Aquiraz e outro em Horizonte. Como o Ceará passou a ser uma área endêmica, há exigência de que no prazo de 60 dias, novos exames sejam feitos.

Há vários anos que o Ceará não registrava caso de mormo, que é uma doença que remonta ao século XIX e chegou ao Brasil por meio de animais vindos da Europa. Em meados da década de 1980 ressurgiu no Nordeste brasileiro, atingindo animais de trabalho, na Zona da Mata, em Pernambuco. Embora sejam mais resistentes fisicamente, burros e jumentos são mais susceptíveis à doença.

Controle do foco

Em outubro passado, a Adagri passou a ser responsável pelo Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE). Antes, o serviço era realizado pela Superintendência Federal da Agricultura do Mapa, em Fortaleza. As ações da Adagri no combate à doença incluem saneamento do foco, de uma área de raio de 3km da propriedade com animal contaminado, coleta de sangue dos animais circunvizinhos, interdição de propriedades por um prazo de 45 dias e eutanásia dos animais contaminados. Após esse período, é feito novo exame nos animais suspeitos.

Hoje, será realizada às 10 horas, na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece) uma reunião com representantes da Adagri e veterinários para discutir o modo de eutanásia dos animais contaminados. A Adagri optou por uso do rifle sanitário, com tiro a curta distância na testa do animal, mas há quem defenda a utilização de injeção letal. "Nos dois casos não há dor e sofrimento do animal e queremos reduzir o risco de contaminação do técnico", justificou Augusto Júnior.

O mormo e a Anemia Infeciosa Equínea (AIE) são doenças de notificação obrigatória e uma portaria do Mapa determina que os laboratórios devem informar em prazo de 12 horas o resultado do exame para a Adagri e somente em 48 horas ao proprietário. Anteriormente, o resultado demorava até 60 dias para ser informado às autoridades, facilitando a fuga de animais contaminados, em particular no caso da AIE. "Hoje é de imediato", ressalta Augusto Júnior. São realizados dois exames: de coleta de sangue para sorologia e da pálpebra (maleina) com colocação de reagente no olho. O teste é considerado conclusivo para o Mapa.

O trânsito dos equídeos deve ser acompanhado da Guia de Trânsito Animal (GTA) emitida pela Adagri. Até ontem, a agência não tinha informações de casos em outras regiões do Estado. "Os casos verificados estão restritos à Região Metropolitana de Fortaleza", disse Augusto.

A identificação do mormo no Ceará ocorreu graças ao empenho da equipe do PNSE. "Estamos trabalhando intensamente e precisamos do apoio dos proprietários dos animais para manter a saúde dos equídeos e de toda a população", afirma Leonardo Burlini Soares, médico veterinário e um dos coordenadores do programa no Ceará.

Com relação à AIE, Augusto Júnior informou que há no Ceará 1.308 animais contaminados que precisam ser sacrificados. "É um passivo desde 2007", disse. "A demanda está elevada e há dificuldade de localizar esses animais que, às vezes, foram transferidos para outras áreas". A suspeita é de que muitos produtores tentam evitar o sacrifício de animais contaminados com a AIE, pois durante algum tempo a doença não apresenta sintomas. Entretanto há o risco de contaminação de outros animais por meio de mosquito, uso compartilhado de arreios, esporas e ainda de monta.

"Os fiscais estão em campo para verificar hoje o que existe desse passivo acumulado nos últimos cinco anos", explicou Augusto Júnior. No caso da AIE, ocorre a interdição da propriedade que registrar foco, mas não há necessidade de bloqueio de unidades criadoras vizinhas.

Soares faz referência à dificuldade dos fiscais agropecuários de trabalhar nas vaquejadas, já que nem todos colaboram com a fiscalização. "Sem os exames e a GTA não há como saber se o animal está sadio", frisou. Um estudo epidemiológico está em curso para identificar a origem do mormo no Ceará e as vaquejadas podem ser a porta de entrada para a doença no Estado, pois esse tipo de evento atrai animais de outros Estados.

FIQUE POR DENTRO

Infecção ocorre por meio de uma bactéria

O mormo, também conhecido como lamparão, é uma doença infecto-contagiosa que acomete equídeos e tem como agente etiológico a bactéria Burkholderia mallei. É uma zoonose e pode ser contraída pelo homem.

Na década 1960, foi considerada extinta no Brasil. No entanto, estudos sorológicos realizados em 1999 e 2000 detectaram a presença da doença em alguns estados do Nordeste brasileiro.

A infecção por esta bactéria se da através do contato com fluídos corporais dos animais doentes, como: pus, urina, secreção nasal e fezes. Este agente pode penetrar no organismo pela via digestiva, respiratória, genital ou cutânea (através de alguma lesão), alcançando a circulação sanguínea, indo alojar-se em alguns órgãos, em especial, nos pulmões e fígado. Esta bactéria possui um período de incubação de aproximadamente 4 dias. A doença pode apresentar-se na forma aguda ou crônica.

Mais informações:

Adagri Ceará, Avenida Bezerra de Menezes, 1820, (85) 3101. 2500

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER 
 

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