Bruno Góes, O Globo
Gabinete da
Presidência da República. Em São Paulo, por lá, soubemos tratar-se de um
lugar ora chefiado por uma senhora: Rosemary Noronha. Poderíamos
chamá-la de "madame", como gostava de ouvir dos seus subordinados.
Partícipe
de uma quadrilha que constrange qualquer pessoa que acredita numa
República, tinha sob sua administração um bem público, representação
máxima do Poder Executivo.
Pois bem: viu-se que o tal gabinete -
ainda há outro em Belo Horizonte e um a ser inaugurado em Porto Alegre -
é tudo, menos um local público. É um ambiente privado pago com o
dinheiro de todos. Em uma das salas, uma foto imensa de Lula é estampada
numa parede, assim como um santo é reverenciado em uma igreja.
Após
os acontecimentos desencadeados pela Operação Porto Seguro, a imprensa,
por óbvio, foi vigiar a paróquia - quis saber o que acontecia ali
dentro. Já se sabia que o recinto fora bastante utilizado para a
articulação da candidatura de Fernando Haddad.
Este jornalista,
então, resolveu apurar para saber quantas vezes a presidente da
República havia se encontrado com o ex, Luiz Inácio Lula da Silva, no
gabinete.
A resposta? Não poderia ser mais condizente com a constatação de que o que é público foi apropriado pelo governo da vez.
"As
atividades privadas não são divulgadas", diz a PR (Presidência da
República), para citar a sigla do momento. Indago então se é permitido
que haja encontros privados na representação do Executivo. Se sim, quero
saber qual é a justificativa. " Sim, ela pode ter encontros privados".
Por
que? "Ela pode definir o local, que pode ser o Palácio da Alvorada, por
exemplo, que é a sua residência". Digo que não estava tratando da
residência. A PR parece não entender a pergunta. Diz que "a presidente
pode decidir onde quer realizar suas audiências ou agendas privadas".
À
pergunta "quais são os objetivos dos gabinetes fora de Brasília?", a PR
responde: "Aos Gabinetes Regionais compete prestar, no âmbito de sua
atuação, apoio administrativo e operacional ao Presidente da República,
Ministros de Estado, Secretários Especiais e membros do Gabinete Pessoal
do Presidente da República, nas cidades em que se encontram sediados".
Concluo
espantado que a agenda pessoal, privada, está incluída na razão de ser
dos gabinetes detalhada acima. Uma piada de mau gosto.
Posso saber
quantas vezes um ex-presidente, sem estar no cargo, esteve por lá? Não.
A PR, no entanto, diz que os encontros, embora privados, foram
fartamente noticiados. Sugere que eu vá ao Google.
Então ficamos assim: pagamos para sustentar um escritório, mas não podemos saber quem entra e quem sai.
Ficamos
sabendo que lá tinha um braço de uma quadrilha, mas somos impedidos de
saber a rotina de uma, repito, sede do Poder Executivo.
Agora
entendo a frase da madame em grampo que consta dos autos da PF.
Inconformada com a iminente condenação de JD no julgamento do mensalão,
ela diz: "Nós temos que ir para as ruas pela transparência da Justiça.
Vamos parar o Brasil. O PT é bom nisso".
Rose e a PR entendem o conceito 'transparência' no seu sentido inverso. Entendimento digno de uma suntuosa cleptocracia.
Bruno Góes é jornalista