Portaria deve proibir eventos equestres na Região Metropolitana de Fortaleza, onde há mais casos da doença
Iguatu
O Ceará enfrenta um surto de mormo, uma zoonose, que atinge equídeos
(cavalo, burro e jumento) e o homem. Inicialmente, foram confirmados dez
casos na Região Metropolitana de Fortaleza, nas cidades de Aquiraz,
Caucaia e Horizonte. Onze propriedades estão interditadas. A Agência de
Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri) é a responsável pela coleta de
exames, interdição de propriedades e a eliminação dos animais
contaminados. O quadro atual traz preocupação para produtores rurais e
para a Adagri.
Agentes
da Adagri já vêm realizando o controle de doenças em cavalos. Em 2010,
identificou casos de Anemia Infecciosa Equina no Sertão Central FOTO:
ALEX PIMENTEL
Hoje ou amanhã deve ser publicada uma portaria
da agência que suspende por um período de 60 dias a realização de
eventos equestres (vaquejadas, prova de baliza, tambor e cavalgadas) na
Região Metropolitana de Fortaleza. A proibição foi validada pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
De
acordo com o presidente da Adagri, Augusto Júnior, o mormo é uma doença
grave e o quadro atual é preocupante. "Estamos com 72 médicos
veterinários e uma equipe de fiscais em campo em uma ação efetiva para
agirmos com rapidez, interditando propriedades, coletando amostras de
sangue para exames e realizando o combate ao foco e às áreas vizinhas",
explicou. "Já houve eutanásia (sacrifício) de dez animais".
Até
hoje, 150 amostras foram enviadas para o Laboratório Lanagro, em Recife,
unidade oficial do Mapa. Dez tiveram resultados confirmados como
positivo. São quatro focos confirmados, sendo dois em Caucaia, um em
Aquiraz e outro em Horizonte. Como o Ceará passou a ser uma área
endêmica, há exigência de que no prazo de 60 dias, novos exames sejam
feitos.
Há vários anos que o Ceará não registrava caso de mormo,
que é uma doença que remonta ao século XIX e chegou ao Brasil por meio
de animais vindos da Europa. Em meados da década de 1980 ressurgiu no
Nordeste brasileiro, atingindo animais de trabalho, na Zona da Mata, em
Pernambuco. Embora sejam mais resistentes fisicamente, burros e jumentos
são mais susceptíveis à doença.
Controle do foco
Em
outubro passado, a Adagri passou a ser responsável pelo Programa
Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE). Antes, o serviço era realizado
pela Superintendência Federal da Agricultura do Mapa, em Fortaleza. As
ações da Adagri no combate à doença incluem saneamento do foco, de uma
área de raio de 3km da propriedade com animal contaminado, coleta de
sangue dos animais circunvizinhos, interdição de propriedades por um
prazo de 45 dias e eutanásia dos animais contaminados. Após esse
período, é feito novo exame nos animais suspeitos.
Hoje, será
realizada às 10 horas, na Faculdade de Medicina Veterinária da
Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece) uma reunião com
representantes da Adagri e veterinários para discutir o modo de
eutanásia dos animais contaminados. A Adagri optou por uso do rifle
sanitário, com tiro a curta distância na testa do animal, mas há quem
defenda a utilização de injeção letal. "Nos dois casos não há dor e
sofrimento do animal e queremos reduzir o risco de contaminação do
técnico", justificou Augusto Júnior.
O mormo e a Anemia Infeciosa
Equínea (AIE) são doenças de notificação obrigatória e uma portaria do
Mapa determina que os laboratórios devem informar em prazo de 12 horas o
resultado do exame para a Adagri e somente em 48 horas ao proprietário.
Anteriormente, o resultado demorava até 60 dias para ser informado às
autoridades, facilitando a fuga de animais contaminados, em particular
no caso da AIE. "Hoje é de imediato", ressalta Augusto Júnior. São
realizados dois exames: de coleta de sangue para sorologia e da pálpebra
(maleina) com colocação de reagente no olho. O teste é considerado
conclusivo para o Mapa.
O trânsito dos equídeos deve ser
acompanhado da Guia de Trânsito Animal (GTA) emitida pela Adagri. Até
ontem, a agência não tinha informações de casos em outras regiões do
Estado. "Os casos verificados estão restritos à Região Metropolitana de
Fortaleza", disse Augusto.
A identificação do mormo no Ceará
ocorreu graças ao empenho da equipe do PNSE. "Estamos trabalhando
intensamente e precisamos do apoio dos proprietários dos animais para
manter a saúde dos equídeos e de toda a população", afirma Leonardo
Burlini Soares, médico veterinário e um dos coordenadores do programa no
Ceará.
Com relação à AIE, Augusto Júnior informou que há no
Ceará 1.308 animais contaminados que precisam ser sacrificados. "É um
passivo desde 2007", disse. "A demanda está elevada e há dificuldade de
localizar esses animais que, às vezes, foram transferidos para outras
áreas". A suspeita é de que muitos produtores tentam evitar o sacrifício
de animais contaminados com a AIE, pois durante algum tempo a doença
não apresenta sintomas. Entretanto há o risco de contaminação de outros
animais por meio de mosquito, uso compartilhado de arreios, esporas e
ainda de monta.
"Os fiscais estão em campo para verificar hoje o
que existe desse passivo acumulado nos últimos cinco anos", explicou
Augusto Júnior. No caso da AIE, ocorre a interdição da propriedade que
registrar foco, mas não há necessidade de bloqueio de unidades criadoras
vizinhas.
Soares faz referência à dificuldade dos fiscais
agropecuários de trabalhar nas vaquejadas, já que nem todos colaboram
com a fiscalização. "Sem os exames e a GTA não há como saber se o animal
está sadio", frisou. Um estudo epidemiológico está em curso para
identificar a origem do mormo no Ceará e as vaquejadas podem ser a porta
de entrada para a doença no Estado, pois esse tipo de evento atrai
animais de outros Estados.
FIQUE POR DENTRO
Infecção ocorre por meio de uma bactéria
O
mormo, também conhecido como lamparão, é uma doença infecto-contagiosa
que acomete equídeos e tem como agente etiológico a bactéria
Burkholderia mallei. É uma zoonose e pode ser contraída pelo homem.
Na
década 1960, foi considerada extinta no Brasil. No entanto, estudos
sorológicos realizados em 1999 e 2000 detectaram a presença da doença em
alguns estados do Nordeste brasileiro.
A infecção por esta
bactéria se da através do contato com fluídos corporais dos animais
doentes, como: pus, urina, secreção nasal e fezes. Este agente pode
penetrar no organismo pela via digestiva, respiratória, genital ou
cutânea (através de alguma lesão), alcançando a circulação sanguínea,
indo alojar-se em alguns órgãos, em especial, nos pulmões e fígado. Esta
bactéria possui um período de incubação de aproximadamente 4 dias. A
doença pode apresentar-se na forma aguda ou crônica.
Mais informações:
Adagri Ceará, Avenida Bezerra de Menezes, 1820, (85) 3101. 2500
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER