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segunda-feira, setembro 10, 2007

Pecuaristas irlandeses sofrem do 'mal dos desesperados'

Ian Hill*

Não é de hoje, a Irlanda faz campanha contra a carne brasileira. Dona de 15% das exportações de carne bovina dentro da Comunidade Européia, a Irlanda não mede investimentos e usa as mais diferentes estratégias para atacar nossa pecuária. Até o momento, no entanto, apesar do arsenal pesado, os tiros têm saído pela culatra: o Brasil não pára de aumentar suas exportações, inclusive para a Europa.
Nos últimos meses, dois novos ingredientes desse embate ajudaram a mostrar o crescente desespero dos pecuaristas irlandeses, que estão à beira do precipício já que, em breve, devem perder os sagrados subsídios que recebem do governo sem fazer nenhum esforço.
O primeiro novo condimento dessa salada envolve a Associação dos Pecuaristas da Irlanda (IFA). Em julho, o editor de Pecuária da IFA, Justin McCarthy, esteve no Brasil com dois dirigentes da entidade. Objetivo: investigar obscuramente, diga-se de passagem, a pecuária brasileira e retratar seu lado mais tenebroso para se defender do nosso avanço sobre o seu mercado cativo.
A conclusão do jornalista é contundente. Para McCarthy, que elaborou uma série de artigos para a imprensa européia, os quais, no entanto, não obtiveram a mesma repercussão de divulgações anteriores - uma, até, de 2006, da própria IFA -, a pecuária brasileira trabalha sem rastreabilidade, a remoção de brincos dos bovinos é corriqueira, assim como o trânsito animal é ilegal e irresponsável. Além disso, usamos hormônios de crescimento proibidos, há riscos iminentes de novos casos de febre aftosa e por aqui não se sabe o significado de biosseguridade.
A segunda novidade envolve a EBLEX, entidade inglesa com 2.500 associados que defende e define os padrões de qualidade da carne bovina e de ovinos. A última decisão da associação crava uma espada no coração da pecuária brasileira: para ela, carne com gene de bos indicus não tem padrão de qualidade. A EBLEX se apóia em “pesquisas” que apontam que carne de qualidade é de bos taurus (raças de origem européia) e ponto final.
Sabemos bem dos desafios da nossa pecuária e não precisamos que “inimigos” comerciais nos mostrem esses obstáculos, mas, convenhamos os pecuaristas irlandeses estão indo longe demais.
A pecuária brasileira é uma atividade jovem e em crescimento, com gestão profissional crescente. Uma prova irrefutável dos avanços é o espetacular avanço das exportações, mesmo com restrições pseudo-sanitárias impostas por dezenas de países, entre os quais da própria Comunidade Européia.
Salta aos olhos a estratégia dos pecuaristas da Irlanda, país cuja economia é historicamente amparada em subsídios e que está em vias de perder - ou de pelo menos ver reduzida - essa mordomia estatal. Assim como o peixe percebe que precisa se debater para não sucumbir à falta de oxigênio da água, a classe pecuária daquela região movimenta-se como pode para atingir nossa imagem no cenário internacional.
Mas que os problemas identificados pelos irlandeses em nossa terra e a discutível decisão da EBLEX não sejam apenas instrumentos de guerra comercial. Que eles sirvam de alerta para toda a pecuária brasileira e os seus agentes: é preciso fazer a nossa parte e de maneira transparente.
Espero sinceramente que mais esses alertas - mesmo de um concorrente que usa subterfúgios pouco, digamos, profissionais - seja entendido por autoridades, pecuaristas, técnicos, indústrias e demais elos da cadeia pecuária do Brasil. Essas reportagens na imprensa internacional estão ficando repetitivas. Mas, é exatamente por isso que podem começar a fazer sentido. E precisamos fazer tão pouco para evitar esses constrangimentos!

Ian Hill é diretor da Agropecuária Jacarezinho (Valparaíso/SP e Cotegipe/BA).




Legenda da Foto: Ian Hill
Crédito: Divulgação Agropecuária Jacarezinho

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