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segunda-feira, maio 22, 2006

A biotecnologia e a agricultura familiar

A introdução de tecnologias na agricultura familiar poderá ser um instrumento fundamental e decisivo para a contínua e mais eficiente participação deste importante setor do agronegócio no desenvolvimento social e econômico do Brasil. Entretanto, tecnologias devem ser configuradas como parte de uma estratégia de desenvolvimento que requerem uma análise ex-ante em relação a sua natureza e pujança, associadas a um conjunto de intervenções complementares, que permitam maximizar seus efeitos benéficos e mitigar os custos sociais. Apesar de pouco conhecido por algumas camadas da população, o setor da agricultura familiar apresenta uma grande diversidade em relação ao seu meio ambiente, a sua situação e tipos de produtores, à aptidão às terras, à disponibilidade de infra-estrutura, ao acesso ao crédito, às variações econômicas, entre outras. De acordo com o censo agropecuário de 1995/1996 do IBGE, a agricultura familiar representa 85,2% do total de estabelecimentos, ocupando 30,5% da área total. Apesar de receberem apenas 25,3% do financiamento destinado à agricultura, a agricultura familiar tem sido responsável por 37,9% do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária nacional e a principal fonte geradora de empregos no meio rural.

O acesso à tecnologia tem apresentado uma grande variação, tanto entre os agricultores familiares como entre os grandes produtores. A utilização da tração animal ou mecânica ainda é muito reduzida em uma grande parcela dos agricultores familiares, onde apenas 16,7% utilizam assistência técnica, contra 43,5% entre os grandes produtores. O uso da biotecnologia poderá contribuir para a solução de diferentes problemas e amplificar, de forma ainda mais significativa, os resultados atingidos pela agricultura familiar, com profundos reflexos na qualidade de vida do agricultor familiar e no agronegócio moderno.

O uso da cultura de tecidos de plantas viabilizará a produção de mudas sadias e livres de doenças; as técnicas de reprodução na área animal possibilitarão o aumento da produtividade; os kits de diagnósticos serão utilizados para a identificação de doenças; o desenvolvimento de novas vacinas será um importante componente na sanidade animal; a expansão de produção em áreas que não poderiam ser utilizadas no passado, por meio de culturas tolerantes à seca, ao frio e à salinidade; o aumento do valor nutricional de diferentes alimentos; as sementes e o leite natural que agrega medicamentos terapêuticos como hormônios, anticorpos e outras biomoléculas de interesse farmacêutico e industrial; a redução da exposição a resíduos de defensivos agrícolas; o aumento do tempo de maturação de frutos, facilitando sua comercialização; a redução de perdas de pós-colheita; a redução de impactos ambientais, graças à redução da utilização de defensivos; a indução de variabilidade; a biorremediação de áreas alagadas e poluídas; entre outras.

Para países em desenvolvimento como o Brasil, que querem adotar o desenvolvimento de suas próprias capacidades de inovação ou adaptar tecnologias às condições locais, o incremento nos sistemas de pesquisa e desenvolvimento do setor público, focado na produção tecnológica para a solução de demandas, será um ponto fundamental. Devido à importância e à prioridade estratégica, o desenvolvimento de parcerias para o uso de algumas tecnologias deverá ser considerado, com base nos aspectos de propriedade intelectual e biossegurança. Ao longo dos últimos 25 anos, o Estado tem investido no desenvolvimento da biotecnologia, permitindo o domínio de praticamente todas as tecnologias associadas, que poderão servir de base para a geração de novos produtos e processos. Isto tem sido demonstrado pela Embrapa, por meio da produção de plantas de feijão, de batata e de mamão geneticamente modificados, contendo características como resistência a doenças, que contribuirão para a solução de problemas prioritários da agricultura familiar.



Elibio Rech é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)

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